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História de The Last Of Us


Arte produzida pelo @Ericson_Blum


Caro leitor, disponibilizei o texto em formato de pdf aqui, para caso você tenha uma preferência neste tipo de leitura.

Prólogo

Era uma noite muito tranquila, não dava para escutar nenhum tipo de barulho, nem um carro, nem uma mosca, nem mesmo um celular tocando - que é uma raridade por aqui - acho que estava tão calmo que devo ter acabado de dar um cochilo, tanto que nem vi o papai entrando pela porta da frente conversando com o tio Tommy no seu celular porque ele estava tentando fazer o mínimo de barulho possível. 



Às vezes sinto pena dele, pois ele vive trabalhando até tarde que nem consigo o ver durante o dia, mas como hoje é um dia especial, resolvi esperar na sala até que ele chegasse. 


- Tommy eu... Tommy, Tommy, me escuta, ele é o empreiteiro. Ele é o empreiteiro, tá bom? Não posso perder esse emprego. Eu... Eu.... Entendi... Vamos falar sobre isso amanhã, tá? Falamos sobre isso amanhã. Tá bom, boa noite.

Ao concluir a conversa com o tio Tommy, papai pediu licença para sentar-se no sofá e ligou o abajur no criado-mudo.

- Ei - Disse tentando chamar a atenção dele.

- Chega um pouco prá lá. 



Logo quando sentou no sofá, papai aconchegou-se e expressou todo o cansaço que tem. 


- Dia divertido no trabalho, hein? - Tentei iniciar uma conversa.

Ele pôs a sua mão no rosto e disse demonstrando ainda mais o quanto que ele estava cansado.

- O que você está fazendo acordada? É tarde.

- A que droga. Que horas são - me apressei para olhar o relógio que fica logo atrás do sofá. 

- Já passou muito da hora de dormir.
- Mas ainda é hoje.

Me apressei para pegar uma caixa preta que deixei escondida atrás do sofá.

- Querida agora não. Não tenho energia para isso.
- Toma - Apresentei a caixa para ele.
- O que é isso? - Perguntou surpreso.

- Seu aniversário. 


Papai olhou para mim sem saber como reagir, demonstrando uma cara de espanto e felicidade ao mesmo tempo, acho que ele nem se lembrou que hoje era o seu aniversário. E assim ele começou a abrir a caixa bem devagarinho, quando terminou de abrir viu que tinha um relógio dentro dela.
- Você está sempre reclamando do relógio quebrado... Então eu pensei, sabe como é. Gostou? 


Ele começou a colocar lentamente o seu relógio novo, e deus algumas cutucadas.

- Querida é...
- O que?
- É legal, mas eu... - Colocava o relógio no ouvido e não parava de olhá-lo acho que tem alguma coisa errada - Acho que está parado, não está.....
- QUE?! Não não não não - Aquele relógio foi caro pra dedéu, ele não pode pifar assim, nem sei o que faço.... Então peguei o seu pulso para ver o que é que houve......

O papai me deu o seu pulso para ver melhor o que tinha acontecido..... Não era nada, não passava de uma brincadeira boba.

- Ha ha ha muito engraçado - Voltei a deitar no sofá
- Onde você arrumou grana para isso?
- Drogas, eu vendo drogas pesadas.
- Que bom! Pode ajudar na hipoteca então.
- É vai sonhando.

E assim o papai pegou o controle da Televisão e começou a assistir uma partida de futebol. Não sou muito chegada a esportes, mas adorava ficar do lado dele. Apesar de estarmos em uma situação ruim na parte financeira, nós somos bem próximos e não trocaria isso por nada neste mundo.

Algumas horas se passaram e finalmente caí no sono, apesar de estar na sala, senti alguém me carregando até o meu quarto, acho que é assim que funciona o poder de teletransporte. E caí no sono mais uma vez, só que mais profundo.

Mais algumas horas se passaram.

Telefone toca, ele estava fazendo muito barulho e isso me fez acordar na base de susto, por sorte tem uma pequena estante que fica do lado de minha cama, então não precisei fazer muito esforço para atendê-lo, mas quem que poderia ser a esta hora?

- Alô.
- Sarah, querida, preciso que você chame o seu pai no telefone - Era o tio Tommy.
- Tio Tommy, que horas são?
- PRECISO FALAR COM O SEU PAI AGORA. Tem um.... - E caiu a linha de repente.
- Tio Tommy? Alô?

Devolvi o telefone para a sua base original, e comecei a busca pelo papai. Ao sair do meu quarto, comecei a procurá-lo em seu próprio aposento, mas... estava vazio, única coisa "viva" naquele quarto, era a tv que estava ligado no noticiário.

Não tenho o costume de assistir esses programas, pois eles tendem a mostrar o lado ruim da cidade: como assassinatos, roubos, acidentes de tudo quanto é tipo, e vários outros. Mas esta reportagem conseguiu prender a minha atenção, pois ele estava acontecendo perto daqui e a jornalista estava esboçando muito medo em seu rosto e um local em chamas como plano de fundo.

- ...Tudo indica que inicialmente informamos como rebeliões parecem ser algo relacionado à pandemia nacional. Recebemos relatos de que as vítimas afligidas com a infecção mostram sinais de maior agressão e...

Um bombeiro cortou a repórter e alertou a todos que estavam por ali.

- Todo mundo tem que sair daqui agora, tem um vazamento de gás! EI ANDA!

A repórter continuou.

- Tem uma confusão vindo de...
- SAIA DAQUI! MOÇA, SAIA JÁ DAQUI AGORA...

O bombeiro nem conseguiu terminar a sua frase por causa de duas explosões enormes que até dava para sentir aqui em casa. Comecei a vivenciar o medo e o desespero tomando posse de mim, preciso encontrar o meu papai e rápido.

Desci correndo as escadas e fui direto para a cozinha, infelizmente estava deserta e encontrei somente o celular do papai lotado com as mensagens do tio Tommy, não conseguia parar de temer pelo pior.

Em seguida, passei pela sala de estar, e fui direto para o escritório que também estava vazio, mas a única diferença deste cômodo era que eu conseguia escutar algo do lado de fora que se parecia bastante com latido de cachorro, mas cessou de forma instantânea.

Curiosa pelo motivo dos latidos serem interrompido do nada, fui até a porta de vidro aqui do escritório e não conseguia enxergar nada além do beiral, fiquei parada por alguns minutos e vi alguém se aproximando, era o papai.

Papai entrou correndo, foi direto para a escrivaninha, abriu uma gaveta, e apanhou um revólver, quando começou a recarregar ele me perguntou:

- Sarah. Você tá bem? - Esboçando uma preocupação enorme com a minha pessoa.
- Sim...
- Alguém entrou aqui?
- Não, quem entraria aqui? - Comecei a ficar com mais medo, por que alguém entraria aqui? Não temos nada a oferecer.
- FIQUE LONGE DAS PORTAS. Só... Fique aí atrás - Ele estava com as mãos tremendo, nunca o vi desse jeito.
- Papai, você está me assustando. O que está acontecendo?
- São os Cooper. Tem uma coisa errada com eles. Acho que estão doentes.
- Como assim doente?

Algo chegou gritando do nosso lado, dando um murro na porta de vidro e o estilhaçando em seguida.

- JIMMY!
- Pai?

Com um braço o Papai começou a apontar a arma para o nosso vizinho e com o outro o deixou esticado para tentar me proteger, e assim devagarinho fomos recuando. 


O nosso vizinho ficou imóvel diante de nós, com aquele olhar vazio, cheio de sangue e pedaços de carne em seus dentes, era como se tivesse um animal selvagem diante de nós, mas.... Ele é um ser humano.

- Jimmy, estou de avisando... - Papai começou a falar com calma, mais isso não foi o suficiente para o Jimmy, ele começou a vir correndo para nos atacar, mas o papai foi mais rápido e deu três tiros em seu peito.

Jimmy.... Nosso vizinho, era uma pessoa tranquila e amigável sempre me ajudava quando o papai estava fora por muito tempo, me ajudando com o dever de casa, me ensinando a fazer a minha própria comida, e agora....... Ele se foi.

- Meu deus..... - Estava em choque, queria chorar, gritar, mas não fiz nada, fiquei estática atrás do papai, única coisa que me fez voltar a vida real foi ele mesmo que pegou na minha mão e me levou até a sala - Você atirou nele...

Papai colocou suas mãos em meus ombros e disse:



- Sarah.
- Vi ele hoje de manhã - Continuei
- Escuta querida, tem uma coisa muito ruim acontecendo, temos que sair daqui. Está me entendendo? - Falou sussurrando.

Acenei com a cabeça, e fomos correndo para a porta principal, assim que saímos, o tio Tommy estava nos esperando do lado de fora.

- Onde você estava?! Você tem ideia do que está acontecendo lá?! - Disse o tio Tommy levantando a voz.

- Tenho uma ideia - Papai continuou andando e abriu a porta do carro - Vamos, querida. Entra aí. 


Assim que entrei, o tio Tommy notou o sangue que estava na camiseta do papai.

- Minha nossa. Você está coberto de sangue.
- Não é meu. Vamos sair daqui.
- Estão dizendo que metade das pessoas da cidade enlouqueceram.
- Dá para a gente ir, por favor?
- Um tipo de parasita ou algo assim - Continuou o tio Tommy enquanto entrava no carro - Vai me dizer o que houve?
- Bem mais.

Quando o tio Tommy começou a dar ré, ele me cumprimentou.

- Oi Sarah. Como você está querida?
- Estou bem.

Tio Tommy começou a dirigir e assim entramos em uma viagem em direção a fronteira da cidade, para começarmos a procurar refúgio em algum lugar mais afastado possível. Como sabia que a viagem iria ser longa, eu gostaria de retirar ou até mesmo esquecer aquilo que havia ocorrido em casa. Mas, sinceramente? Não, não vou esquecer essa situação toda, mas talvez o rádio consiga me distrair o suficiente.

- Dá para ouvir o rádio? - Perguntei.
- Ah, claro - Respondeu o tio Tommy.

Com a permissão concedida, coloquei minha mão no banco onde o papai estava sentado, e me estiquei para ligar o rádio..... E nada, só estática.

- Sem celular, sem rádio. É, estamos indo bem - Falou o tio Tommy com uma dose de sarcasmo - E nem faz tanta diferença, pois o locutor não calava a boca.
- Disseram para onde ir? - Disse o papai tentando puxar um assunto.
- Ele disse, ah... O Exército está bloqueando as estradas. Não dá para chegar em Travis Country.

- Então quer dizer que temos de sair daqui. Pega a 71. 


Quando o papai terminou de concluir a sua frase duas viaturas de polícia acabaram de passar na nossa frente.

- Disseram quantos morreram? - Perguntei.
- Provavelmente muitos. Encontrei uma família toda desfigurada em casa....
- Tommy. - Papai olhou fixamente para o tio Tommy, sinalizando para ele dar uma maneirada.
- Tá.

Mais algumas horas se passaram enquanto viajávamos, e quanto mais tempo passava, mais viaturas e ambulâncias encontrávamos, se continuar assim a minha ansiedade só aumentará. Tudo piorou quando encontramos a fazenda do Louis em chamas.

O fazendeiro Louis era uma pessoa gente fina, quando estávamos em férias, costumávamos sempre ir em sua chácara para lhe fazer uma companhia e às vezes ele deixava fazer carinho em algumas ovelhas. Mas.... Agora tudo se foi.

- Espero que esse imbecil tenha sobrevivido - Disse o tio Tommy.
- Ah, com certeza.

Mais alguns minutos se passaram, e eu tinha uma dúvida muito forte, precisava sanar ela de alguma forma.

- Será que estamos doentes? - Finalmente perguntei.
- Não - Papai hesitou - Não, claro que não.
- Como sabemos?
- Disseram que são só, hã, as pessoas da cidade, então estamos bem - Disse o tio Tommy.
- O Jimmy não trabalhou na cidade? - Estranho, jurava que ele ficava somente na sua casa.
- Isso mesmo, ele trabalhou - Respondeu o papai - Estamos bem. Confie em mim.

Como ele sabe se estamos bem? Não tem como saber.... Bom.... Acho que ficarei com a minha dúvida para o resto de minha vida. E novamente, mais e mais viaturas apareceram diante de nós, sempre correndo para prestar algum tipo de socorro.

Após algum tempo de viagem, avistamos uma família: de um homem e uma mulher com uma criança em seu colo solicitando por ajuda, tio Tommy começou a desacelerar.

- Vamos ver do que eles precisam - Disse o tio Tommy.
- O que você acha que está fazendo? Continue dirigindo - Papai levantou a voz
- Eles tem um filho, Joel! - Tio Tommy quase soltou um grito.
- Nós também.
- Mas temos espaço - Tentei convencê-lo de que podíamos acolher aquelas pessoas, mas mesmo assim, o papai me ignorou.

Tio Tommy começou a desacelerar mais ainda, e graças a isso, conseguimos ouvir os gritos daquelas pessoas.

- Continue dirigindo Tommy - disse o papai mais uma vez.

Obedecendo as ordens do papai, tio Tommy acelerou e continuou a dirigir com a consciência pesada.

- Você não viu o que eu vi, vai aparecer mais alguém - Papai tentou tranquilizar o tio Tommy.
- Devíamos ter ajudado - Eu realmente gostaria de ter ajudado eles, mas... Não posso fazer nada.

E outra vez, mais uma ambulância passou com pressa em nossa frente, e com mais alguns minutinhos de viagem, um enorme engarrafamento nos impedia de prosseguir.

- Todo mundo e a mãe deles tiveram a mesma ideia - Disse o tio Tommy incrédulo com o que via - Bom, a gente pode voltar e...

A atenção de nós todos foi parar em um carro que estava à nossa frente, pois o motorista estava descendo de seu veículo e quando foi xingar o pessoal que estava em diante de si, ele imediatamente foi atacado por uma pessoa que não o deu um golpe qualquer, mas o esquartejou e devorou ele vivo. E mais outro surgiu e massacrou o passageiro do veículo, tudo isto diante de nossos olhos.

Nunca vimos algo tão brutal assim em nossas vidas, enquanto olhávamos para aquilo horrorizados, o papai foi o único a colocar eu e o tio Tommy de volta para a realidade.

- TOMMY!

Ao recobrar a consciência, tio Tommy engatou a ré e pisou fundo de maneira desesperada, e adentramos na cidade, onde o caos estava ainda pior.

Ao virar a esquerda para a avenida principal, uma van no fim da rua, e inúmeras pessoas desoladas estavam correndo tentando buscar algum lugar seguro.

- Vamos gente. Se mexem.
- De que eles estão correndo? - Perguntei.
- Tira a gente daqui Tommy!
- Tô tentando - Tio Tommy deu uma breve parada, pois as pessoas não o deixavam prosseguir.
- Não podemos parar aqui Tommy - Papai levantou a voz.
- Não podemos dirigir por cima deles. Joel!
- ENTÃO PARA TRÁS!
- Eles também estão atrás de mim.
- ALI, ALI, ALI! - Papai apontou para um espaço ao lado da van para que o tio Tommy ultrapassasse.

Com a ultrapassagem da minivan, não demorou muito para encontrarmos outra bifurcação, e antes que pudéssemos fazer algo, um veículo apareceu do nada, e colidiu com a gente. E desmaiei com a colisão.

Não sei por quanto tempo que fiquei apagada, mas quando acordei, vi um infectado atacando o pessoal do outro carro e o papai desacordado, temendo pelo pior, comecei a agitá-lo.

Demorou um tempinho para ele acordar também. Depois de processar o que havia acontecido, ele começou a chutar o para-brisa, assim o estraçalhando por inteiro. Quando conseguiu recobrar o equilíbrio ele foi atacado, e quando achei que ele seria morto, tio Tommy apareceu para salvá-lo, nunca fiquei tão aliviada em minha vida.

Quando o papai me ajudou a sair do carro, eu comecei a sentir uma dor súbita em minha perna cambaleando para cima dele e caindo em seu colo.

- O que aconteceu?
- Minha perna está doendo - Tive de fazer muita força para aguentar aquela dor terrível.
- Muito?
- Muito.
- Nós temos de correr - Disse o Tio Tommy desesperado.

Vendo que não tinha muita escolha, papai pegou o seu revólver e o deu para o tio Tommy e o pediu para que ele nos protegesse. Ele me apanhou em seus braços e começamos a correr temendo pela nossas vidas.

- Pai, eu estou com medo - Falei.
- Estou com você minha querida, papai vai te proteger.

Enquanto o papai me carregava, vi inúmeras coisas horríveis que ninguém deveria presenciar.

- Feche os olhos meu amor - Papai, não queria que eu visse o que estava acontecendo com as pessoas, mas já era tarde demais, nunca conseguirei esquecer toda esta loucura. Mas, mesmo assim eu os fechei.

E quando os fechei, eu não conseguia deixar de ouvir os gritos de pessoas desesperadas, os berros dos infectados, explosões e várias outras coisas, mas não consegui deixar de acreditar na esperança, graças ao calor e os batimentos cardíacos de meu papai, eu ficava tranquilizada, pois sabia que ele estava lá para me proteger.

Depois de um certo tempo de corrida, consegui ouvir o tio Tommy falando para avançarmos pelo beco, e quando o papai adentrou neste lugar escuro, uma pessoa começou a atacar o meu pai novamente, mas desta vez ele não conseguia se defender por minha culpa, e imediatamente fomos salvos graças ao tio Tommy.

"Vamos sair dessa Sarah", eu prometo, o papai ficava dizendo esta frase para mim sem parar, eu não o culpo, fico bem feliz que ainda estamos juntos. Ao adentrarmos ainda mais pelo beco escuro, avistamos a parte de trás de um restaurante italiano e assim que entramos, inúmeras pessoas infectadas começaram a tentar arrombar a porta. Tio Tommy ficou para trás com a arma na mão se apoiando na porta para que os infectados não entrem.

- VÁ PARA A RODOVIA! - Gritou ele.
- Que?!
- Vai... Você tem a Sarah! Eu consigo fugir deles!
- TIO TOMMY! - Não acredito que o tio Tommy vai ficar para trás.
- Encontro você lá!
- RÁPIDO!

Papai atravessou a porta da frente correndo, e como não dava para avançar nas ruas por causa dos infectados, ele escolheu pegar um caminho alternativo passando pelo meio do bosque, mas sem perder o ritmo, ele continuou correndo.

Quanto mais ele corria, mais e mais infectados começaram a brotar atrás da gente, quando achei que estaríamos acabados, uma figura misteriosa na nossa frente começou a abater os infectados. Uma luz bem forte estava atrapalhando nossa visão, e quando ele desligou a lanterna revelava um soldado do Exército, agora estamos salvos!

- EI! - gritou o papai - Precisamos de ajuda.
- Parem aí! - O soldado apontou a arma para nós.
- Por favor, é a minha filha. Acho que ela quebrou a perna - Disse o papai se aproximando lentamente do soldado.
- PARADO AÍ!
- Olha.... Não estamos doentes.... - Papai começou a recuar devagarinho, com medo do que poderia acontecer.

O soldado pôs a sua mão em seu ouvido e disse:

- Tem alguns civis no perímetro externo - Parece que estava conversando com alguém no rádio - O que devo fazer?
- Papai, e o tio Tommy? - Não conseguia parar de esboçar preocupação com o tio Tommy, o que aconteceria conosco se ele morresse?
- Vou deixar você em um lugar seguro e volto para buscá-lo, tá bom?
- ... Senhor tem uma garotinha... Mas... Sim senhor.
- Olha amigo, passamos pelo maior perrengue. Tá bom, só precisamos... - O papai nem teve tempo de terminar a frase pois o soldado começou a apontar a arma para nós - Ah, merda!

Tiros, e mais tiros saíram daquela arma, o papai até tentou desviar, mas perdeu o equilíbrio no processo e caímos separados, quando atingi o chão, não conseguia mais me mexer, não sabia o porque, mas... Uma dor enorme atingiu o meu abdômen, então... Descobri imediatamente que havia sido atingida.

Eu estava focando as minhas forças na resistência contra a dor, mas mesmo assim não conseguia conter as minhas lágrimas e nem os gemidos, então, com os meus olhos, comecei a minha procura pelo papai e logo vi que o soldado havia encurralado ele. Felizmente o tio Tommy apareceu na hora certa e o salvou da morte, e assim começaram a me procurar.

Logo no momento que o tio Tommy havia me visto, ele esboçou tristeza em seu olhar, e o papai ouviu o meu gemido de dor, logo em seguida veio correndo para prestar socorro.

- Sarah?! - Ao me alcançar, papai colocou sua mão em cima de meu abdômen para tentar estancar o sangramento - Ok. Mexa as mãos querida. - Eu não conseguia controlar as minhas mãos e comecei a tatear o rosto do papai - Eu sei, querida. Eu sei.... - Ele começou a chorar, pela primeira vez eu vi ele se sentindo impotente - Me escuta, eu sei que isso dói, querida. Você vai ficar bem, querida. FIQUE COMIGO - Ele colocou seus braços em volta de mim - Tá vou pegar você.

Não consegui conter a o grito de dor, e ele me soltou imediatamente, mas sem me deixar cair no chão, sempre me mantendo por perto..

- Eu sei querida. Eu sei que dói - Enquanto gritava de dor, senti uma vontade súbita de dormir.

Antes de dormir, eu só podia fazer uma coisa para que o papai não sentisse culpa pelo resto de sua vida. Então, com todas as minhas forças restantes, disse a ele:

- E....u...... te.......am......o.

Capítulo 1

Vinte anos se passaram desde a morte de minha pequenina Sarah, muita merda aconteceu, eu e o Tommy fomos imediatamente para a rodovia e por lá testemunhamos várias famílias sendo dizimadas pelos infectados e comecei a acreditar que este mundo não tem salvação, até mesmo pensei em cometer suicídio, mas felizmente havia o meu irmão para me ajudar nos momentos mais difíceis.

Com o passar dos anos, Tommy e eu começamos a nos transformar em "caçadores", ou seja: Caçamos, torturamos, matamos, roubamos e enganamos inúmeras pessoas diferentes somente prezando pela nossa sobrevivência. 

Inevitavelmente fomos parar na cidade de Boston, e aí que toda merda aconteceu. Primeiro, encontramos Marlene, a líder dos vagalumes, que acabou persuadindo o Tommy a se juntar a eles e agora a única coisa que sei sobre ele, é que mora em Wyomming e que tinha abandonado os Vaga-lumes.

E assim, fiquei sozinho outra vez. Depois de alguns dias, encontrei uma mulher bonita de cabelos pretos chamada de Tess (confesso que ficamos bem próximos) e começamos a agir como contrabandistas.

Trabalhamos para várias pessoas, tanto para amigos, ou para babacas, mas a única pessoa deste mundo que me irritou e incomodou por tanto tempo, é o otário do Robert. Esse malandro nos enganou tantas vezes, que até roubou nossa mercadoria, ah mas esse idiota me paga.

Depois de um certo período de trabalho, conseguimos um lugar "seguro" para se morar, não é o melhor local do mundo, pode dizer que é até um dos piores que já morei, pois o território que vivemos é um território tomado pelo governo. Logo após a epidemia se espalhar pelo mundo inteiro, os países de primeiro mundo conseguiram "sobreviver" por assim dizer, e ao invés de cuidar de sua população, eles implantaram uma ditadura, impondo leis desnecessárias e cruéis. Chegando a um ponto em que fazem execuções ao ar livre, só para que todos não venham desobedecer às suas ordens.

Em um dia qualquer, eu acordei na base do susto por causa dessas execuções que sempre escuto barulhos de tiro e acabo revivendo o momento da morte de minha querida Sarah, cara.... Que saudades daquele seu sorriso...

Logo após o meu despertar, ouvi alguém batendo na porta, e quando o abri, a Tess entrou dentro de casa com um rosto machucado.

- Como foi a sua manhã? - Perguntou ela abrindo uma garrafa de uísque - quer um?
- Não quero não, obrigado - Fui pegar um pano úmido para limpar as feridas da Tess.
- Tenho uma notícia interessante para você.
- Aonde você estava Tess? - Perguntei irritado.
- Distrito de West End. Tínhamos uma entrega para fazer.
- Nós - me aproximei dela e dei o pano - Nós tínhamos uma entrega para fazer.
- É, bom, você queria ficar sozinho lembra?
- Bom, deixa eu adivinhar. Deu merda no negócio todo, e o cliente fugiu com as nossas pílulas. É isso?

A Tess deu uma breve risada, como se estivesse caçoando de mim

- Não deu problema nenhum no negócio. Temos cartão de comida para alguns meses, fácil.
- Quer me explicar isso aí? - Apontei para a sua cútis.
- Eu estava voltando para cá e fui atacada por dois babacas, ok? É, eles acertaram alguns socos em cheio. Mas... - Deu uma breve pausa - Olha, eu consegui!
- Me dá isso aqui - retirei o pano de sua mão e comecei a limpar seu machucado - Esses babacas ainda estão conosco?
- Hmph! Que engraçado.
- Pelo menos descobriu quem eram?
- Sim, eles eram dois manés, aff. Não importa eles - Ela retirou a minha mão de seu rosto e ficou de pé diante de mim - O que importa é que a porra do Robert mandou eles.

Que?! Ele nos descobriu? - Pensei neste exato instante, não tinha como ele nos descobrir, mas se ele mandou atacarem a Tess, significa que ele mandará mais pessoas atrás da gente.

- O nosso Robert? - Precisava confirmar isso.
- Sim, ele sabe que nós estamos atrás dele. Ele acha que vai nos pegar primeiro.
- Aquele filho da puta é esperto.
- Não. Não é tão esperto - Tess começou a sussurrar - Sei aonde ele está escondido.
- Sabe nada.
- Armazém antigo na Área 5, mas não sei por quanto tempo.
- Bom, eu estou pronto agora.
- Ah, então o que estamos esperando?

Com a conversa em dia, nós começamos a procurar o Robert. De início fomos até o posto de controle para darmos o fora desta área, mas fomos surpreendidos por um ataque de uma gangue de ladrões. E como a saída foi bloqueada, adentramos em um prédio e prosseguimos por uma área secreta escondida atrás de um armário, mas antes um dos guardas nos relatou que os vagalumes - mais precisamente a Marlene - estavam procurando pelo Robert. O que o Robert fez agora? Agora não é hora de criar perguntas, vamos finalmente poder recuperar a nossa mercadoria perdida e dar o fora daqui.

Ao prosseguirmos nesta área secreta, peguei a minha mochila com os meus equipamentos básicos de sobrevivência, uma pistola - nunca se sabe quando precisa né? - e uma lanterna. Quando conseguimos sair da passagem, passamos por um antigo café aqui da cidade e seguimos dentro de um prédio escuro lotado de esporos, coloquei a minha máscara e deixei a lanterna ligada para enxergar o que havia em minha frente mas infelizmente tive de tomar muito cuidado, pois haviam infectados no local, felizmente, a Tess e eu passamos tranquilamente.

Não demorou tanto para chegarmos na área dos armazéns, e aí a caçada ao Robert começou. Tivemos de matar inúmeros de seus capangas, e passar sorrateiramente em alguns momentos, mas finalmente conseguimos fazer contato com o próprio Robert e a sua maneira de nos dar as "boas vindas" não é a das melhores, primeiro, ele nos recebeu com tiros e depois tentou fugir pelo beco, mas o cara é tão sortudo que a porta que dava para saída estava trancada, vendo que ele não tinha como fugir, a Tess começou a falar.

- Oi, Robert.
- Tess, Joel - ele se virou e começou a olhar nos nossos olhos, como se nada tivesse acontecido - Sem ressentimentos certo? - Começou a se aproximar.
- Nenhum - a Tess pegou um pedaço de cano que estava em seu pé.
- Tudo bem - continuou, quando ele percebeu o que estavas na mão da Tess, tentou fugir, mas sem sucesso, ela conseguiu quebrar a sua perna, e o mesmo gritou de agonia enquanto caia no chão - AH.... DROGA!

A Tess largou o cano, e continuou a falar com ele.

- Sentimos a sua falta.
- Olha, não sei o que vocês ouviram, mas não é verdade - tentou se virar para encarar a Tess - Só quero dizer isso.
- As armas. Quer nos dizer onde estão as armas? - A Tess estava impaciente.
- Sim, claro mas... É complicado tá bom? Olha me escutem... Eu... Eu tenho.....

Dei um chute bem forte em seu estômago, acho que ele entendeu que não estamos aqui só para brincar. Me agachei e estiquei seu braço direito, dando uma pequena forçada para que não o quebre, mas... Se ele não nos der a resposta que queremos, não terei muita escolha.

- Para de se contorcer - Disse a Tess se agachando - O que estava dizendo?
- Eu vendi elas.

Eu e a Tess nos entreolhamos sem acreditar no que ouvimos.

- Como é que é? - Ela perguntou.
- Eu não tinha escolha, tinha uma dívida.
- Você tem uma dívida conosco. Você apostou no cavalo errado.
- Só preciso de mais tempo - Robert respirou fundo, mas no fundo ele já sabia o que a Tess e eu faríamos - Me dá uma semana.
- Olha, eu até podia fazer isso se você não tivesse tentado me matar.
- Qual é, não é que...
- QUEM TÁ COM AS NOSSAS ARMAS?

Ele respirou fundo mais uma vez e se recusava a nos contar e ainda nos pediu alguns dias. Como eu não queria ouvir ele dizer isso, quebrei o seu braço. Senti prazer em ouvir o seu grito de dor, acho que agora ele aprende que não deve mexer conosco.

- Quem está com as nossas armas? - A Tess perguntou mais uma vez.
- Os Vaga-lumes. Eu devia aos Vaga-lumes.
- O QUE?! - Não conseguimos acreditar que o Robert devia aos Vaga-lumes, agora que não iremos recuperar as nossas armas.
- Olha, quase todos eles estão mortos. Podemos - deu uma breve respirada - Ir lá de uma vez, acabar com eles. E pegar as armas. O que acham? - Ele nos implorou para que o poupássemos - Que se fodam os Vaga-lumes, vamos pegar eles!

Olhei para a Tess e começamos a nos levantar mas quando ela começou a pegar a sua arma, imediatamente, já sabia o que ela tinha em mente, então deixei ela fazer as honras.

- Essa é uma ideia muito idiota - Em seguida, deu dois tiros na cabeça do Robert.
- Bom, e agora? Queria saber do plano para recuperarmos as nossas armas das mãos dos Vaga-lumes.
- Vamos pegar a nossa mercadoria de volta - A Tess começou a saquear o equipamento do cadáver de Robert.
- Como?
- Sei lá. Explicamos a eles - A Tess começou a olhar pra mim com um sentimento de desânimo - Olha, vamos procurar um Vaga-lume.

Não precisou de muito tempo para aparecer uma mulher de pele parda e ferida na nossa frente, era a Marlene.

- Você não precisar ir muito longe - Ela me reconheceu.
- Bom, aí está, a rainha Vaga-lume - A pessoa que menos queria ver neste mundo, mas vou deixar para a Tess resolver isso.
- Por que você está aqui? - Ela expressou um olhar de confusão misturado com surpresa.
- Negócios - Disse Tess acenando com a cabeça - Você não me parece muito bem - apontou para o seu abdômen.

Ignorando o comentário da Tess, a Marlene começou a olhar para os arredores e perguntou sobre o paradeiro do Robert e em seguida, descobriu que o cadáver era ele.

- Preciso dele vivo - Soltou uma risadinha, acho que ela não quer aceitar que é realmente ele.
- As armas que ele te deu, não eram dele. Quero elas de volta.
- As coisas não funcionam assim Tess.
- Ah, são sim!
- Eu paguei por essas armas - Marlene se aproximou da Tess - Você quer elas de volta? Tem que merecer! 

Tess olhou para mim meio confusa, sem saber o que dizer. Não queríamos trabalhar novamente com os Vaga-lumes muito menos criar laços com eles, então ela tentou fazer uma barganha.

- Tá, de quantos cartões estamos falando?
- Esses cartões de comida não me interessam.... Preciso tirar uma coisa da cidade. Faz isso e devolvo as suas armas e muito mais.
- Como sabemos que você está com elas? - Fui me aproximando de Marlene, a desafiando-a - Pelo que sei, os militares estão acabando com vocês.
- É, você tem razão - Foi muito doloroso para ela admitir - Vou mostrar as armas.

Logo na sala ao lado apareceram alguns soldados do Robert conversando, acho que escutaram os tiros que a Tess deu então vieram procurar por ele, temos que sair daqui e rápido.

- Tenho de ir embora, e então como vai ser? - A Marlene começou a recuar.
- Eu quero ver as armas - Disse a Tess olhando pra mim
- Ok.
- Então tá, sigam-me - Disse a Marlene liderando o caminho.

Como os homens do Robert estavam se aproximando demais, Marlene nos levou mais a fundo do beco, quanto mais avançávamos, dava para se notar que existia um acampamento imenso por ali, junto de umas caixas de madeira bem pesadas, talvez fossem do Robert, mas não mantive isso na cabeça, e continuei seguindo a líder dos vaga-lumes. 

Não demorou muito para começarmos a subir o telhado de uma construção próximo ao beco, com um certo avanço, dava para se ter uma vista boa da cidade e de uma explosão.

- Caramba, essa é a sua gente? - Perguntou a Tess surpresa com o que viu.
- É o que sobrou deles, por que vocês acham que pedi a ajuda de vocês?
- Por que agora? - Perguntei a ela.
- Estávamos quietos, planejando sair da cidade, mas eles precisam de um bode expiatório. Eles estão tentando nos provocar - Com "eles" ela se refere ao governo. Como os Vaga-lumes lutam pela "libertação do povo", os militares tentarão fazer de tudo para os impedir- Nós estamos tentando nos defender.

Com um pouquinho a mais de avanço, nós acabamos de entrar dentro de um edifício que levava diretamente para uma ponte, mas a Marlene nos impediu de prosseguir.

- Esperem. Soldados - Eu e a Tess nos aproximamos da Marlene para que pudéssemos escuta-lá sussurrando - Aquela é a saída. A porta embaixo da ponte - Apontou para a porta, que está uns 50 metros de distância com um único guarda a protegendo.
- Não gostei dessas chances - Complementei.
- Podemos passar sem nos verem, mesmo que esse não seja o seu estilo.
- Vamos ver o que acontece. Vamos continuar - Tess completou.

Apesar de só um guarda estar visível, isso não significa que ele seja o único dali, enfim, sem nenhum tipo de escolha, deixei as mulheres irem na frente e as complicações começaram a aparecer.

Ao subir as escadas para o próximo andar, apareceram dois guardas na nossa frente, apesar de eu e a Tess acabarmos com eles, outros três guardas apareceram e nos avistaram, e assim começa o tiroteio.

Foi bem complicado desviar destes tiros, mas não impossível. Como tinha vários militares, nós começamos a nos apressarmos para chegar até a porta e quando chegamos a tranquei com um armário bem pesado, isso vai nos arranjar um tempo.

- Aonde estamos indo Marlene? - Perguntou a Tess.
- Por aqui.

O lugar parecia um antigo depósito para armazenar equipamentos de engenheiro, dava para se notar inúmeras caixas de cimento, blocos de concreto e andaimes espalhados pela área.

Com a Marlene liderando, a Tess pergunta sobre o estado dela, mas ela evita falar sobre isso.

- Então tá, o que estamos contrabandeando?
- Vou mostrar.

Para quê esse mistério todo? Por que ela não pode nos dizer o que iremos contrabandear? Todo esse segredo está me deixando maluco, será que vai ser uma tarefa tão difícil assim? Ao avançarmos mais um pouco, passamos por uma cozinha industrial e em seguida a Marlene caiu no chão, quando fui ajuda-lá a se levantar uma criança surgiu do nada e me atacou com uma pequena navalha, a Tess segurou a mão dela com a intenção de me defender.

- Solta ela - Disse Marlene
- Tá recrutando gente muito jovem demais, né? - Soltei um comentário sarcástico em cima disso, mas não me importava.
- Ela não é das minhas - Marlene estava tentando se levantar enquanto a garotinha a ajudava.
- O que aconteceu? - Perguntou a garota.
- Ah, não se preocupe. Dá para consertar. Consegui ajuda - Ela olhou para mim e pra Tess. - Mas não posso ir com você.

A garota olhou pra Marlene incrédula com que ouviu.

- Então eu vou ficar.
- Ellie, não vamos ter outra chance.
- Ei... Vamos levar ela? - Me aproximei delas, não conseguia acreditar que iremos contrabandear uma pessoa.
- Uma equipe de Vaga-lumes vai encontrar vocês no congresso.
- Quê!? Isso não é muito perto - A Tess também não conseguia acreditar naquilo.
- Vocês conseguem. Vocês entregam ela, voltam e as armas são suas. O dobro do que o Robert me vendeu.
- Falando nisso, onde elas estão? 
- No nosso acampamento.

É muita baboseira, essa missão tem um risco muito grande, o pior de tudo é que nem sabemos se essas armas existem. Como vamos aceitar uma tarefa se nem sabemos se iremos ser recompensados?

- Não vamos levar nada até eu ver elas.

A Tess e a Marlene se olharam de uma maneira muito fria, mas como ela estava ferida, ela aceitou a proposta.

- Vocês me seguem, podem verificar as armas, e eu posso fazer um curativo. Mas ela não vai cruzar até essa parte da cidade. Quero que o Joel cuide dela.

- Ô, não acho que isso seja uma boa ideia.
- DE JEITO NENHUM! EU NÃO VOU COM ELE.

Pelo menos eu e a Ellie pensamos juntos, nem a pau que vou brincar de babá.

- Ellie... - Marlene começou a encarar a Ellie.
- Como você conhece eles? - Perguntou a Ellie com ar desconfiada.
- Eu era amiga do irmão dele, Tommy. Ele disse que se eu tivesse problemas, podia confiar nele.
- Isso foi antes ou depois dele abandonar o seu grupinho? - Não gosto que citem o Tommy pois as lembranças são bem dolorosas e ainda não consigo lidar bem com o passado.
- Ele também abandonou você... - Parece que o meu comentário conseguiu irritar a Marlene - Ele era um homem bom...

Mesmo a Marlene dizendo tudo aquilo, a Ellie não conseguia aceitar a ideia de abandonar a sua querida amiga.

- Olha, leva ela para o túnel do norte e me espera lá - Disse a Tess cochichando para mim.
- Meu Deus - ainda não acreditava que a Tess ainda aceita essa ideia toda.
- Ela é só uma carga Joel.
- Marlene... - A Ellie começou, mas foi imediatamente cortada por Marlene.
- Chega de falar - Começou a perder o fôlego - Você vai ficar bem, agora vá com ele.
- Tá bom Tess, só não demora - Custou para aceitar os fatos, mas vou entrar na jogada dela - E você - apontei para a Ellie - Não se afasta.

Ao sairmos do edifício, Ellie e eu presenciamos inúmeros cadáveres de antigos membros dos Vaga-lumes caídos no chão, ela até demonstra uma preocupação sobre eles, mas não consegue dizer uma palavra pois eu a peço para que fique quieta. Apesar de eu agir de maneira fria, eu prezo pela nossa sobrevivência e não vai ser hoje que irei morrer por causa de uma garotinha.

Durante o percurso, vimos inúmeros veículos militares rondando a área, mas conseguimos desviar com muita facilidade por causa das pequenas muretas espalhadas pelo município. Tivemos de voltar para os telhados, e ao entrarmos dentro de um prédio, a Ellie perguntou sobre o túnel do norte.

- Esse túnel. Você usa para contrabandear coisas?
- É.
- Coisas ilegais?
- Às vezes.
- Você já contrabandeou uma criança?
- Não, esta é a minha primeira vez - Dei uma pequena pausa e perguntei uma coisa pra ela - E qual é a sua relação com a Marlene?
- Eu não sei. Ela é a minha amiga, eu acho.
- Sua amiga, né? Você é amiga da líder dos Vaga-lumes. Quantos anos você tem, doze?
- Bom, ela conhecia a minha mãe e ela está me procurando. E eu tenho catorze anos, não que isso importe.
- E onde estão os seus pais?
- Onde estão os pais de todos? Eles se foram há muito tempo.
- Humm. Então em vez de ficar na escola, você decidiu fugir e juntar-se aos Vaga-lumes, é isso?
- Olha. Eu não posso contar o por que de você está me levando, se é isso que você quer saber.
- Quer saber qual é a melhor parte do meu trabalho? Não preciso saber o por quê. Para dizer a verdade, eu não estou nem aí para você.
- Que ótimo. - Ela levantou um pouco a voz, parecendo como se estivesse alegre, isso demonstra que ela também não liga pra mim.
- Legal.

Enquanto avançávamos ainda mais dentro do prédio, conseguimos chegar na minha casa. Ao passar pela porta, despejei a minha mochila em cima da mesa, e me joguei no sofá e o arrumei de leve para dar um cochilo.

Confuso com que estava fazendo, Ellie olha para todos os lados e pergunta.

- O que você está fazendo?
- Matando o tempo - Disse fechando os olhos.
- Bom o que eu faço?
- Tenho certeza de que vai achar algo.

Já estava de olhos fechados quando escutei alguns passos espalhados pela casa.

- Seu relógio está quebrado - Foi a última coisa que ouvi antes de cair no sono.

Capítulo 2


Algumas horas se passaram e acordei de novo na base do susto. 

- Você fala enquanto dorme - Diz Ellie me olhando da poltrona atrás de mim vendo a chuva e a cidade através da janela - Odeio pesadelos.
- É eu também - Esfreguei meus olhos e fiquei sentado no sofá.

Comecei a me levantar e fui ver o que a Ellie estava olhando na janela.

- Sabe, nunca estive tão perto, do lado de fora - Ellie estava apreciando a vista escura e chuvosa da cidade - Ei, olha como é escuro. Não pode ser muito pior lá - Fui acender a lamparina enquanto a escutava, logo após isso ela se levantou e perguntou - Pode?

- Afinal, o que os vagalumes querem com você? - Apesar de ter dito mais cedo que não ligava o porquê de a contrabandear, ainda não consigo acreditar que devo arriscar a minha vida por causa de uma garota de catorze anos.

Nem deu tempo da Ellie me responder antes de que a Tess chegasse em casa.

- Desculpe a demora, tem soldados em toda parte.
- Como está a Marlene? - Perguntou Ellie.
- Ela vai ficar bem - Tess começou a olhar pra mim - Eu vi a mercadoria. Tem muita coisa. Quer fazer isso?

Não, mas como a Tess estava muito entusiasmada, não tinha como recusar, então acenei com a cabeça, e fomos para o outro quarto para irmos até a avenida que dava ao congresso. Mas antes de sairmos, tinha de fazer uma pergunta a Tess.

- Não acha estranho nos mandarem fazer o contrabando?
- A Marlene queria fazer isso sozinha. Não fomos a primeira opção deles... E nem a segunda. Ela perdeu muitos homens, então não tinha muita escolha.
- É espero que tenha alguém vivo para nos pagar.
- Alguém vai estar lá.

Com a conversa concluída, nós entramos dentro de uma passagem secreta dentro de meu quarto, era um caminho relativamente honesto, primeiro tinha de ativar um gerador para ligar o elevador e após isso comecei um diálogo com a Tess.

- Quem está esperando na entrega?
- Ela disse que tem uns Vaga-lumes que vieram de outra cidade - encarou a Ellie - A garota deve ser importante. Qual é o seu problema? Você é filha de algum figurão ou algo assim?
- Algo assim - A Ellie falou de uma maneira desanimada eu acho.

Quando descemos do elevador e prosseguimos a saída, Ellie perguntou mais uma coisa:

- Quanto tempo vai demorar isso?
- Se tudo sair como planejado, vamos chegar em poucas horas. Antes que eu me esqueça, quando pisarmos do lado de fora, quero que você fique próxima e nos obedeça tá bom?
- Sim, claro.

Ao sairmos do lado de fora, fomos recepcionados imediatamente pela chuva e a Ellie estava lá, estática apreciando o momento.

- Minha nossa... Eu tô do lado de fora mesmo.

Achei estranho de primeiro momento, mas segui em frente. Como nós saímos em uma avenida toda destruída tínhamos de tomar muito cuidado extra por causa da exposição em que nos encontrávamos. Enquanto andávamos em um pequeno rio, tivemos que atravessar por uma carroceria, mas caímos em uma emboscada feito por dois militares.

Primeiro fui acertado na cabeça, e enquanto estava no chão o outro militante apontou a arma para a Ellie e Tess, às dizendo para fazer nenhuma idiotice e em seguida pediram para que todos ficassem de joelhos.

- Examine eles - falou um dos soldados.
- Certo - disse o outro cara enquanto pegava uma máquina de escâner.

Uma maneira de descobrir se alguém estava infectado sem ter de revistar uma pessoa, é através de uma pequena máquina que faz um rápido diagnóstico, dizendo se o indivíduo contém o fungo dentro de si ou não.

Primeiro, fizeram um diagnóstico na Tess: Nada, o próximo era eu, também deu em nada. Mas quando foram fazer na Ellie, ela sacou uma pequena adaga e a enfiou no joelho do soldado, reagimos rápido o suficiente para que acabássemos com todos eles. Infelizmente havia reforços a caminho.

No momento que conseguimos matar todos, a Ellie ficou assustada e disse:

- Ah droga! Achei que a gente só ia... Segurá-los ou algo assim.

A Tess pegou a máquina do soldado morto e ficou espantada com o diagnóstico da Ellie, fui correndo para ver o que era e... Ela está infectada.

- Puta merda. A Marlene armou pra gente? - Não conseguia segurar a minha indignação - Por que estamos levando uma garota infectada?
- Não estou infectada - A Ellie ficou imediatamente com medo.
- Não? E isso daqui é mentira? - Joguei a máquina pra ela.
- Eu posso explicar.
- É melhor explicar e rápido - A Tess começou a apontar a arma.

A Ellie arregaçou a manga de sua blusa exibindo uma cicatriz de mordida em seu braço.

- Olha isso
- Não me importa como se infectou - Me recusava a ver aquela mordida, pois qualquer momento ela poderia se transformar e matar todos nós.
- Já tem três semanas.
- Não, todo mundo se transforma em dois dias. Então para de mentir - Disse Tess.
- Tem três semanas. Eu juro. Por que ela armaria para vocês?

Eu e a Tess nos entreolhamos sem acreditar no que ouvia nem no que vimos, realmente, não sabíamos como lidar com isso. A garota estava certa, apesar de haver desavenças comigo e Marlene, ela não tem motivos para armar para a gente, principalmente quando o seu grupinho está morrendo. Infelizmente não tínhamos muito tempo para ficar de brincadeira, pois um veículo militar estava vindo em nossa direção.

Começamos a correr, como a avenida estava toda danificada, indiquei um buraco para pularmos, e ficamos no nível que seria um esgoto, acreditava que era mais fácil para nos escondermos, mas estava um pouco enganado. 

Para a nossa sorte, estava tudo escuro, então passar sem ser percebido não era um problema tão grande, escutamos inúmeros veículos pela área, passos de vários soldados com lanternas, mas nosso maior problema era a própria chuva, que cria poças e imediatamente fazíamos barulho ao pisar nelas.

Foi uma tarefa muito complicada e só depois de muita paciência conseguimos passar por eles. Enquanto avançávamos, conseguimos ouvir algumas conversas deles, e a Marlene estava certa, o governo utilizava os Vaga-lumes como um bode expiatório para acabar com eles de uma vez, nem mesmo pensavam que éramos um bando de ladrões.

Enquanto prosseguíamos avistamos uma entrada para os esgotos e assim continuamos pelo caminho escuro e fedorento. Conseguimos encontrar um pequeno ponto de encontro e fomos adiante com o caminho. E quando finalmente ficamos em segurança, abri uma porta que levava para a fora do esgoto e comecei a verificar o local.

- Beleza eles já foram - Falei aliviado.

A Ellie sentou para dar uma respirada, e a Tess agachou para ficar na altura dela.

- Então... Qual era o plano? Nós entregamos você aos Vaga-lumes. E depois?
- A Marlene disse que eles tem uma área de quarentena própria, com médicos que ainda tentam achar a cura - Disse Ellie ofegante.
- É, a gente já ouviu isso antes, né Tess? - Eu não acho que a Ellie tem os anticorpos necessários, mas vou entregar ela aos Vaga-lumes e seguir com a minha vida.
-... E então, o que aconteceu comigo é a chave para descobrir a vacina - Concluiu a Ellie
- Ah caramba, tenho certeza disso. - Não conseguia acreditar no que ouvia, o pior que a Tess estava lá, parada só escutando.
- Ah cara vai se foder. Eu não pedi por isso - A Ellie se levantou quase gritando comigo.
- Nem eu - Fui andando até a Tess, passando direto pela Ellie - Tess, que merda estamos fazendo aqui?
- E se for verdade? - A Tess começou a falar com calma.
- Não acredito - Até a Tess começou confiar nisso, não creio.... Fui me afastando lentamente dela com a mão no rosto.
- E se for Joel? - Tess começou a se aproximar de mim - Já chegamos até aqui. Então vamos até o fim.
- Preciso lembrar você do que tem lá fora? - Arrastei a Tess para conversarmos em paz, sem que a Ellie escutasse.

Tess voltou seu olhar para a Ellie e concluiu com a seguinte frase: "Eu já sei", voltou a olhar pra mim com um olhar raivoso e continuamos com a nossa aventura.

- Por aqui - Tess apontou para um prédio enorme que estava na nossa frente - Se formos pelo centro, chegaremos ao congresso antes do amanhecer.
- Esperamos.

Com esse clima tenso entre mim e Tess, prosseguimos passando pela cidade sonolenta, passamos por uma ponte, e ficamos de frente a um prédio.

- Noossaa, é assim que os prédios são de perto? Eles são tão altos - Acho que ela nasceu em uma zona rural, não é possível que ela nunca tenha visto um prédio. - Então, o que aconteceu aqui?
- Eles bombardearam as áreas ao redor das zonas de quarentena, para matar o maior número possível de infectados. Bom, funcionou.... Por um tempo - Disse Tess enquanto olhava os arredores.
- Entendi.

Ao avançar mais um pouco, ouvimos um grunhido estranho de um estalador.

- Ãh, o que foi isso? - Ellie estava começando a ficar preocupada.
- Tess você ouviu isso?
- Sim, mas parece que veio de longe.
- Merda - Temos de nos apressar, se não vamos nos tornar banquete.
- E estamos seguros?
- Por enquanto, vamos! - Tess fez um gesto com a sua mão nos indicando que a área a frente estava seguro.

Ao apertarmos o nosso passo, encontramos uma cratera na nossa frente, e uma pequena vista do prédio do congresso, estamos perto.

- Esse era o centro da cidade? - Perguntou Ellie enquanto apreciava a vista.
- "Era". Agora é um deserto gigante.

Enquanto a Tess procurava uma forma de passar daquele buraco, eu fui buscar uma passagem ao nosso lado, e este caminho dava direto para um prédio todo perpendicular. Infelizmente, ele é a nossa única rota para o nosso objetivo.

Ao entrarmos no prédio, somos imediatamente recebidos com um cadáver fresco de um militar esquartejado, e quando avançamos por um lance de escadas, encontramos outro corpo na mesma situação. Temos de sair daqui, e logo.

Avançamos mais um pouco e encontramos outro cadáver mas não estava esquartejado, este estava todo coberto de fungo rígido, como se estivesse ali por muito tempo. Como ele estava impedindo a nossa passagem, tive de fazer muita força para tirá-lo de lá.

- Nossa, o que aconteceu com a cara dele? - Perguntou Ellie.
- É o resultado de anos de infecção - Disse Tess.
- Então eles são cegos?
- Por aí. Eles enxergam pelo som.
- Como morcegos?
- Como morcegos. Se ouvir um "estalo", se esconde imediatamente. É assim que eles acham você.

Ao avançarmos mais um pouco, o prédio inteiro começou a se mexer, como se estivesse pronto a cair a qualquer momento. Mais um motivo para andarmos logo. Conforme explorávamos o local, cada vez mais ele se agitava, mais cadáveres iam surgindo, e também encontramos alguns lanchinhos espalhados por aí, não sei dizer se estão bons para se comer, mas é melhor que nada.

Chegou um momento que encontramos uma porta emperrada, e pedi a Tess que me ajudasse, assim que a abrimos, um estalador surgiu do nada e me agarrou, tive que fazer muita força para que esta coisa não me morda, por sorte a Tess estava ali para dar uma força.

Após agradece-lá, continuamos nossa jornada dentro daquele prédio. Enquanto subíamos em um quarto sem teto, inúmeros outros estaladores começaram a aparecer e nos procurar. Tess jogou uma garrafa para guiar o estalador para que não fique em nosso caminho, e assim prosseguimos tentando fazer o mínimo de barulho possível, e outros estaladores apareceram dentro do cômodo.

Passamos por um sufoco para evitá-los, se bobear, utilizamos todas as garrafas e tijolos que havia naquele cômodo até termos de pular um andaime e ficar de frente com as escadas que levavam até os andares inferiores, mas tudo bem, o que importa é que nos safamos. 

No momento em que nos sentíamos seguros, Tess perguntou a Ellie.

- Ellie, você tá bem?
- Sujei as calças, mas... Tô bem.

Ao descer as escadas, conseguimos descer somente um andar, pois o resto delas estava bloqueada, então a Tess teve a brilhante ideia de avançar pelos andaimes laterais de prédios.

- Ahh, isso é loucura - Disse a Eliie olhando para a Tess no andaime.
- É só não olhar pra baixo - A Tess estava tentando se manter calma enquanto olhava o tamanho da queda.
- Quê? Tá falando sério? - A Ellie não conseguia acreditar no que via.
- Vamos garota - Eu disse a Ellie.

Infelizmente não tinha outro caminho, tivemos que passar por três andaimes barulhentos que tremiam a cada passo e andar no parapeito só para descer três andares, quem tem prisão de ventre vai sarar rapidinho.

Ao voltarmos para dentro do prédio novamente, não consegui conter o meu alívio e vi que todos sentiam a mesma coisa. Mas não era a hora de comemorar, pois tinha corredores por perto, falei para as duas ficarem paradas que eu ia verificar.

*Antes de mais nada, tenho de deixar um adendo para que não fique muito confuso a questão de infectados. Primeiro: "corredores", eles são basicamente pessoas infectadas que enxergam e correm muito rápido; enquanto "estaladores" são corredores, com uma carapaça na cabeça que os impossibilita de enxergar, mas fazem um tipo de estalo a cada passo dado, para tentar adivinhar como é a área ao seu redor* 

R
esolvi descer e começar a procurá-los, fui tomando cuidado com os corredores e estaladores espalhados por aí, então comecei a abater primeiro os corredores - pois eles são mais fáceis de matar de maneira furtiva - e depois fui para os estaladores, infelizmente eles foram mais difíceis porque tive de utilizar a minha munição e consequentemente me expor para mais estaladores, ainda bem que tinha um cadáver com uma pistola por perto, se não estaria ferrado.

Enfim, com todos os inimigos mortos, nossa jornada pelo prédio abandonado estava perto de seu fim. Conforme avançávamos a Tess começou a conversar comigo.

- Olha, eu tava pensando... Quando a gente voltar, pode descansar um pouco.
- Você quer descansar?
- Ah, é você que sempre fala em dar um tempo.
- E você sempre me corta.
- Bom, dessa vez não.
- Eu só acredito vendo.

Era difícil ver a Tess falando essas coisas, mas depois de passarmos por tudo isso por causa da Ellie, acho que nós dois precisamos de descanso.

Quanto mais descíamos, mais os raios de sol penetravam o prédio destruído e junto a isso, rugidos de corredores misturado com o rangir dos canos, o ambiente ficou bem mais assustador que antes, mas sem escolha nenhuma, tivemos de prosseguir mesmo assim.

Não sei como, mas conseguimos descer até uma estação de metro da antiga cidade e encontramos um outro cadáver, mas desta vez era de um vaga-lume, e em suas mãos havia um coquetel molotov. Com mais um pouco de avanço encontramos umas lojinhas com alguns suprimentos, e uma outra enxurrada de estaladores e corredores estavam no nosso caminho.

Prosseguimos eliminando os inimigos e apanhando itens necessários, e avançando de maneira bem furtiva conseguimos passar por todos eles, chegando finalmente do lado de fora.

- Minha nossa, conseguimos mesmo - Comentou Ellie aliviada.
- Tá todo mundo bem? - Perguntei.
- Sim. Vamos lá - Completou e continuou indo na frente sem parar.
- Vocês são muito bons nisso - Disse Ellie surpresa com o nosso desempenho.
- Isso se chama sorte e isso vai acabar - Falei em direção a Ellie.

Acho que a Tess ficou um pouco brava comigo por ter sido grosso com a Ellie, mas tentando evitar este assunto, a questionei sobre o nosso caminho e ela continuou liderando, tivemos de passar por ruas bloqueadas por carros até que uma avalanche de corredores recém transformados viessem atrás da gente e nos forçar a se abrigar dentro de um museu que também haviam estaladores dentro dele.

Ao abrirmos uma porta, tivemos de prosseguir agachado por causa dos entulhos, e assim que a Tess e a Ellie passaram primeiro, uma pequena parte desses escombros desmoronou e assim separou nossos caminhos. Graças ao barulho deste desabamento, inúmeros estaladores foram alertados e elas tiveram de fugir.

Tenho de acha-lás e rápido, foi o único pensamento que tive naquele momento, então, fui avançando de maneira furtiva e eliminando os estaladores que ficavam no meu caminho, e ao chegar no segundo andar, consegui escutar vários estaladores indo em uma direção só. Fui correndo para prestar socorro e imediatamente vi a Tess sendo atacada por um corredor e o eliminando em seguida.

- Eu tô bem - Disse ela ofegante, sabendo exatamente o que eu ia perguntar.

Logo após de reencontrar a Tess, conseguimos escutar o grito da Ellie na sala ao lado.

- GENTE ENTREM AQUI!
- A garota! - Gritou a Tess.

Quando encontramos a Ellie, ela estava segurando um corredor com os seus braços me dando a oportunidade de abate-lo e assim o fiz. Nem deu tempo de respirar direito porque começou a chegar mais e mais corredores e estaladores, então, se quiséssemos prosseguir, tínhamos que acabar com eles. E começa a nossa luta.

Tivemos de utilizar tudo que a sala disponibilizava para nós, como cadeiras, vasos, os próprios objetos em exposição, tijolos, e até mesmo os próprios infectados para sobrevivermos, depois de uma intensa batalha, fui conversar com a Tess que não parecia nada bem.

- Tess você está bem?
- Só um pouco sem fôlego - Disse ela ofegante.
- Por aqui - Apontou para a janela - Por aqui chegamos ao telhado.

Fomos ao telhado, e quanto mais a Tess andava, mais cansada ela ficava, não conseguia parar de pensar se ela foi mordida ou algo assim, mas provavelmente não, acho difícil que ela tenha abaixado tanto a guarda a este ponto. Ao colocarmos o nosso pé no telhado, peguei uma tábua que estava no chão e conectei os dois prédios.

- Tudo bem - Terminei de aprontar a tábua - Ellie, tome um pouco de cuidado quando subir porque é um pouco.... - Ellie prosseguiu sem nem mesmo olhar pra mim.

Agora é a minha vez, e quando cheguei ao lado de Ellie, percebi que ela estava espantada com o nascer do sol, era uma vista linda.

- Bom, é tudo que você esperava? - Perguntei a ela.
- Bom, ainda está em aberto. Mas, cara... Essa vista é o máximo.
- Vamos, por aqui - A Tess estragou o momento nos apressando.

Fiquei com os braços cruzados de maneira pensativa estranhando todo aquele comportamento dela.

- Ei, vamos rápido!

Quando estava andando até as escadas, ela começou a falar comigo.

- Estamos quase lá. Não se distraía.
- Sim senhora.

Com mais alguns minutos de caminhada finalmente conseguimos chegar até o congresso e na frente dele havia um pequeno rio.

-  Parece que é raso no lado direito. Me sigam - Disse Tess para a Ellie.
- Que bom que a Marlene contratou vocês - Disse Ellie contente.
- Como assim?
- Eu sei que vocês estão sendo pagos pra isso, mas... Eu... Estou tentando agradecer.
- É claro.

Com o fim da conversa entre as garotas, chegamos finalmente no congresso e ao abrir a porta, só nos deparamos com cadáveres de vaga-lumes.

- NÃO, NÃO NÃO! - Gritou Tess desesperada começando a ver se tinha alguma alma viva no meio a tantos corpos.
- O que fazemos agora? - Perguntou Ellie.

Eu não sabia o que responder, mas precisava saber o que a Tess estava fazendo.

- O que você está fazendo Tess? - Perguntei.
- Meu deus. Talvez eles, hã, tenham um mapa ou algo que nos mostre aonde estavam indo.
- Até onde vamos com isso?
- ATÉ ONDE FOR PRECISO - Tess olhou pra Ellie - Onde era o laboratório deles?
- Hã... Ela nunca disse. Ela só disse que era algum lugar no oeste.
- Tess - Comecei - O que estamos fazendo aqui? Nós não somos assim.
- O que sabe sobre nós? - Perguntou ela se levantando irritada - Sobre mim?
- Sei que você é mais inteligente que isso.
- Ah, é? Adivinha só, somos uns fudidos Joel. Faz tempo que é assim - Ela estava soando meio decepcionada.
- NÃO, somos sobreviventes.
- É a nossa chance...
- ACABOU TESS - Soltei um grito - Nós tentamos. Vamos logo para casa.
- Não... Não vou a lugar nenhum, é a minha última parada - Disse ela com lágrimas nos olhos.
- Que? - Não estou entendendo mais nada agora.
- Nossa sorte acabaria cedo ou tarde - Ela foi se distanciando de mim.
- O que você está dizendo? - Comecei a pegar na mão dela.
- Não. Não... - Deu um pequeno tapa na minha mão - Não toque em mim.

Ellie olhou fixamente para a Tess tentando entender as coisas e finalmente disse.

- Minha nossa... Ela está infectada - Ela estava com um olhar de enorme tristeza em seus olhos.

Não conseguia acreditar naquilo, e me afastei um pouco da Tess.

- Joel...
- Deixa eu ver.
- Eu não queria que... - Ela estava quase chorando.
- Me mostra!

Tess puxou a gola de sua blusa para a direita e consegui ver com clareza a mordida, e estava puramente infeccionado deixando a pele em carne viva.

- Minha nossa... - Não conseguia esconder o espanto em meu rosto.
- Opa, né? - Ela foi se afastando de mim e pegou o braço da Ellie - Mostra o seu braço - arregaçou as mangas da blusa da menina e apontou pra mim - Isso foi há três semanas, eu fui mordida há uma hora e já está pior. ISSO É REAL JOEL - Deu uma breve pausa - Você tem que leva-la ao Tommy. Ele andava com essas pessoas. Ele sabe aonde ir.
- Não não não não, essa missão era sua. Eu não vou fazer isso.
- Você vai sim. Passamos por coisas suficientes para que sinta que tem uma dívida comigo. Leve ela até o Tommy.

Quando a Tess parou de falar, conseguimos escutar vários veículos de militares estacionando no lado de fora, estávamos em uma armadilha.

- Eles estão aqui - Disse Tess decidida - Posso ganhar tempo, mas vocês têm que correr.
- Quê?!
- Quer que a gente deixe você aqui?! - Ellie não queria deixar mais ninguém para trás.
- Sim.
- Mas de jeito nenhum - Também não queria deixar ninguém, muito menos a Tess.
- NÃO VOU VIRAR UMA DESSAS COISAS - Tess se aproximou de mim, e não conseguia conter mais as suas lágrimas - Vai, não dificulte as coisas.
- Eu... posso lutar.
- NÃO, VAI EMBORA - Tess, me empurrou pra longe e apontou a sua arma pra mim - Vai de uma vez.

Olhei para ver se ela tinha certeza do que queria, ela acenou com a cabeça, sem muito o que fazer chamei a Ellie e me despedi da Tess.

- Desculpe, não queria que fosse assim - Concluiu a Tess.

Agarrei o braço da Ellie, e me apressei para sair daquele cômodo, e assim que chegamos nos fundos, só escutei os tiros e um corpo caindo pesadamente no chão... E assim.... Estou sozinho de novo.


Capítulo 3

Ao conseguirmos nos distanciar da sala principal do prédio do congresso, Ellie soltou uma indignação.

- Mas que droga! Não acredito que fizemos isso.
- Para.
- Nós deixamos ela morrer.
- Para com isso! Fica perto de mim, agora temos de sair daqui.
- Oh, cara...

Conforme íamos avançando, dava para se ouvir vários soldados dentro do prédio e eles sabiam que nós estávamos vivos, então.... Ultrapassar de maneira furtiva não iria ser fácil. No meio de nosso caminho encontrei um rifle com algumas balas sobrando e agora consigo abater os inimigos relativamente longes. Bom, é melhor que nada.

E assim, começou nossa jornada. Para encontrar o Tommy, irei precisar de um carro e a única pessoa deste mundo que me possa me arranjar um é o Bill. Como ele me deve uns favores acho que vou lhe fazer uma visita, mas primeiro temos de sair daqui.

Já que
Ellie e eu estávamos encurralados dentro do prédio cheio de militares, comecei eliminando alguns furtivamente, e depois de descoberto, troquei tiros com alguns deles até a saída. Nem conseguimos respirar direito quando um enorme veículo militar surgiu atrás nós e nos forçou a ir pelas linhas férreas subterrâneas de um antigo metrô.

Ao descermos as escadas, continuamos sendo perseguidos pelos militares, mas tive de fazer uma pequena pausa para por a máscara por causa dos esporos, e arrastei a Ellie para ficarmos escondidos no meio da escuridão.

Ao olhar para ela, fiquei surpreso ao ver que ela não tinha posto uma máscara.

- Como você consegue respirar? 
- Eu não estava mentindo para você.

Não deu muito tempo para conversarmos, pois surgiu dois soldados de máscaras procurando por nós, os eliminei de maneira furtiva, esperei um pouco para ver se apareceriam mais e.... Nada, acho que a barra está limpa.

Começamos a avançar naquele túnel escuro, ao passar por alguns vagões de trem encontramos uma área completamente inundado, como a Ellie não sabe nadar, tive de pegar um palete para ajuda-lá na travessia, e depois de mais algumas horas, finalmente conseguimos sair daquela espelunca.

Retirei minha máscara para sentir aquela gostosa brisa de verão, e sentei em um pé de uma árvore para dar uma leve respirada. Ellie colocou suas mãos no quadril e ficou lá me encarando, e finalmente disse algo:

- Olha, hã... Sobre a Tess... Eu nem sei o que...
- Olha só - a cortei imediatamente, antes que dissesse alguma besteira - As coisas vão ser assim. Você não fala da Tess... Nunca. Acho melhor não falarmos das nossas histórias. Segundo, não conte a ninguém sobre o seu estado, vão pensar que é louca ou vão tentar te matar. E por último, você faz o que eu disser, quando eu disser. Entendeu?

Ellie assentiu olhando para o chão, acho que ela não pegou o recado.

- Repita!
- O que disser é uma ordem - Remexeu a cabeça enquanto falava.

Estava com muita raiva, não acredito que a Tess vai me obrigar a completar essa missão, mas fazer o quê? Se esse é o desejo dela, irei cumprir... Então me levantei, e comecei a contar o meu plano para a Ellie.

- Bom, tem uma cidade a alguns quilômetros ao norte. Tem um cara que me deve uns favores, é provável que ele nos consiga um carro.
- Certo.
- Vamos nessa.

Tivemos de caminhar por algumas horas na rodovia principal, e passar por um pequeno bosque - que a Ellie gostou muito e até ficou surpresa quando avistou alguns vaga-lumes de verdade - para chegarmos até a cidade de onde o Bill morava, e como estávamos em uma área desconhecida, começamos explorar o lugar por suprimentos.

Primeiro paramos em um pequeno bar abandonado com uma máquina de Arcade junto de um enorme logo do The Turning e a Ellie ficou parada apertando os botões.

- Você já jogou isso? - Perguntei a ela.
- Não. Mas tinha um amigo que manjava tudo sobre esse jogo. Ah, parece que tem uma personagem chamada Angel Knives que... Ah, como é que é? Ela fazia um buraco no seu estômago e depois cortava sua cabeça com um chute.
- Eu nunca fui muito fã dessas coisas.
- Eu queria saber jogar...

Depois encontramos um pequeno quintal com alguns gnomos e a Ellie acabou comentando que gosta mais deles do que as fadas. E com mais alguns passos pela rua encontramos uma barricada enorme, feito com ônibus abandonado e algumas telhas.

- É... é um trabalho do Bill.
- Mais alguém mora nessa cidade?
- Que eu saiba só ele.

Como a estrada estava bloqueada, tivemos de passar por um pequeno beco, mas fomos surpreendidos por um estalador que surgiu do nada e explodiu também.

- Nossa! - Estava com os olhos arregalados de espanto, quando olhei para Ellie ela estava com a mesma cara.
- Uau! Quê? Que diabos foi isso?
- É... Mais uma armadilha do Bill.
- Seu amigo é meio paranóico, né?
- Você está sendo gentil.
- Qual é desse cara?
- Ele nos ajudou a trazer umas coisas pra cidade. Ele sabe como achar coisas.
- É, espero que a gente não exploda tentando achar ele.
- Só olhar onde pisa que você vai ficar bem.

Logo depois de presenciar aquela explosão, fomos parar em uma antiga loja de música, que ainda tinham instrumentos e alguns discos ainda intactos.

- Uau! Olha esse lugar - Disse Ellie com os olhos brilhando enquanto explorávamos o local.

Fui procurando algo útil para levarmos, mas infelizmente não tinha nada. Quando voltei a me encontrar com a Ellie para retornarmos a nossa busca pelo Bill, ela ainda estava olhando para os discos e a loja como um todo, até que soltou um comentário.

- Cara, isso é meio triste.
- O quê?
- Toda essa música aqui parada. Sem ninguém para ouvir. Não sei. Isso não é certo.

Decidi ficar quieto em relação a isso, e então continuamos a nossa procura e novamente tivemos de passar por um outro beco com uma armadilha instalada, e falei o seguinte para a Ellie:

- Tá vendo esse cabo? Fique embaixo dele, com a cabeça baixa, e vai ficar tudo bem.
- Tá bom.

Ao caminharmos um pouquinho mais no beco, encontramos um cadáver com uma flecha cravado nele e uma outra barricada, mas desta vez tinha uma escada que nos ajudou a passar com mais facilidade, e assim prosseguimos por alguns telhados.

Conforme explorávamos a cidade abandonada, eu tinha de deixar uma questão muito clara com a Ellie:

- Escuta. O Bill não é, exatamente, um cara muito estável. Quando chegarmos lá, deixa que eu falo. Entendeu?
- Entendi.
- Isso tem que ficar claro, ele... ele não gosta muito de estranhos.
- Tá bom.
- O Bill é um cara legal mas... Ele precisa de um tempo para conhecer você.

Com tudo esclarecido, continuamos a nossa pequena aventura. Tive de explodir algumas armadilhas manualmente, e depois de muita caminhada, fomos parar em um antigo galpão com uma porta fechada, e quando a abri, consegui enxergar um enorme mecanismo que amarrou a minha perna e me deixou pendurado enquanto uma geladeira caía. Porra Bill!

Se não fosse pela Ellie, eu teria ficado pendurado balançando o tempo inteiro ela me segurou e perguntou:

- O que aconteceu?
- É só mais uma armadilha IDIOTA do Bill! 

Enquanto olhava em volta para bolar um plano, vi uma geladeira com uma corda amarrado em sua volta, falei para a Ellie que aquele era o contrapeso e imediatamente ela foi cortar a corda. Mas tínhamos de ser rápidos, pois graças ao barulho ele atraiu inúmeros infectados que estavam circulando pela área. Então saquei a minha arma, e comecei a atirar naqueles que se aproximavam de nós dois. Foi muito complicado mirar de cabeça para baixo, mas fazer o que né? Não tinha muito a se fazer.

Eram muitos deles, pedi a Ellie que puxasse um pouco a corda para que os infectados não me alcançassem, mas não sei como ela conseguiu derrubar a geladeira me deixando muito no alto e ela ainda mais exposta.

Ela me jogou toda a munição que carregava consigo, e assim continuou a cortar a corda. Depois de muito tempo, conseguiu me soltar, e quando cai no chão um infectado conseguiu subir em cima de mim, e no momento que pensei que ia morrer, um cara com um facão aparece e me salva da morte certa.

Enquanto via aquele infectado caído no chão, o cara com cabelos grisalhos e com máscara de gás me ajuda a levantar, e assim nos guia para um lugar seguro. Tivemos de correr muito para ir no esconderijo daquele indivíduo.

Quando finalmente estávamos em um lugar seguro, a Ellie para e comemora.

- Cara... foi por pouco.

O homem para e se aproxima dela.

- Ah... Valeu! Pelo heroísmo e tal - Ellie continuou.

O homem retirou a sua máscara revelando ser o Bill e encara a Ellie. Ela estica a sua mão para cumprimentá-lo e é imediatamente presa com algemas em um cano ao lado.

- O que você está fazendo - Disse Ellie com medo - Me solta!
- Bill!
- Vira pra lá e fica de joelhos - Bill apontou a sua arma pra mim.
- Espera, fica calmo.
- Vira pra lá e fica de joelhos - Ele dá um chute na minha perna fazendo eu ficar de joelhos - Não força a barra
- Só fica calmo.

Ele começou a me revistar a procura de mordidas. Mas a Ellie não ficou parada, ela achou que o Bill ia nos matar e então começou a puxar o cano em que estava presa para usá-lo como arma.

- Tem alguma mordida? -Perguntou Bill.
- Não.
- Alguma coisa brotando?
- NÃO, droga, eu tô limpo!
- Se eu vir algum espasmo... - Nem deu tempo do Bill completar a sua frase antes da Ellie o acertar com o cano enferrujado - Ai!

Corri para a impedir que ela mate o Bill, então tomei o cano de suas mãos e o joguei no chão.

- Filha da puta - Disse o Bill agonizando.
- TERMINOU? - Fui me aproximando lentamente de Bill.
- Se eu terminei? Vocês entraram na minha casa, detonam as armadilhas, e quase quebram o meu braço bom. Quem é essa pirralha e o que ela está fazendo aqui?
- Quem eu sou não é da sua conta e estamos aqui porque você deve favores ao Joel, pode começar tirando isso - Disse Ellie muito irritada apontando seu braço algemado para o Bill.
- Eu devo favores ao Joel, isso é piada?
- Eu vou ser direto. Preciso de um carro.
- É piada mesmo. Joel precisa de carro - Bill começou a afiar seu facão - Bom, se eu tivesse um carro, o que é claro que eu não tenho, por que eu daria ele pra você? Hã? Claro Joel, vá em frente pega meu carro. Aproveite e pega a comida também...
- Olhando você, parece que precisa de uma dieta - Ellie aproveitou o momento para zoar o Bill.
- Escuta aqui, sua merdinha... - Bill apontou sua faca a ela.
- FODA-SE VOCÊ ME ALGEMOU... - Fiquei na frente dela e comecei a empurrá-la para trás e ficar um pouco longe do Bill.
- Eu preciso que você fique quieta, tá bom?

Graças a minha atitude deixei o lugar um pouco mais calmo, e fui me aproximando de Bill.

- Qualquer favor que você pensa que eu devo não vale tanto - Começou ele.
- Na verdade. Bill,vale sim.
- Não importa, porque eu não tenho um carro funcionando.
- Mas tem algum na cidade.
- Peças. Tem peças na cidade.
- Significa que poderia consertar um.

Ele ficou um pouco pensativo, começou a guardar as suas coisas e me mostrou um mapa cheio de rabisco da cidade.

- Tá, vou fazer isso. Vou precisar de alguns materiais, mas eles estão do outro lado da cidade - Começou a apontar para uma escola - Você me ajuda a buscar eles, e talvez possa montar alguma coisa que funcione. Mas, depois disso, não te devo nada - Socou a mesa revelando uma chave das algemas em sua mão.
- Tudo bem - Apanhei a chave - Acho que vamos morrer em alguns dias mesmo - Libertei o braço de Ellie e a mesma ficou muito satisfeita.
- Beleza, vamos lá.

Antes de sairmos, Bill deixou que pegássemos seus suprimentos e antes de mais nada, ele comentou algo a mais.

- A cidade inteira está cheia de armadilhas, então não me percam de vista.
- Seria difícil - Disse Ellie.

Nós fomos sair pelo telhado, e assim atravessamos inúmeros prédios, que graças ao próprio Bill, ele montou pontes para facilitar a locomoção pela cidade que nos ajudou e muito a evitar os infectados, enquanto prosseguíamos o mesmo começou uma conversa.

- Em que problema você se meteu? Onde está a Tess?
- É um trabalho, só uma entrega.
- O que vai entregar? - Deu uma pequena pausa para pensar - Essa pirralha?
- Haha. Foda-se também - Disse a Ellie.

Bill soltou uma gargalhada que ecoou pela cidade inteira e concluiu com o seguinte:

- Espero que você saiba o que está fazendo.
- Esse cara tá brincando... - Ellie começou a falar de novo, e antes de eles começarem a brigar de novo, descontinuei a conversa.
- Para onde vamos Bill?
- No meu outro esconderijo. Tá mais para arsenal.
- Peraí, achei que a gente ia consertar um carro - Comentou Ellie.
- Nós? Sabe consertar um...?
- Bill... Só.... - Não sabia o que dizer, parece que esses dois não vão se entender mesmo...
- Como eu disse, precisamos de coisas do outro lado da cidade. Eu nunca vou para esse lado porque está cheio de infectados. Vamos precisar de mais armas.
- Certo.

Tivemos de atravessar muitos prédios para conseguirmos chegar em nosso objetivo, e no caminho passamos por um restaurante de um dos edifícios.

- Shh. Tem um aqui dentro - Comentei em relação a um barulho de algo se quebrando.
- Ah... Eu estava querendo arrumar isso. Relaxem, não é nada - Disse o Bill tranquilo - Ah, e você também não respondeu a minha pergunta sobre a Tess. Achei que vocês eram inseparáveis. 
- Tá ocupada - Não queria contar a situação da Tess para o Bill, tenho medo de como ele ia reagir.
- É, claro... Ocupada.

Enquanto avançávamos dentro do prédio abandonado, avistamos um infectado preso na janela, Bill o matou imediatamente.

- ... Parece que temos problemas no paraíso - Comentou Bill.

Quando finalmente chegamos no térreo e saímos do prédio, avistamos inúmeros carros abandonados no meio da rua, e a Ellie disse o seguinte para o Bill.

- Ei, por que você não conserta um desses carros?
- Nossa, você é um gênio. Todo esse tempo, por que eu nunca pensei em consertar um desses carros?
- Ah, tá... Não seja babaca.
- Os pneus estão podres e as baterias mortas.
- Tá, você terminou?
- Não quero nem pensar em como os motores estão por dentro. Só os militares fazem baterias novas.

Imediatamente a conversa entre os dois foi cortada pelos inúmeros infectados que vieram nos atacar, mas depois de uma pequena e intensa batalha conseguimos conter eles, e com medo de surgir mais inimigos, Bill nos levou correndo para o seu pequeno Arsenal.

- Você escolheu um lugar e tanto para morar, hein? - Comentei enquanto entrávamos dentro de seu esconderijo.
- Por piores que sejam, pelo menos essas coisas são previsíveis. As pessoas normais é que me dão medo, e você deveria entender isso.
- O que é isso? - Questionou Ellie confusa.
- Nada.

Infelizmente tive de concordar com o Bill. Pessoas são terríveis, elas matam, destroem roubam, te traem, tudo em prol da sobrevivência e lamentavelmente não sou um exemplo de pessoa a ser seguido, pois já fiz as mesmas coisas.

Bill destrancou uma porta que dava diretamente em uma igreja, e enquanto trancava novamente o questionei sobre a qualidade do portão em relação aos infectados.

- Eu tranquei. Eles não tem a chave.

E quando finalmente abriu a porta do porão, finalmente chegamos ao seu esconderijo, e enquanto descíamos as escadas ele apontou a Ellie.

- Você não toca em nada - Olhou e apontou para mim - E você fecha essa porta.

O lugar fedia como um chiqueiro, e muitos gibis estavam espalhados pela área. Enquanto Bill acendia um lampião, Ellie foi pegar uma pequena pistola, neguei a aquisição dela imediatamente.

- Quê? Preciso de uma arma - Exclamou ela.
- Não, não precisa.
- Joel - começou ela - Eu me viro sozinha.
- Não. Olha fica aqui.
- Certo. Eu vou ficar esperando vocês dois me matarem - Disse Ellie sentando no chão.
- Esse é o pior trabalho que você já aceitou - Comentou Bill.
- Tá lá em cima.
- Como é que a Tess topou essa missão suicida? - Bill colocou um saco com duas de espingardas e um balde cheio de cartuchos em cima de uma mesa.
- Foi ideia dela.
- É? Bom, então ela não é tão inteligente como eu pensava. Mas... Que se dane - Deu uma pequena pausa - Sério, você tem que levar essa menina de volta.
- Eu não posso levar ela de volta - Sentei na mesa, pensativo.
- Então manda ela passear, procurar seu caminho - Bill começou a recarregar as espingardas - Bom, vou te contar uma história: Era uma vez uma pessoa de quem eu gostava... - Olhei para ele imediatamente e estranhei tudo o que ele tinha dito, e assim sentiu uma pequena vergonha e continuou - ... Um parceiro. Alguém que eu precisava proteger, e nesse mundo, isso só serve pra uma coisa. Matar você. Então sabe o que fiz? Eu me toquei. E percebi que tenho de ficar sozinho.
- Bill, olha... Não é assim. É...
- Bobagem, é assim, sim - Ele parou ao meu lado por um breve momento, e enxergou a Ellie xeretando nas coisas dele - EI! O que eu disse quando descemos a escada? O que EU DISSE?
- Eu só estou arrumando... As suas revistas - Disse Ellie enquanto tirava as mãos das revistas.
- Não... Mexa!

Ellie apontou o dedo do meio para o Bill.

- Que droga. Se você continuar bancando a babá por muito tempo, vai acabar se dando mal - Disse Bill voltando a nossa conversa.
- Bill - Me levantei para olhar aos seus olhos - Podemos continuar logo com isso?

Bill terminou de carregar a espingarda e o deu pra mim.

- Agora vamos continuar. Mas antes de mais nada, eu quero te mostrar uma coisa.
- Achou algo?
- Brinquedinho novo, da caixa.

Fui me aproximando de Bill para ver o que ele ia me dar, de imediato vi que ele estava segurando uma lata com vários pregos e coisas pontiagudos misturado com pólvora dentro dela.

- O que é isso?
- "Isso" meu amigo, é uma bomba de pregos.
- Interessante - Quando eu o segurei esta bomba, senti seu enorme peso, e varias pontas incomodando na minha pele.
- Tome muito cuidado com isso. Se essa coisa explodir, ela retalha quem estiver por perto.
- Agora temos escopetas e bombas. O que vamos fazer com isso tudo?
- A cada semana uma caravana militar passa pela cidade. Acho que estão procurando suprimentos. Ficaria surpreso com as coisas que eles deixam passar. Enfim, há alguns meses, eles estavam passando e foram atacados por uma horda de infectados. Eles cobriram todo o caminhão. Ele foi direto pra lateral da escola. Ainda está lá, com a bateria.
- Então pegamos a bateria e colocamos em um outro carro?
- Bingo. Eu queria pegar ela, mas parecia perigoso com todos os infectados nessa parte da cidade. Mas que se dane... Joel precisa de um carro.
- E se ela estiver danificada?
- Não. Esses caminhões são como tanques. Ele está lá parado.
- Pode funcionar.

Depois de nos prepararmos, fui até a Ellie para avisa-lá que já estamos indo embora e o Bill disse:

- Garota, eu juro.... Se você pegar alguma coisa...
- Ei cara, eu não preciso dessa merda! Confie em mim.
- Joel, você está cuidando dela, não é?
- Como um falcão.

Subimos algumas escadas para sairmos do porão, e finalmente adentramos no centro da igreja, infelizmente não deu para apreciar toda a graça dela, pois seus bancos estavam amontoados nas janelas para impedir a entrada de qualquer pessoa, mas mesmo assim, era uma maravilha.

- Uau! - Disse Ellie encantada.
- Que lugar legal - Acompanhei ela.
- Bom, se tem alguma coisa para confessar, esse é o lugar - Comentou Bill.

Quando chegamos no altar, Bill avançou em uma janela e o abriu, liberando assim o caminho para prosseguirmos. Essa era uma das poucas igrejas que continham um cemitério atrás de si, tivemos a vista para um lindo pôr do sol e de lá conseguimos enxergar o telhado da escola, felizmente não era muito longe.

Quando pisamos no cemitério avistamos de imediato vários cadáveres amontoados e carbonizados em um pequeno local, e muitos outros infectados espalhados pelo lugar. Logo depois de ultrapassarmos o cemitério, passamos em um antigo condomínio, e finalmente chegamos na escola.

N
a rua da escola, dava para notar um enorme veículo preso em sua parede. Vários ônibus abandonados e inúmeros outros infectados, depois de os eliminarmos outros mais eram possíveis de serem escutados de longe.

- Merda. Escutou isso? Eles estão vindo. Rápido, garota! - Disse Bill enquanto fechava o portão que fica diretamente na rua - Bom, vamos entrar rápido. Vamos pegar a bateria e dar o fora daqui.

Como as portas estavam trancadas, tivemos de procurar outro caminho para avançarmos, então decidimos ir pelos fundos e subir em um antigo ar-condicionado para alcançarmos uma janela. Conforme subia, um infectado me apanhou e quase me mordeu se não fosse pelo Bill e seu facão.

Ellie fechou a janela, e o Bill foi apressadamente abrir o capô do veículo enquanto eu corria até a porta para colocar um armário e impedir a passagem dos infectados. Quando Bill finalmente conseguiu concluir o que estava fazendo, ele ficou pálido na hora.

- Vazio... - Disse ele.
- Quê? - Fui correndo para ver se era verdade e infelizmente... É verídico.
- A porra está vazia.
- Bill para onde?
- Hã? - Bill ficou desnorteado, não sabia mais o que fazer.
- PARA ONDE? - Temos de sair daqui.
- Qualquer outro lugar.

Chamei a Ellie, e começamos a correr naquele corredor escuro da escola e finalmente aqueles infectados conseguiram passar pela porta. Então tranquei outra porta, e essa conseguiu nos dar um tempo para conseguirmos chegar até o ginásio. Quando vimos aquela enorme quadra cheio de objetos espalhados, pedi a ajuda de Bill para colocar um desses objetos na frente da porta para que obstrua a passagem.

Infelizmente não estávamos nada seguros. No outro lado da quadra, havia uma porta que estava sendo socada por alguma coisa grande, e conforme os golpes, um infectado enorme, cheio de cascas de fungo e com algumas bolhas brotando de seu corpo saiu de lá.

- Que merda é essa? - Perguntou Ellie cheio de medo.
- É um maldito verme - Disse Bill.
- O quê?

O verme começou a carregar um ataque, e disparou uma pequena bomba de esporos e imediatamente eu disse a ela.

- ELLIE PROTEJA-SE.

Ela conseguiu desviar por muito pouco, quase sendo acertada por uma bomba de esporos. Fizemos o seguinte para derrotá-lo: primeiro pedi ao Bill para que chamasse a atenção dele, e imediatamente fui flanqueá-lo pelos lados, mas fomos detidos pelos estaladores que andavam ao lado do verme. Então peguei um cano do chão, e esmaguei o crânio de um dos estaladores, e joguei um tijolo no outro para assim desnorteá-lo. Bill jogou uma das suas granadas de pregos na frente do verme, mas surtiu um pouco de efeito.

Apanhei meu rifle, e dei um tiro em uma das bolhas que estavam na crosta do verme e parece que surtiu efeito. Gritei ao Bill para que fizesse o mesmo e o inimigo começou a dar uma investida em mim, me obrigando a se lançar no chão em ordem de desviar.

Quando meu corpo encostou no chão, uma granada de pregos caiu da minha bolsa, e no momento em que o verme estava prestes a dar outra investida, Ellie apanhou a granada do e o jogou em direção ao oponente, conseguindo assim, a nossa vitória.

- Ah, porra... Qual o problema do grandão? - Comentou a Ellie
- Ele está infectado há muito tempo. Nós os chamamos de vermes - Respondi a ela.
- Verme... Tá entendi.
- Detesto interromper a sua aulinha de biologia, mas podemos sair daqui? Por favor? - Disse Bill

Bill recomendou que subíssemos em algumas arquibancadas para alcançarmos as janelas, e assim fizemos. Primeiro dei um empurrão a ele, depois a Ellie, e assim surgiram mais outros infectados. Depois de me livrar deles consegui subir na arquibancada.

Quando pulamos a janela, vários infectados começaram a correr atrás de nós, então, fomos até um pequeno rio, subimos em uma cerca e entramos em uma casa para só assim, conseguimos ficar seguros novamente.

- Ah, que ideia boa, hein - Comentou Ellie.

Eu parei para olhar a Ellie e dei uma sinalizada para que ela me deixasse a sós com o Bill, e assim que fez isso, comecei uma conversa com ele para sabermos qual é o nosso próximo passo. 

- Bill? 
- Alguém teve a mesma ideia. Roubaram as minhas coisas.
- Bom, então qual é o plano B?
- Você devia me agradecer por estar respirando. Esse era o plano A, B, C e a porra do alfabeto inteiro. E diga para a Tess que ela pode pegar o trabalho e enfiar bem no meio do....
- NÃO META A TESS NISSO! - Gritei para que ele parasse de meter a Tess onde não devia - ELA NÃO TEM NADA A VER COM...!

Fomos interrompidos por um cadáver cheio de mordidas e que se enforcou no meio da sala, vi que o Bill estava meio pálido e então o perguntei:

- Você conhece esse cara? 
- Frank.
- E quem é o Frank?
- Era meu parceiro... Ele é o único idiota que usa uma camisa assim - Bill cortou a corda que deixava o corpo pendurado, o fazendo cair bruscamente no chão - Ele tem mordidas... Aqui e... - Parou e ficou fitando o corpo.
- Acho que ele não queria se transformar então...
- É, acho que não... Ah, que se dane.

Fomos interrompidos imediatamente com um som de um carro dando partida na garagem, e quando fomos lá ver o que era, vimos a Ellie sentada no banco do motorista e o capô do carro aberto, revelando assim uma bateria funcional.

- Olha só o que achei, ainda tem um pouco de combustível - Disse Ellie contente.

Bill foi verificar a bateria, e notou que pertencia ao veículo que colidiu no muro da escola.

- Sai fora - Disse Bill a Ellie enquanto fechava o capô da caminhonete.

Ele até tentou dar a partida, mas não teve sucesso.

- A bateria esvaziou, mas as células estão bem - Concluiu.
- E aí? 
- E aí que se a gente empurrar e ligar o carro, o alternador carrega a bateria - Bill foi até o portão da garagem e começou a abri-lá.
- Você acha isso?
- Olha, você queria um "plano B". É o melhor que temos.
- O que vocês acham? - Disse Ellie enquanto se aproximava de mim.
- Você dirige e a gente empurra.
- Então tá.

Quando o Bill finalmente conseguiu abrir a garagem, ele notou inúmeras de suas coisas espalhadas pela casa, não ficou feliz de que seu amigo ia roubar suas coisas e fugir, mas ignorou o fato, e continuamos nossa jornada.

Tivemos de empurrar bastante o carro e desviar de inúmeros infectados para fazê-lo funcionar, mas o veículo finalmente deu a partida quando o empurramos ladeira a baixo, e então subimos na caçamba e demos o fora daquele lugar. 

Ellie dirigiu uns dois quilômetros a frente, e quando o Bill conseguiu se certificar de que a área era segura, nós finalmente descemos do carro. 

- Não desligue o carro tá? - Falei a Ellie enquanto descia da caçamba.
- A garota quase matou a gente - Comentou Bill.
- Bom, você tem que admitir... Ela se virou bem ali.

Ele soltou algumas risadas.

- Você não vai aguentar - Bill estava quase indo embora mas se lembrou de algo para me dar, e me jogou uma mangueira.
- O que é isso?
- É impressionante, mas muitos carros tem gasolina - Disse Bill sorrindo pra mim.
- Bom, obrigado - Me aproximei dele devagar - Olha Bill, sobre seu amigo lá.... É muito difícil. Eu, ah.... - Não conseguia expressar mais palavras, mas ele entendeu o recado.
- Estamos quites?
- Estamos quites.
- Então, cai fora da minha cidade.
- Certo.

E com essa despedida fria, Bill foi desaparecendo conforme andava. Então, disse a Ellie para sentar no banco de trás, assim nossa jornada em busca de Tommy e os vaga-lumes começou de verdade.

Capítulo 4

Viajamos por quatro horas pela rodovia principal. Estava entediado com esta estrada sonolenta, Ellie estava deitada no banco de trás, a chuva escorria pelos vidros, tudo estava calmo demais. Quase dormindo no volante até que levei um susto graças ao grito dela.

- Ah cara!

- Vem cá, você não ia dormir? - Me ajeitei no assento.

Ela sentou e se aproximou de mim com um gibi em sua mão.

- Ok, eu sei que não parece, mas essa história aqui - Ela me mostrou um gibi que tem uma capa muito bem desenhada, com uma estampa enorme de savage alguma coisa, não prestei muita atenção por causa da rodovia - é boa, mas só tem um problema - apontou-me a última página - Bem aqui. Diz: "continua!" Odeio suspense.
- Onde você conseguiu isso?
- Hã, na casa do Bill... E tinha um monte de coisas jogadas.

Dei um breve suspiro, e perguntei: 

- O que mais você pegou?
- Hã... - começou a revirar a mochila - aqui - me mostrou uma pequena fita cassete de música - isso deixa você nostálgico?
- Bom, na verdade, isso não é do meu tempo, mas é bem legal. - Apanhei a fita e coloquei no rádio do carro, revelando uma música super antiga, se bobear da época do meu avô, infelizmente não consegui conter a minha decepção.
- Bom, é melhor que nada - Ela se voltou para sua mochila - Ah, acho que "seu amigo" vai sentir falta disso hoje.
- Hum hum - Não vi o que era, estava concentrado na estrada.
- Não tem muito pra ler, mas as fotos são interessantes.

Olhei para ela pelo retrovisor interno do carro, e consegui enxergar uma revista pornográfica em suas mãos.

- Ei Ellie, isso aí não é para crianças.
- Uau! - Disse ela folheando a revista - Nossa... Como ele consegue andar com essa coisa? - Apontou a revista pra mim, revelando duas páginas inteiras de uma mulher nua.
- Joga isso fora. Só... - Tentei arrancar a revista de suas mãos, mas ela conseguiu se esquivar de mim.
- Pera aí. Eu quero ver por que falam tanto sobre isso - foi folheando mais e mais páginas. 

Voltei a minha atenção para a avenida declarando minha derrota.

- Ah. Por que as páginas grudam? 
- Hã... - Não tenho resposta para isso, não tenho mesmo. 

Ela soltou uma gargalhada.

- Eu tô de sacanagem com você - Ela abaixou o vidro do carro e jogou a revista pela janela, e então, ela mudou-se ao assento da frente para sentar no meu lado.

- Sabe uma coisa? - Ela se voltou pra mim - Isso não é tão ruim - Aumentou o volume do rádio.
- Por que não tenta dormir um pouco, hein? - Não queria ser muito chato, mas faz várias horas que estamos acordados, e como o caminho até a casa do Tommy é muito longe, precisávamos parar para descansar, principalmente ela.
- Pff... Eu nem estou cansada.

Alguns minutos se passaram e ela finalmente dormiu. Dirigi por mais algumas horas até finalmente chegar em alguma área urbana, soltei um pequeno palavrão quando vi vários carros largados no meio da avenida, então avancei por uma rua próxima.

Andamos por mais alguns metros até ver uma pessoa no meio da rua pedindo socorro, ele vestia uma blusa cheio de sangue seco, e apertava fortemente seu abdômen para esconder uma pistola entre os cintos. Como esperava, Ellie estava muito assustada e queria prestar socorro, então enfiei meu pé no acelerador para realmente atropelá-lo, assim o desmascarando e revelando seus outros inúmeros parceiros, que atiraram no pneu fazendo eu perder o controle e atingir um antigo mercado.

Com a Ellie meio desnorteada, a ajudei sair do carro e fomos imediatamente para os fundos, esperando que os nossos adversários não nos vejam. Trocamos alguns tiros, e ela me ajudou a eliminar alguns também. Ao conseguirmos matar todos os inimigos do local, nos apressamos para sair daquela área com medo de outros chegarem.

Conforme avançávamos ao norte, chegamos em uma antiga funilaria e conseguimos enxergar aonde tínhamos de ir; a ponte, ao passar por ela era só seguir mais alguns quilômetros e aí sim conseguiríamos chegar na casa de Tommy, infelizmente a tarefa não é simples. De início fomos parar em uma antiga zona de quarentena, depois em um shopping cheio de suprimentos e inimigos dentro dele, em seguida a Ellie conseguiu aprender a assobiar - agora mais uma coisa para me irritar - e posteriormente encontramos mais caçadores, então avançamos em um antigo hotel para evitar mais inimigos em nosso caminho.

Quando entramos no prédio, Ellie ficou surpresa em ver uma cafeteria.

- Você ia muito nas cafeterias?
- É sempre.
- E o que você comprava?
- Só... Café.

Enfim, com a conversa concluída, seguimos subindo os andares do hotel, com o objetivo de encontrar alguma outra saída, e conforme prosseguíamos, encontramos vários caçadores que ocupavam este local, nos livramos deles de maneira relativamente rápida e silenciosa. Ao avançar mais um pouco, dava para notar um elevador com uma porta um pouco aberta.

- Parece que tem uma escada dentro do elevador - Disse a Ellie.
- Espere. Vou tentar abri-lá.

Tive de fazer muita força para conseguir mover aquela porta toda enferrujada. Com a passagem aberta, ela revelou uma escada de alumínio saindo da cabine do próprio elevador e então subimos nela. No teto, tivemos de ultrapassar uma passagem super estreita e um outro elevador estava embaixo de uma porta aberta, aquela é a nossa saída.

Pulei primeiro, e depois a Ellie. Como a porta estava meio alta pra eu subir, dei um empurrãozinho para que ela buscasse uma caixa ou alguma coisa para me ajudar, mas quando terminei de dar um empurrão, o eixo do elevador se rompeu, fazendo com que eu caísse até o porão escuro do hotel. Para a minha sorte, o local estava todo inundado facilitando na queda.

- JOEL! - Dava-se para escutar um grito da Ellie vindo de cima.
- EU ESTOU BEM! - Gritei olhando para cima, esperando que ela me ouça - VOCÊ TÁ BEM?
- NÃO, VOCÊ ME ASSUSTOU PRA CARAMBA!

Olhei a minha volta para ver se havia alguma maneira de subir.

- VOU... VOU DESCER POR ALI TÁ?
- NÃO! FIQUE AÍ EM CIMA. EU DAREI UM JEITO DE IR AÍ.
- NÃO FAÇA NADA IDIOTA.

E assim ela se foi, não sabia como estava a situação lá em cima, mas devia ser melhor do que aqui em baixo. Como o local estava totalmente inundado e escuro, dependi totalmente de minha pequena lanterna para me ajudar a ultrapassar aquele breu. Enquanto explorava, acabei encontrando esporos, e um cartão de acesso - que não sabia para o que servia, mas deve ser importante, então acabei guardando.

Quase fui esmagado por alguns destroços de antigos armários, e finalmente encontrei uma porta que levava direto para a saída, mas... Estava trancada por fechadura eletrônica, então decidi passar o cartão e não funcionou, provavelmente precisava de energia. Por sorte consegui enxergar alguns fios expostos e então os segui revelando assim um gerador.

Comecei a achar estranho do local estar bem silencioso, então, decidi recarregar as minhas armas e fui ligar o gerador. Conforme as luzes se acendiam, vários estaladores começaram a aparecer junto com um verme os acompanhando, logo assim, o desespero e o medo começaram a tomar posse de meu corpo. Fui correndo para a saída, eliminando o necessário e me distanciando ao máximo do maldito verme. Enquanto corria, um corredor me agarrou e por sorte consegui o mandar direto no chão.

Acelerei mais ainda quando outros corredores surgiam ao meu redor, e finalmente consegui escapar. "Uma hora nossa sorte irá acabar". Lembrei desta frase que tinha dito a Ellie logo no começo da nossa jornada, momentos antes do falecimento da Tess... Enfim, continuei avançando até encontrar uma cozinha industrial com dois saqueadores por perto, matei eles, e comecei a subir uma escada, para a minha surpresa havia outra pessoa escondida no andar de cima que acabou me dando um soco e derrubando a escada.

Caí dentro de uma poça d'água e nem tive tempo de reagir pois o cara rapidamente agarrou minha cabeça e enfiou na água com o objetivo de fazer com que me afogue. Tentei resistir o máximo que pude, fui tentar pegar a minha pistola que estava a meu lado, estiquei o máximo que conseguia de meu braço e sem sucesso. Quando pensei que estava condenado, Ellie aparece, apanha a pistola e dá um tiro no rosto do indivíduo o eliminando instantaneamente.

Me levantei rapidamente para recuperar o fôlego, e vi a Ellie com um ar de surpresa em seus olhos com a arma ainda apontada.

- Nossa.... Eu atirei mesmo no cara, né?
- É com certeza - Fui me levantando devagarzinho.
- Nossa, estou enjoada - Sentou em cima de um isopor. 
- Por que você não esperou como eu disse? - Retirei a pistola de sua mão.
- Ainda bem que não esperei, né?
- Ainda bem que a minha cabeça não foi estourada por uma pirralha - Comecei a revistar o cadáver.
- Sabe de uma coisa? Não - Ellie se levantou e aproximou de mim - Que tal: "Ellie, eu sei que não foi fácil, mas era ele ou eu, obrigado por salvar a minha vida", por que não me diz algo assim, Joel? - A sua voz indicava que estava bem irritada.

Trocamos os olhares por alguns segundos, acabei descontinuando a conversa e assim seguimos no caminho. Conforme prosseguíamos, Ellie não conseguia conter a sua irritação, então continuou calada por um bom tempo. Continuamos avançando até enxergarmos uma janela, ao pula-lá ficamos em um andaime coberto e notei um cadáver segurando um rifle, então o apanhei pra mim.

Não conseguia deixar de me sentir muito mal por ter brigado com a Ellie, mas ela precisava me escutar. Enfim, quando menos esperava, surgiram vários caçadores no térreo, por sorte ainda não nos viram. Pedi a Ellie para que ficasse em silêncio e a disse para que esperasse aqui enquanto eu ia enfrentá-lós.

- Isso é estupidez, teremos mais chances se me deixasse ajudar - Disse Ellie preocupada.

Ela está certa, não tinha como eu enfrentar todos aqueles caras sozinhos.

- Tá bom, eu deixo você me ajudar - Comecei a recarregar o rifle - Como sabe manejar uma arma, acho que você não terá muitos problemas com a carabina - O entreguei a ela.

- Hã... - Analisou a arma - Já usei uma espingarda, mas para atirar em ratos - Pegou o rifle de minhas mãos.
- Ratos?
- Ar comprimido.

Não queria gritar com ela, mas já é alguma coisa.

- Bom... O conceito é o mesmo. Levante ela - Ellie levantou o rifle, coloquei uma mão em seu ombro direito e a outra na mão em que ela segurava a arma - Se apoie nesta tábua porque o coice será bem maior que qualquer rifle de ar comprimido.
- Certo.
- Agora puxe a trava.

Ellie puxou o pino e uma bala saiu de dentro da arma.

- Ótimo. Bom, assim que atirar você tem que recarregar bem rápido.

Ela acenou concordando com a cabeça.

- Escuta, se eu tiver problemas lá embaixo faça os tiros valerem a pena. Tá?
- Entendi.

Me aproximei de um buraco que me levava até lá embaixo, parei por um instante para dizer uma coisa a Ellie.

- E para esclarecer o que aconteceu antes... Era mesmo ele ou eu - Finalmente pulei.

E mais uma vez começou uma batalha mortal contra os caçadores, mas desta vez eu tinha a Ellie para me ajudar. Então matei alguns furtivamente, troquei tiros com outros e a Ellie eliminou alguns também, ficamos deste jeito por quase uma hora completa e mesmo assim, mais e mais outros adversários começavam a chegar, parecia que não tinha fim.

Conseguimos sobreviver por pouco. Quando a barra estava limpa, sinalizei para a Ellie e ela desceu. Comecei a revistar um dos corpos espalhados pela área, retirei uma pistola de um deles e me aproximei de Ellie.

- Como eu fui? - Perguntou ela.

Retirei o rifle da mão dela e o coloquei em um banco.

- Que tal algo mais... - Verifiquei se a pistola havia munição, e entreguei a ela - do seu tamanho?

Quando a Ellie foi pegar a pistola de minha mão, me afastei um pouco dela e completei:

- É só para emergências.
- Tá bem.

Ela pegou a pistola de minha mão e a guardou. Então continuamos em direção da ponte, no caminho, eu fui tentando ensinar a Ellie coisas sobre as armas e como se deve tomar cuidado.

- Tá Joel, vou tomar cuidado - Diz Ellie.

Sempre bom se precaver né? Enfim, continuamos pelo centro da cidade e tivemos de entrar em uma das residências por perto, e então avistamos um sobrevivente sendo executado por um dos caçadores montado em um veículo altamente blindado, e aí descobrimos que nesta cidade não existe um lugar seguro.

Então, da residência partimos a um prédio de lá encontramos mais inimigos e os eliminamos sorrateiramente. Fomos avançando pelo estabelecimento e novamente nos encontrávamos em um beco dando de cara com a traseira do veículo. Não sei como eles não nos viram, e então tentamos nos esconder deles o máximo possível, decidimos entrar em várias casas e lojas para despistá-los.

Conforme avançávamos, encontramos por acaso um dos caçadores e de repente nos vimos fugindo do enorme veículo blindado. Passamos rapidamente pelos becos e escalamos uma escada que nos permitia entrar em um dos prédios. Ao entrarmos, me apoiei em uma parede para recuperar o fôlego.

- Acho que escapamos - Comentei ofegante.

Ao continuarmos andando pelo prédio, fui agarrado no pescoço por um homem de pele parda. Ellie até tentou me ajudar, mas foi rapidamente empurrada pelo cara, então, fiquei socando minhas costas na parede para enfraquecê-lo e o derrubar no chão. Com ele no soalho, comecei a socar, socar e socar, estava prestes a mata-ló, mas fui imediatamente interrompido pela Ellie que gritou pedindo para que parasse, fui até perguntando o que houve, então ela apontou para frente, revelando um garoto, também de pele parda, apontando uma pistola.

- Deixa ele em paz! - Gritou o garoto.
- Calma, filho. Muita calma - Levantei lentamente os meus braços.
- Tudo bem - Começou a dizer o homem se levantando - Eles não são bandidos. Abaixa a arma. 

O garoto abaixou a arma, entregou para o rapaz e o mesmo resmungou de dor.

- Caramba hein, você bate com força - Disse o homem enquanto olhava pra mim com a mão no peito.
- Bom.... Eu estava tentando te matar.
- É eu também achei que você era um deles - Achei estranho ele falar com uma maneira animada em sua voz - Então eu te vi - Voltou a falar sério quando apontou pra Ellie.

Ele viu que eu não tinha entendido do por que apontar para Ellie, então completou com o seguinte:

- Se não percebeu, eles não permitem crianças por aqui. Sobrevivência do mais forte ou algo assim - Gemeu mais uma vez de dor, então o garoto foi ver se o ferimento que fiz era muito grave.
- Você está sangrando - Disse o garoto.
- Não é nada.

O rapaz pegou a arma do menino e o guardou, em seguida se apresentou para mim.

- Sou o Henry - Começou a mexer na mochila do menino - E este aqui é o Sam. Achei que o seu nome fosse Joel.
- Eu sou a Ellie - Disse ela se apresentando.
- Tem quantos com você? - Perguntei a Henry.
- Estão todos mortos - Disse Sam.
- Ei. Não sabemos disso - Ele começou a enfaixar o braço - Tinham um monte deles. Alguém teve a brilhante ideia de entrar na cidade procurar suprimentos. Aqueles idiotas (caçadores) estavam de tocaia. Nos dispersaram. E o que importa agora é sair dessa merda.
- Podemos nos ajudar - Disse Ellie. 

Mas antes que ela pudesse dizer mais alguma, coloquei meu braço na frente dela para que não falasse mais nada e me virei em sua direção.

- Ellie...
- Segurança em números e tal.
- Ela está certa - Começou Henry - Podíamos ajudar um ao outro. Temos um esconderijo perto daqui. Seria mais seguro conversar lá.

Olhei para Ellie pensativo e acabei aceitando a proposta de Henry. Ele ficou bem feliz ao ter alguém para ajuda-ló a avançar naquela cidade tomada por caçadores e conforme avançávamos, todos começaram a conversar, inclusive eu.

- Desculpe pela arma - Disse Sam.
- Tudo bem, provavelmente faria a mesma coisa. De onde você é? - Perguntou Ellie.
- Lá de Hartford.
- Sério? Dizem que lá acontecem umas coisas horríveis.
- É, os militares abandonaram a zona. Por isso fugimos. Provavelmente o lugar está como esse agora.
- Temos de tomar o máximo de cuidado possível. Estamos perto de uma das áreas de atenção deles - Disse Henry - É só você e sua filha?
- Prometi uma pessoa que cuidaria dela.
- Ah, eu entendo isso.

Ao andarmos bastante, passamos por uma antiga loja de brinquedos, Henry pediu para que todos ficássemos quietos por causa do veículo dos caçadores e à medida que prosseguia, todos nós ficamos mais aliviados.

- Cara... Essa merda de caminhão está nos perseguindo desde que chegamos nesta maldita... - Henry olhou para o Sam que estava brincando com um brinquedo - Sam o que está fazendo?
- Nada.
- Jogue isso fora.
- Minha mochila está praticamente vazia.
- Qual é a regra sobre pegar coisas?
- Está muito leve.
- A regra... Qual é?
- Só pegamos o que precisamos - Disse Sam tentando evitar o olhar raivoso do irmão.
- Isso mesmo, agora vamos.

Sam largou o brinquedo no chão e assim prosseguimos, mas antes de continuarmos, vi a Ellie pegando o brinquedo que o Sam havia gostado, não me incomodei com isso porque não acho necessário esse monte de regras, afinal cada um carrega o que quer, mas se eles vivem assim não posso fazer nada para ajudar. 

Enfim, prosseguimos passando por alguns becos, subimos em algumas lajes, eliminamos alguns caçadores. Tudo corria perfeitamente bem, eu e o Sam trabalhávamos muito bem juntos. Então finalmente encontramos o esconderijo deles, parecia um antigo escritório, entramos em uma sala que parecia do chefe, Henry tranca a porta, impedindo a passagem de futuros invasores.

- Bem vindo ao meu escritório - Disse ele.

A sala é bem grande, acho que deveria ter muita gente com eles.

- A quanto tempo estão escondidos aqui? - Perguntou Ellie.
- Alguns dias - Respondeu Sam - Mas achamos um pouco de comida, vem comigo.

Ellie e Sam se afastaram até uma mesa que havia algumas latas de comida.

- Mirtilo - Disse Henry olhando pra mim - Achei um estoque deles. Quer um pouco?
- Não - Não conseguia deixar de me sentir tenso, então fiquei olhando pela janela para ver se havia algum caçador por perto.
- Ei cara, relaxa. Estamos seguros.
- Então, por que não foram embora? - Voltei o meu olhar a ele.
- Esperando a oportunidade certa. Vem cá, deixa eu te mostrar uma coisa.

Henry me levou até o outro lado do quarto, revelando um enorme posto de comando cheio de guardas na frente da ponte, era onde precisamos ir.

- Veja todos esses filhos da puta, todos os dias, se reúnem lá embaixo para proteger aquela ponte. De noite, só sobra uma equipe de esqueletos, depois do por do sol é a nossa chance, e sem a maioria deles, conseguiremos passar sem que nos vejam.
- Hmm, talvez dê certo.
- Ah, vai dar certo, com certeza vai - Henry começou a olhar para o Sam se divertindo com a Ellie, os dois estavam tentando acertar o mirtilo em suas bocas, era uma cena muito bonita de se ver - Nossa.... Já faz um tempo desde aquele garoto deu um sorriso. Ela nem parece incomodada com tudo isso.

Peguei um banco para sentar, e descontinuei a conversa dele.

- Então, aonde vocês estavam indo?
- Ouvi falar que os Vaga-lumes tem uma base no oeste, vamos nos alistar com eles - Disse Henry com muito entusiasmo.
- Sim... - Abri um sorriso.
- Algo engraçado?
- É que parece que tem muita gente apostando tudo nos Vaga-lumes ultimamente.
- É, talvez tenha um motivo para isso.
- Então vocês não sabem onde eles estão e vai arrastar ele pelo país inteiro para encontrá-los?
- Ah quer saber? Vou te dizer uma coisa - Henry se aproximou de mim irritado - Quem sabe eu me preocupo com o meu irmão e você com a sua garota?
- Calma. Também estamos procurando os Vaga-lumes.

Henry, ficou olhando para os lados, não sabia dizer se ele estava aliviado ou feliz, mas enfiou sua mão no bolso e retirou um pedaço de papel com um mapa desenhado com dois círculos: um marcava onde estamos e outro em uma "torre de rádio".

- Estamos aqui - Apontou para o círculo embaixo - E aqui tem uma estação de rádio militar abandonada, saindo da cidade. Qualquer sobrevivente de nosso grupo tem que nos encontrar lá amanhã. Se você e sua garota quiserem vir junto, vai ser essa noite.
- Acho melhor descansar então.

Então todos nós fomos dormir um pouco. 

Já era tarde da noite quando Ellie me acordou, a encarei por alguns segundos e me lembrei o porque dela ter me acordado, então me levantei e vi o Henry e o Sam conversando.

- Agora vamos andar rápido tá bom? - Henry estava segurando os ombros de Sam - Não importa o que aconteça, gruda em mim que nem cola.
- Que nem cola.
- Beleza - Começou a olhar para mim e para Ellie - Certo, todos prontos?
- Sim.
- Não se afastem.

Henry destrancou a porta, e assim partimos para o ponto de controle. Quando descemos um lance de escadas, dava para notar que alguns caçadores estavam ainda dentro do prédio, eliminamos eles, e avançamos pela rua escura.

T
ínhamos de tomar muito cuidado com o vigia, que fica em uma torre com um enorme holofote iluminando a rua ajudando os seus parceiros que estavam no chão. Conseguimos eliminar alguns deles no caminho, mas quando fomos abrir o portão, o pessoal do veículo nos avistaram, e assim nos apressamos para trancar de volta.

Logo após de termos entrado no ponto de controle, havia um enorme caminhão obstruindo o nosso caminho. Ouvimos um enorme estrondo vindo da porta, isso nos deixou  desesperados para buscar uma saída. Então o Henry teve uma brilhante ideia; ele me pediu para que eu ajudasse ele a subir naquele caminhão, depois de o ajudar, empurrei o Sam e em seguida a Ellie.

Mais um soco na porta, mas desta vez foi bem mais forte que o anterior que acabou deixando uma marca enorme no portão.

- Bom, temos que levantá-lo - Disse Ellie.
- Ah - Henry olhou para o portão - Sinto muito, vamos embora.
- Quê?! - Gritou Sam.
- Quê? Isso é ridículo - Ellie viu o Henry ir embora sem olhar para trás - Mas que porra Henry.

Conseguíamos enxergar alguns tiros vindo do outro lado, e mais batidas fortes vindo além do portão. Ellie pulou do caminhão para ficar ao meu lado, e comecei a procurar alguma outra saída, então pedi sua ajuda para abrir uma porta ao nosso lado, logo após de entrarmos fechamos ela com um armário.

Por muito pouco não fui acertado por um tiro do veículo blindado; enfim, continuamos a nossa jornada no meio daquele estabelecimento escuro cheio de caçadores e eliminando sempre o que precisa, mas sem perder o foco. Ao sairmos do prédio, continuamos sendo perseguidos pelo enorme veículo blindado, então fomos correndo até a ponte sem perder o ritmo, e para a nossa sorte, este foi um lugar de muita aglomeração durante a epidemia, então dava-se para ver vários tipos de carros abandonados pelo local o que nos ajudou a escapar momentaneamente do inimigo.

Ao prosseguir pelo cemitério de carros abandonados, dava-se para escutar o adversário mais próximo de nós, então Ellie e eu passamos por dois ônibus abandonados e os utilizamos para ganhar um tempo extra, mas enquanto corríamos, tivemos de parar pois não havia um caminho para se seguir.

- O que vamos fazer? - Perguntou Ellie.
- Quantas balas você tem? 
- Eles vão nos MATAR.
- Qual outra opção a gente tem?
- Vamos pular.
- Não. É muito alto e você não sabe nadar - Olhei para um dos ônibus - Tá bom, vou empurrar você pra cima e você corre.

O veículo estava cada vez mais próximo de nós.

- Você me mantém flutuando - Ficamos olhando para o carro se aproximando, não tinha muita coisa que podíamos fazer contra aquilo - Sem discussão.
- ELLIE!

Ellie pulou da ponte e então fui junto para agarra-lá. Depois de pega-lá, continuei a segurando pela correnteza abaixo, parecia que tinha perdido o controle de meu corpo, não consigo dizer o tanto de coisas que me acertaram até chegar na Ellie, mas acertei uma rocha com muita força e desmaiei logo em seguida.


Capítulo 5


Ao abrir meus olhos, notei que estávamos em uma praia bem ao lado de um terreno rochoso, consegui ver
a Ellie me encarando com um olhar de preocupação em seus olhos, e depois o Sam me olhando fixamente, senti uma pequena tontura ao me levantar, logo em seguida consegui avistar o Henry comemorando.

- Viu, o que eu disse ein. Ele tá bem, tudo bem - Ele começou a falar comigo fingindo que não havia me abandonado - Sabe, foi o Sam que viu vocês. Vocês tinham se molhado para caramba quando...

Nem deixei ele terminar de falar quando o empurrei e apontei a arma para os dois.

- PARA TRÁS.

Sam ficou com muito medo de perder o irmão, mas o Henry começou a falar.... De novo.

- Calma Sam, ele está muito irritado, mas não vai fazer nada.
- Tem certeza? 
- Joel - Disse Ellie segurando em meu braço.
- Ele nos deixou lá para morrer.
- Não. Vocês tinham uma boa chance de sobreviver e conseguiram. Mas voltar para vocês significava arriscar a vida dele - Apontou para o Sam - Se fosse o contrário, você teria voltado para nos buscar? Salvei vocês.
- Ele também me salvou, a gente teria se afogado.

Então guardei a minha pistola e me afastei deles, tentando manter a calma.

- Sabe, ainda bem que nós vimos vocês - Começou Henry - E a torre de rádio fica do outro lado desse penhasco. Tá? O lugar vai estar cheio de suprimentos, vai ficar feliz por não ter me matado.

Com tudo acertado, começamos a procurar algum caminho pela praia que nos ajudasse a ultrapassar a montanha e por suprimentos.

- Ufa, isso foi intenso. Você está bem? - Perguntou Ellie
- Tá. Vamos procurar a torre de rádio.

Ao explorarmos um pouquinho mais a costa, Ellie começou outra conversa.

- Por um segundo, pensei que você fosse atirar.
- É... Eu quase atirei.
- Tudo bem com eles. Acho que é bom que eles estejam aqui.
- Acho que tem razão.
- Todo mundo tinha barcos antes? - Perguntou Ellie olhando para inúmeros barcos encalhados na areia.
- Eu tinha um iate enorme.
- Sério?
- Não.
- Sarcasmo... Tá melhorando.
- Ei, Ellie, Joel, acho que encontramos algo! - Gritou Sam.

Ao ir verificar o que era, vi Henry segurando uma enorme tampa de bueiro, então o ajudei e adentramos naquele lugar escuro, mas não demorou muito para que revelasse ser uma antiga passagem. Encontramos uma bifurcação em nosso caminho, então decidimos nos separar para cobrir uma área muito maior de busca. Henry e Sam foram para um caminho, Ellie e eu fomos no outro.

Quando encontramos uma porta obstruída por um objeto, Ellie se ofereceu para ir nos dutos e destrancar a porta, ao fazer isso, um rato apareceu e ela levou um baita susto. Ao destrancar a porta, continuamos nosso caminho e ela queria me perguntar uma coisa.

- Você acha que eles vão com a gente? Até a casa do Tommy?
- Bom, não sei. Vamos ter que ver o que acontece até lá.

Passamos por uma área completamente inundada, mais e mais caminhada, até encontrarmos um gerador que ao ligar, iluminou todo o local. Também tivemos de atravessar por uma porta, mas ao passar por ela, fomos pegos por um tipo de alarme, nós ficamos estáticos com as armas empunhadas mas.... Nada, vazio.

- Parece que alguém morava por aqui - Comentei.
- E por que alguém iria morar aqui? - Perguntou Sam.
- Bom, alguém pensou que podia manter um lugar assim seguro.

Continuamos avançando, peguei uma escopeta com o cano cortado e mais tarde descobrimos o que era este local. Era um antigo abrigo, tinha de tudo: escola, lavanderia, cozinha, quartos, playground - Ellie e o Sam brincaram por alguns minutos de futebol -, tudo mesmo chega a ser impressionante e triste ao mesmo tempo. Também encontramos alguns cadáveres dos antigos moradores, e por conseguinte... Estaladores.

- Bom, acho que sabemos o que aconteceu com essas pessoas - Disse Ellie.
- Havia um estalador. Isso quer dizer que eles se foram faz tempo. Então vamos continuar, só podemos esperar que não haja mais deles - Comentou Henry.

Ao avançarmos mais um pouco, caímos em uma outra armadilha, mas esta armadilha ativou um portão de segurança que acabou nos separando; Henry e Ellie estavam em um lado, e Sam e eu no outro, e graças ao barulho que a porta fez, alertou inúmeros infectados que rodeavam pelo local. Tivemos que nos virar do avesso para lidar com aquele número exorbitante de inimigos.

Após corrermos bastante, conseguimos nos reagrupar e continuamos a correr novamente, subimos alguns lances de escadas até encontrarmos (em teoria) uma saída, então entramos em uma sala, trancamos a porta de onde viemos e fomos até os fundos e de lá encontramos uma outra porta mas esta aqui está emperrada.

- Tá emperrada - Disse Henry empurrando a porta.
- Me dá um empurrão, eu posso passar por essa janela - Disse Ellie olhando para uma janela em cima da porta.

Henry empurrou a Ellie e Sam pela janela enquanto eu vigiava a porta. Dava para se escutar os milhares de corredores com estaladores no caminho, eles estão vindo. E então a batalha começa. Comecei jogando um coquetel molotov em cima do bando que vinha pela porta e segui dando alguns tiros de espingarda para aqueles que se aproximavam. Henry pegou um cano, colou um pedaço de lâmina nela e o utilizou contra os estaladores. Conseguimos aguentar eles por um tempo, mas sendo sincero, minha munição estava acabando e a de Henry também.

Quando menos esperávamos, Ellie e Sam conseguiram abrir a porta, então avançamos e vimos uma enorme máquina de lanches atrás dela, então a empurramos novamente para deixa-lá trancada de vez. Conseguimos escutar inúmeros outros infectados tentando abrir a porta sem sucesso, finalmente um pouco de paz.

Todos nós sentamos para dar uma breve descansada, e então Sam apontou para um letreiro na parede escrito com sangue: Cuidado, infectado no interior. NÃO ABRA!

- Droga, você está de brincadeira comigo? Obrigado pelo aviso rapazes - Disse Ellie.
- Onde está a torre? - Perguntei a Henry.
- Estamos perto. Vamos.

Nós nos encontrávamos em um pequeno bosque, então Henry tomou a liderança, e nos guiou, adentramos em um pequeno bairro habitado por alguns cães selvagens. Graças a vista que este local proporciona dava para enxergar direitinho a torre de rádio. Henry e Sam começaram a conversar sobre o bem estar de cada um, então decidi tentar dialogar sobre a mesma coisa com a Ellie.

- E, você, como está?
- Negócios como sempre né? Quando estava com o Henry matei uns infectados sozinha. Você ficaria orgulhoso.
- É.
- Isso foi bem intenso né? - Comentou Henry.
- É isso aí. Totalmente - Respondeu Ellie.
- Como vocês dois se conheceram?
- Ah... Eu... Uma amiga minha, Marlene, pediu para ele me levar até os Vaga-lumes.
- Parece que vocês se dão bem.
- E bom... Agora eu mando nele, não é, Joel?

Peguei o sarcasmo, mas a ignorei mesmo assim, nós continuamos a andar neste bairro até que Henry começou a puxar assunto.

- Eu tinha cinco anos quando o cordyceps atacou. Minha memória é vaga, mas eu lembro que morava em um bairro igual a esse. 
- Do que você lembra? - Questionou Ellie.
- Ahh... Churrascos. Meus pais faziam churrascos enormes e convidavam um monte de gente. Eu lembro mais do cheiro do que outras coisas.
- Estranho.

 Ao andarmos um pouco pela local avistamos um "caminhão de sorvete abandonado". Ellie e o Sam ficaram encarando este veículo pensando no que ele fazia. 

- Ah, é um caminhão de sorvete - Disse Henry.
- "Caminhão de sorvete"? - Ellie estava confusa.
- É, o Henry me contou. Eles vendiam sorvete no caminhão - Completou Sam.
- Quê? Tá brincando. Joel?
- É verdade. Essa coisa passava... tocando músicas estranhas em alto volume e as crianças iam e compravam sorvete.
- Você está inventando isso pra mim.
- Hum... Sério.
- Cara... Você vivia em uma época estranha.
- Eu falei - Completou Sam.

Ao continuarmos andando em direção a torre, eventualmente nos vimos descendo um morro com uma casa no final da rua, e ao descermos, alguns tiros passaram de raspão em nós e acabamos pegando cobertura atrás de alguns carros estacionados.

- Ah, merda! - Comentei enquanto caia no chão para pegar cobertura.
- Franco atirador, você viu da onde veio? - Perguntou Henry.
- Em algum lugar da rua - Dei uma respirada - Tudo bem, fiquem aqui.
- Não... - Ellie ia começar a falar algo, mas a cortei rapidamente.
- Antes de começar, preciso que vocês o mantenham ocupado. Vou sair e ver se encontro uma posição boa para atirar nele.
- Tá.... Ei, cuidado.

Então, Ellie, Sam e Henry ficaram distraindo o atirador para que eu pudesse encontrar uma forma de matá-lo. Portanto, avancei pela direita e fui entrando pelas casas para não ser atingido pelos tiros, mas para a minha infelicidade, encontrei inúmeros outros caçadores espalhados pela área, e isso fez com que minha velocidade diminuísse mas mesmo assim não me impediu que avançasse por trás e o matasse pelas costas.

Com o franco atirador eliminado, uma enxurrada de caçadores começaram a atacar o Henry, Sam e Ellie, então apanhei a Sniper do atirador e comecei a eliminar quem se aproximava deles. Tinha até aparecido um outro veículo blindado para nos atrapalhar, mas isso tudo tinha um porém. Todos os infectados que habitavam o local, foram atraídos pelo enorme barulho que nós estávamos fazendo, então, não só tínhamos de nos preocupar com os caçadores, mas também devíamos tomar cuidado com os estaladores, corredores e alguns vermes também.

Enquanto atirava, avistei o
Sam no chão com um infectado acima dele, mas por sorte eu consegui salvá-lo, então continuei dando cobertura até que eles conseguirem chegar aqui nesta casa, quando chegaram, desci as escadas correndo e fui ver como que eles estão.

- Você tá bem? - Perguntou Ellie preocupada.
- Tô aqui ainda. Tem alguém ferido?
- Não, tá tudo bem.

Os infectados começaram a socar a porta e as janelas, e então os guiei para uma saída pelo fundo da casa, puxei um pouco uma tábua da cerca de madeira e continuamos correndo até a torre. Quando conseguimos chegar lá, havia várias latas de comida e somente nós, então decidimos fazer o jantar e comemorar nossa vitória. Depois de comermos, Sam foi para o outro quarto verificar o estoque de comida, e Ellie ficou comigo e com o Henry conversando.

Comecei a contar um pouco de meu passado, todos nós estávamos rindo de barriga cheia, era difícil estar em uma situação dessa com tanta merda acontecendo.

- Era aniversário do Tommy e tudo que ele queria era: alugar duas Harleys e viajar pelo país - Comentei.
- Cara... Eu morreria feliz se pudesse dar uma volta no quarteirão com uma dessas - Disse Henry com um baita sorriso na cara - Como foi?
- Foi bom, muito bom.
- Bom? Dá para acreditar nesse cara? - Olhou para Ellie e depois voltou a me fitar - Vamos cara. Conte os detalhes!
- Quer saber? - Disse Ellie se levantando - Vocês merecem um pouco de privacidade.
- Não, não, não, Ellie, Ellie, essa não é uma moto normal sacou? - Henry interrompeu Ellie -  Você sobe nessa malvada e sente o motor. Não tem nada igual.
- Ah é? Como você sabe? 
- Eu vi ela nos meus sonhos - Henry colocou suas mãos em um guidão invisível e fingiu pilotar uma moto - Vrum, vrum, vrum, vrum... - E concluiu com uma risada.

Nós paramos de conversar e vimos a Ellie ir para o outro quarto, Henry deu uma breve pausa.

- Acho que ninguém do nosso grupo vai aparecer - Disse ele desanimado.
- É.
- A pior parte de tudo: explicar para o Sam.
- Vamos dormir, teremos um longo dia amanhã.
- Certo... Boa noite.
- Boa noite.

Eu me ajeitei em um canto da sala e fiquei olhando pela janela vendo aquela linda lua brilhar, até cair no sono.

...


Deixei o Joel e o Henry conversando no outro quarto e fui entrando no cômodo onde Sam estava, vi ele amontoando algumas latas de comida, junto com um enorme olhar de tristeza transparecendo de seus olhos.

- Bom, com certeza esses dois viraram amigos - Tentei quebrar um pouco o gelo.

Ele me ignorou, então fui me aproximando dele.

- O que você está fazendo?
- Estocando toda a comida que encontramos hoje - Acho que tem alguma coisa errada com ele.
- Tá... - Peguei uma das latas - Como estamos com os pêssegos em lata?

Sam pegou a lata de minha mão.

- O Henry mandou você? - Perguntou irritado.
- Não, por que o Henry me mandaria?
- Para garantir que eu não faça nenhuma cagada.
- Nossa. Acho que nos saímos muito bem lá atrás, especialmente você.

Sam se levantou e foi até a janela, ficou olhando a paisagem bem chateado.

- Tá tudo bem? - Perguntei a ele.
- É... Tudo bem.
- Certo... Bom... Boa noite - Eu estava prestes a sair do quarto, mas Sam me interrompeu e me fez uma pergunta.
- Como é que você nunca tem medo?
- Quem disse que eu não tenho?
- De que você tem medo? 
- Bom... Vamos ver.... Escorpiões são muito assustadores - Sam voltou-se a olhar a janela - Hã... Ficar sozinha - Ele voltou-se seu olhar pra mim - Tenho medo de terminar sozinha. E você?
- Dessas coisas aí fora. E se as pessoas estiverem dentro delas? E se elas estiverem presas, sem o controle do próprio corpo? Tenho medo que isso aconteça comigo.
- Bom, agora somos uma equipe. Vamos nos ajudar. E depois, elas podem parecer pessoas, mas a pessoa não está mais lá dentro.
- Henry diz: "eles seguiram em frente." Que eles estão com suas famílias, tipo no céu. Você acha isso verdade?
- Uma hora sim, outra não - Não sabia como responder uma pergunta dessas - Tipo... Eu gostaria de acreditar...
- Mas não acredita.
- Hmm, acho que não.
- É... Nem eu.
- Ah, esse papo sério quase me fez esquecer - Comecei a revirar minha mochila para dar algo que ele irá gostar. Retirei o robô de brinquedo na minha bolsa, e o coloquei na mesa - Pronto. Se ele não souber que existe, não pode levá-lo. Certo, estou com sono, vejo você amanhã.

Dei uma breve despedida, e então o deixei sozinho no quarto e fui dormir perto de Joel.

...


Acordei primeiro que a Ellie, então fui pegar algumas latas de comida e dei para Henry preparar o café da manhã. Demorou um certo tempo para que ela acordasse, mas quando acordou, ficou feliz ao saber que havia café da manhã prontinho.

- Bom dia - Disse para Ellie.
- Cadê o Sam? - Perguntou ela.
- Deixei ele dormir até mais tarde - Disse Henry enquanto mexia na panela - Bom, se quiser que ele venha conosco, pode ir acordá-lo.
- Beleza.

Ellie nem entrou direito no quarto quando viu o Sam infectado, ele a derrubou no chão e fui rapidamente apanhar a minha pistola para elimina-ló. Quando consegui preparar minha mira, Henry deu um tiro na minha arma me deixando indefeso.

- ESSE É MEU IRMÃO PORRA!
- Que se dane - Corri para pegar a pistola no chão.

E em seguida, só escutei um tiro vindo atrás de mim e um corpo pesado caindo no chão.

- Merda! - Disse Ellie se arrastando no chão.
- Ellie, você está bem? - Me aproximei dela colocando minhas mãos em seus ombros.
- Sam? - Disse Henry em choque.

Todos nós estávamos em choque, mas felizmente nunca tive de matar um familiar infectado. Henry ficou olhando o corpo de seu irmão em espasmos, e apertou a pistola com mais força.

- Henry... - Estiquei minha mão e me aproximei para apanhar a pistola dele.
- Henry.... O.... Que.... Você..... Fez? - Disse ele em lágrimas, não conseguia aceitar o que aconteceu, ele levantou sua pistola e o apontou pra mim - Sam... Sam..... Sam!
- Olha, tudo bem. Calma - Olhei para baixo para evitar o seu olhar sombrio em cima de mim.
- É SUA CULPA! - Gritou, consegui ver um rio de lágrimas caindo de seus olhos.
- Não é culpa de ninguém Henry.
- É SUA CULPA!
- Henry... - Ele começou a mexer suas mãos, sabia o que ele ia fazer - HENRY NÃO!

Tentei correr em sua direção para desarma-ló, mas infelizmente, ele deu o tiro em sua cabeça primeiro, e tudo o que restava no lugar não passava de tristeza e pedaços de seu cérebro espalhados pela sala. Senti mais dó da Ellie por presenciar aquela atrocidade, ela não conseguia se manter em pé e não conteve suas lágrimas de sofrimento, eu até a abracei para tentar acalma-lá, mas...... Isso vai ficar marcado pelo resto de nossas vidas.



Capítulo 6


Já é outono. Logo após de enterrar o Henry e o Sam tivemos de andar e muito para chegar em Wyoming. Quando pisamos na fronteira do estado, avançamos mais um pouco e conseguimos ver uma placa escrito "Jackson Country".

- Jackson Country. Significa que estamos perto de Jackson City, certo? - Perguntou Ellie.
- Devem ser só mais alguns quilômetros.
- Está pronto para ver seu irmão?
- Estou pronto pra chegar.
- Está nervoso?
- Não sei o que estou sentindo.

Ao caminharmos mais um pouco, avistamos uma enorme ponte e uma trilha alternativa que seguia pelo bosque, então decidimos ir pela mata. Ao descermos pelo morro, Ellie ainda estava inquieta com mais uma coisa.

- O que aconteceu entre vocês? - Perguntou ela.
- Como assim?
- Você e Tommy... Vocês não estão juntos, então é claro que aconteceu alguma coisa.
- Tivemos um desentendimento só isso.
- Ah, lá vamos nós... por quê?
- Tommy via o mundo de um jeito e eu de outro.
- Foi por isso que ele se juntou aos Vaga-lumes?
- É, sua amiga Marlene prometeu esperanças a ele - Começamos a atravessar um pequeno rio... que gelado! - Isso o manteve ocupado por um tempo, mas como o Tommy é o Tommy, ele acabou abandonando isso também.
- Como foi a última vez que você viu ele?
- Acho que as palavras dele foram "Nunca mais quero ver a sua cara".
- Noossa. Mas ele vai nos ajudar?
- Acho que vamos descobrir.
- Bom, com ou sem a ajuda dele, vamos chegar lá.
- Vamos continuar.

Ao atravessarmos o rio, tivemos de subir o outro morro, e de lá enxergamos uma usina hidrelétrica abandonada.

- Nossa.... O que......? - Começou Ellie, mas a respondi imediatamente.
- Isso é uma usina hidrelétrica.
- Uma hidra... Quê?
- Ela hã... Usa o movimento do rio e transforma em eletricidade.
- Como ela faz isso?
- Olha, eu sei o que é, não sei como ela faz isso.
- Tá bom... Como vamos passar?

É... Tinha isso ainda. Subimos algumas escadas, e o que dava para ver era a enorme cachoeira e só, não se tinha uma maneira oficial de ultrapassar aquela piscina. Então girei uma válvula que levantou uma das pás que deixavam a água presa e assim liberei metade do caminho.

- Bom, isso já nos leva para metade do caminho - Comentou Ellie - Se levantarmos o outro podemos passar.

Após procurar uma maneira de ultrapassar aquela barragem, consegui enxergar mais uma manivela do outro lado, então.... Bolei um plano, tinha só de levar a Ellie do outro lado e assim conseguiremos prosseguir. Comecei a buscar algo firme que boiasse, então mergulhei. Depois de um certo tempo embaixo d'água, consegui achar um palete para Ellie subir e assim conseguimos prosseguir em nosso caminho.

- Trabalho em equipe - Disse Ellie erguendo a mão direita.

Eu dei um leve tapa em sua mão, ela sorriu e continuamos nosso caminho. Enquanto andávamos, encontramos um pequeno túmulo montado com gravetos e um ursinho de pelúcia em cima, parecia que pertencia a uma criança.

- Droga, esqueci de deixar o brinquedo idiota no túmulo dele - Disse Ellie pegando o brinquedo - O que eu faço com isso?
- Ellie...
- O quê foi? Quero falar sobre isso.
- Não.
- Por que não? 
- Quantas vezes temos de falar sobre isso? As coisas acontecem... e nós continuamos.
- É só...
- Agora chega. Vamos logo para a casa do Tommy.

Ao subirmos mais alguns metros na montanha, encontramos um enorme muro junto a uma porta, bem protegido por sinal, que parecia pertencer à usina.

- Ahhh estou morta de fome - Disse Ellie.
- Eu sei, eu também.
- Irei atirar no próximo esquilo que eu ver.
- Espera a gente passar por este lugar dai encontramos algo pra comer.
- Bom, se eu morrer, você será o responsável.

Tentamos dar a volta pelo muro, mas o nosso caminho ficou totalmente dependente daquela usina. Então forcei a porta para abrir, mas sem sucesso, tentei de novo e fui imediatamente interrompido por quatro pessoas armadas em cima do portão.

- Nem pense em pegar a arma e peça a garota para que solte a dela já! - Falou uma mulher caucasiana, de cabelos loiros e uma cara meio cansada, parecia que tinha uns 40 anos.
- Ellie, faça o que a moça pediu.
- Tá - Ellie levantou seus braços.
- Espero que estejam perdidos - indagou a mulher. 
- Não sabíamos que o lugar estava ocupado. Só estamos tentando passar.
- Passar pra onde?
- Tá tudo bem - Gritou um homem, com uma voz familiar.
- Quê?! Conhece essas pessoas?
- Conheço ele.

O portão começou a se abrir e revelou o rosto do meu irmão.

- Esse é o meu irmão - Concluiu Tommy.
- Tommy? - Não consegui inibir a saudades que tinha dele.
- É você, Joel?! - Tommy começou a correr em minha direção e me abraçou.
- Como você está maninho?
- Não acredito.
- É.
- Deixa eu te ver - Tommy se afastou e começou a me encarar - Como você está velho - Soltou uma risada.
- Calma, sua hora ainda vai chegar.
- Essa é a Maria - Tommy apresentou a mulher que estava nos apontando um rifle - Seja legal com ela. Ela comanda as coisas por aqui.
- Moça, obrigado por não estourar nossas cabeças.
- É, teria sido complicado, já que você é meu cunhado né? - Peguei o sarcasmo.

Até estranhei o que a Maria disse, "cunhado", então ela se casou com o Tommy e nem estava sabendo?

- Todos nós brigamos em algum momento - Concluiu Tommy.
- É - Maria voltou-se para a Ellie - Ellie não é?
- É.
- Por que vieram pra cá?
- Hã... É uma longa história - Ellie estava um pouco nervosa, nem sabia o que falar.
- Vamos levar eles pra dentro - Disse Tommy.
- Tá, tá com fome? - Disse Maria em direção a Ellie.
- Oh, faminta.

Ao entrarmos na Usina, Maria gritou para os seus companheiros que nós não somos seus inimigos.

- Ultimamente temos sofrido vários ataques liderados por bandidos - Comentou Maria enquanto nos levava até a cozinha.
- Está tranquilo, já faz alguns dias - Completou Tommy.
- E o que você está fazendo aqui, Tommy? Achei que te encontraria em Jackson.
- Estou tentando reativar a usina.
- Conseguimos fazê-la funcionar, mas uma das turbinas pifou - Disse Maria.
- Temos eletricidade, Joel.... Tivemos. Vamos reativá-la de novo.

Enquanto caminhávamos encontramos alguns cavalos de Tommy e seu grupo. Ellie ficou encantada ao ver este animal.

- Vocês tem cavalos - Disse Ellie;
- Nós temos muitos - Comentou Tommy.
- Ei Tommy, me ajude aqui com isso - Um cuidador de cavalos estava pedindo a ajuda de Tommy para montar a cela.
- Desculpem, já volto - E lá se vai o Tommy.

Quando voltei meu olhar a Ellie, ela estava ao lado de um cavalo, junto de Maria.

- Posso acariciar? - Perguntou Ellie.
- É claro, ele gosta de carinho no meio de suas orelhas. Você já montou em um? - Perguntou Maria.
- Já.
- Vem cá, quando é que você montou em um cavalo?
- Em Winston, um soldado da zona, ele me ensinou.
- Sabe, se você quiser, podemos passear com ele mais tarde - Comentou Maria.
- Seria muito legal.

Enquanto Ellie fazia carinho nas orelhas do cavalo, acariciei um pouco o traseiro do animal. E então, finalmente o Tommy terminou o que tinha de fazer, e assim continuamos nosso tour pela usina.

Enquanto caminhávamos até o refeitório Maria chama a atenção de um cara parado perto da porta, e assim que entramos, alguém no rádio chama a atenção dela.

- Maria! - Uma voz ecoou do rádio.
- É, vá em frente.
- Estamos na sala de controle, Steve logo vai ligar ele de novo. Vai querer dar uma conferida?
- Prefiro comer com a Ellie.
- Tá bom, é o meu turno mesmo - Disse Tommy.
- Vou com você - Falei antes dele passar pela porta - Ellie, vá com a Maria e comam alguma coisa.
- Joel?!
- Vamos, Ellie. Vamos dar um espaço aos rapazes - Maria colocou uma de suas mãos no ombro de Ellie - Vou mandar o Tommy, fiquem atentos - Disse enquanto aproximava o rádio de sua boca.

Agora eu e o Tommy finalmente estávamos a sós, só assim poderemos conversar tranquilos.

- Essa vai ser a sexta vez que eles tentam reativar as turbinas. Estamos aqui há uma semana, mas parece uma eternidade - Dizia Tommy enquanto me levava até a sala das turbinas - Ah, tenho uma coisa para você - Tommy foi até um armário que estava dentro da sala - No ano passado fui ao Texas, para casa. A maioria das nossas coisas não estava mais lá, a maioria - Depois de procurar um pouco, ele retirou uma foto minha e da... Sarah - Toma, ela está meio apagada mas ainda parece boa.
- Tô bem - Recusei com gentileza e devolvi para a sua mão.
- Tem certeza? Quer dizer...
- Já disse que não precisa.
- Tá bom, vou guardar pra você então.
- Tommy, eu... Preciso falar com você em particular.
- É, tá bom - Ele não estava tão surpreso, provavelmente ele até sabia que eu gostaria de conversar com ele - Deixa eu só ver como meu pessoal está, bem rapidinho - Guardou a foto novamente.

E assim prosseguimos, subimos por mais alguns lances de escadas e novamente estávamos ao ar livre. E para não ficar aquele silêncio "matador", Tommy começou a puxar assunto novamente - Ele não mudou nada.

- Não sei o que falaram para você, mas você tem que ver a cidade. Já temos mais de vinte famílias. Foi a Maria e o pai dela. Eles criaram esse lugar para ser auto-sustentável; Temos agricultura e pecuária - Deu uma breve pausa - Lembra que achamos que ninguém podia mais viver assim? Bom, nós estamos vivendo.
- O que vocês fazem para se proteger?
- Os adultos se revezam vigiando o perímetro. Temos até um portão eletrificado, para quando a usina funcionar.
- Mas você ainda tem que lidar com os infectados, certo?
- Quem não tem? Esse é o mundo em que vivemos.
- Bom, talvez não tenha que ser.
- Você me lembra a Marlene.

Ao avançarmos, passamos ao lado de um cão doméstico.

- Ei amigo - Me aproximei do cão e comecei a acariciar sua cabeça.
- Esse é o Buckley. Não serve como cão de guarda mas é uma ótima companhia.

Enfim, entramos na sala da usina e lá vimos dois engenheiros na sala de controle.

- Esses dois gênios vão reativar a usina - Comentou Tommy sorridente.
- Acho que conseguiremos desta vez - Disse um dos engenheiros.
- Você não acredita? - Perguntou o outro.
- Eu não disse isso - Respondeu Tommy.
- Aposto um milhão que funciona.
- Faz em dois - Falou Tommy.
- Estamos quase prontos. Eles só precisam terminar de colocar o escudo de volta.

Ao continuarmos andando, consegui enxergar outros engenheiros colocando um escudo no gerador através de um mecanismo preso no teto. E depois de pronto, eles ligaram a máquina e a energia elétrica estava novamente presente, Tommy e as outras pessoas do local comemoraram.

- Bom trabalho pessoal! Alguém pegue o telefone e avise a Maria - Disse o Tommy para os trabalhadores, e voltou-se pra mim - Viu isso?
- Isso é impressionante. Parece que você perdeu dois milhões de dólares.
- Bom Joel, vamos conversar.

Tommy me guiou até uma pequena sala e lá dentro ele sentou-se em uma cadeira e ficou olhando para a minha cara.

- Que equipe você tem aqui, hein - Disse a ele enquanto fechava a porta.
- É, são gente boa. Aqui é uma segunda chance para eles... Uma segunda chance para todos - Tommy se levantou e andou até uma janela - Por que você saiu de Boston?
- Estou em uma aventura, irmãozinho - Puxei uma cadeira e me sentei.
- Acho que tem a ver com aquela garota - Disse Tommy se sentando.
- Ah, tem tudo a ver com aquela garotinha.
- Bom... Vai me conta!
- Ela é imune.
- Mas a quê?

Fiquei em silêncio e o deixei descobrir, ele ficou imediatamente chocado e nem quis acreditar.

- Ah, fala sério - Disse ele incrédulo.
- Eu vi ela respirar esporos que acabariam com homens e nada. Eu também não acreditaria, mas eu posso mostrar.
- Tudo bem.... Acredito. Mas por que a trouxe?
- Eu tenho que entrega-lá aos vagalumes... E bom, você é amigo deles, então você termina o trabalho e coleta todo o pagamento.
- Eu não vejo um Vaga-lume há anos.
- Mas você sabe onde estão - Vi ele respirar fundo, parecia que estava cansado - Não estou pedindo muito, só precisa de alguns equipamentos... O suficiente para ir embora.
- Por que acha que eu faria isso por você? - Tommy começou a falar em um tom mais sério.
- Não é por mim Tommy, é por sua maldita causa.
- Minha causa é a minha família agora, e o que você está pedindo não é tão fácil assim.
- Porra... Pede para a Maria mandar alguns de seus amiguinhos fazer isso.
- Eles tem famílias também.
- Tommy, eu preciso disso.

Ele ficou me encarando por alguns minutos sem dizer nada, algo dentro de mim me dizia que ele não iria me ajudar.

- Quer equipamento? Legal - Começou Tommy - Mas eu não vou ficar com essa garota - Ele se levantou e começou a ir embora.
- É assim que você me paga é?
- Pagar?
- Por todos esses anos que cuidei de nós - Me levantei para ficar em sua frente.
- Cuidou? Chama isso de cuidar? Eu só tenho pesadelos daqueles anos.
- Você sobreviveu graças a mim!
- Não valeu a pena.

Eu o empurrei para a parede.

- Eu trago a porra da cura para a humanidade e você quer brincar de irmãozinho irritado?
- Nós não estamos em casa. Coloque as mãos em mim de novo e isso não vai acabar bem.

Tiros começaram a ecoar pela usina.

- O que foi isso? - Perguntei confuso.
- Estamos sendo atacados - Tommy foi correndo até um armário e retirou um rifle dentro dele - Ainda lembra como matar né?
- Sim.

Tommy e eu começamos a correr e disparamos através da porta, encontramos um dos engenheiros sendo mortos a sangue frio por bandidos. Conforme os eliminavam, Tommy recebeu um chamado da Maria pelo rádio solicitando por ajuda, e isso nos motivou a continuar avançando e acabar com os invasores.

Entramos no prédio onde as duas estavam e eliminamos vários outros invasores. Ao matar todos os inimigos, Maria foi imediatamente abraçar o Tommy, e eu fui acudir a Ellie que estava ansiosa.

- Joel, ah cara... Eles estavam vindo de todas as direções...
- Tá.
- Então a Maria disse: "temos que correr!"...
- Escuta...
- E então derrubamos umas mesas e um cara enorme entrou com uma escopeta.
- Devagar devagar devagar. Escuta - Apoiei minha mão no ombro dela - Ei, você está ferida?

Ela olhou para seu corpo.

- Não!

Fiquei muito aliviado por ver que a Ellie estava bem. Depois de escutar tudo o que ela tinha pra falar, voltei o meu olhar a Tommy e o vi conversando com a Maria, deve ser sobre o assunto que eu e ele conversamos, enfim, decidi esperar e ver no que dá.



...


- Na na nina não. De jeito nenhum - Exclamava Maria - Fala para ele encontrar outra pessoa.
- Mas não posso ficar com esse peso na consciência - Disse Tommy. 
- Você faz ideia de quantos homens perdemos aqui hoje?

Eu estava sentado em algumas caixas, longe o suficiente de Maria e Tommy, mas ainda assim conseguia escutar seus gritos. Ellie se aproximou lentamente de mim.

- Ei, o que está acontecendo? - Perguntou Ellie.

Eu a ignorei, acho que não tenho culhões o suficiente para lhe dizer a verdade, que irei abandona-lá. Ellie ficou encarando Maria e Tommy discutindo.

- Isso tem alguma coisa a ver comigo? - Perguntou de novo.
- Falamos sobre isso mais tarde.
- Ele te disse onde fica o laboratório? - Ellie ficou na minha frente esperando uma resposta.
- Falamos sobre isso mais tarde.

Virei minha cabeça para que não pudesse ver aquele rosto desamparado de Ellie.

- Mais tarde... Certo - Comentou ela se afastando de mim.

Voltei meu olhar a ela e a vi se afastando de mim, e novamente consegui escutar a conversa de Maria.

- Uma cagada e eu me transformo em uma dessas viúvas tá? - Disse Maria.
- Eu preciso fazer isso. Não sei mais o que dizer.
- Certo - Maria começou a se aproximar de mim.

Aqui vamos nós. Vou levar um baita xingo, mas se eu conseguir outra pessoa para cuidar da Ellie, que seja.

- Você - Maria ficou na minha frente - Se alguma coisa, qualquer coisa acontecer com ele. É sua culpa.

Maria foi embora, e conforme ela ia, eu senti uma culpa tomar meu coração, mas eu tenho que fazer isso, eu tenho... Nunca concordei em aceitar essa missão, nem suporto a Ellie - será?, eu passei vários dias e noites a protegendo a ajudando, cuidando dela.... Será que realmente quero largar ela? -. Eu preciso.

- Ela está agradecida sabe? - Disse Tommy.
- É, eu sei.
- Vou levar essa garota para os Vaga-lumes. Você não precisa se preocupar com isso - Acho que deixei transparecer minha preocupação sob a Ellie.
- É melhor assim - Me aproximei dele.
- Isso pode gerar algo bom.
- Preciso falar com a Ellie.

Antes que pudesse começar a procurar a Ellie, consegui escutar o Tommy conversando com alguém no rádio.

- O quê? Não ouvi - Tommy encostou sua orelha no rádio para escutar melhor - Joel!
- O que houve?
- Sua garotinha pegou um de nossos cavalos e fugiu - Tommy foi me guiando em direção aos cavalos.
- Droga, pra qual lado?

Conforme corríamos para o portão que levava direto para um bosque, um dos amigos de Tommy já havia preparado dois cavalos para nós e disse o seguinte:

- Acabei de ver ela saindo daqui a cavalo.
- Volta pra dentro. Ajude os outros a limparem - Disse Tommy.
- Tá, tenha cuidado.

Subi no cavalo rapidamente, e de imediato consegui enxergar algumas pegadas, sinalizando que a Ellie passou por ali.

- Ela não pode ter ido muito longe, não esquenta - Disse Tommy.
- Garota teimosa.
- Ela sempre faz essas coisas?
- Nada desse jeito. Não sei o que está acontecendo.

E se a Ellie se machucou? O que será que deu nela pra fugir assim tão de repente? Será que ela descobriu? Droga, chega de perguntas sem respostas, preciso encontrar ela e rápido. Cavalgamos o mais depressa possível, sempre seguindo as pegadas que ela deixou. Ao continuarmos a perseguição, acabamos encontrando caçadores no caminho, e ao ultrapassá-los achamos uma pequena chácara com um cavalo amarrado. Ela deve estar lá.

Checamos a área para ver se havia algum caçador por perto e... nada. Ao entrarmos dentro da casa, chamei pela Ellie e ela disse que estava em um quarto no andar de cima. Me senti muito aliviado ao saber que ela estava bem, então fui subir as escadas.

- Vou ficar vigiando a porta, vocês tem muita coisa para conversar - Disse Tommy.
- Ok.

Ao alcançar a Ellie, vi que ela lendo um diário na sacada do quarto, ela estava bem desanimada.

- Elas só se preocupavam com isso? - Disse ela estática - Garotos... Filmes... Decidir qual blusa combina com tal saia? Que estranho. 
- Levante, vamos embora.
- E se eu disser não?
- Você sabe o que a sua vida significa? hein? Fugindo assim. Arriscando sua vida... É uma tremenda idiotice.
- Então estamos os dois decepcionados um com o outro - Ellie se ajeitou em seu assento.
- O que você quer de mim?
- Admita que você queria se livrar de mim o tempo todo.

Fiquei imóvel, a realidade me deixou assustado no momento...

- É que o Tommy conhece essa área como...
- Ah, foda-se... - Ellie se levantou correndo. com a mão tapando seu rosto, como se estivesse com vontade de chorar, mas eu não a deixei ir embora.
- Desculpe, mas eu confio mais nele do que em mim!
- Pare de besteira. Do que você tem medo? De que eu termine como o Sam? Eu não vou me infectar, eu posso cuidar de mim mesma.
- Quantas vezes quase morremos?
- É, acho que estamos indo bem até agora.
- E agora você vai ficar melhor ainda com o Tommy.

Me afastei dela, essa menina me irritou demais agora. Quase a deixei sozinha, mas ela conseguiu me impedir com uma frase.

- Eu não sou ela, sabia?
- O quê?!
- Maria me contou sobre a Sarah. E eu...
- Ellie... - Dei uma pequena pausa para recuperar o fôlego, tive de me segurar e muito para manter a calma - Olha aqui... Esse assunto é muito delicado.
- Sinto muito pela sua filha Joel, mas também perdi pessoas.
- Você não faz ideia do que é perder.
- Todas as pessoas de quem eu gostava morreram ou me abandonaram - Ela se aproximou de mim - Todo mundo menos VOCÊ! - Ela me empurrou - E não me diga que ficaria segura com outra pessoa... porque na verdade só teria mais medo - Vi uma pequena lágrima saindo de seus olhos.

Fiquei a encarando por alguns minutos e finalmente cheguei a um veredito:

- Tem razão... Você não é minha filha e com certeza não sou seu pai. E com certeza nós vamos nos separar.

A Ellie não conseguiu retrucar a tempo antes que Tommy chegasse invadindo o quarto, alegando que havia caçadores a caminho. Fui até a janela para confirmar e vi dois entrando pela cozinha. Ele também disse que já havia mais gente dentro da casa, então começou a nossa caçada.

Fui na frente, eliminei um dos caçadores que estava perto da escada, e o Tommy matou de um dos quartos. Fui para a escada sorrateiramente, e surpreendi outros dois homens que estavam na cozinha, ele fez a mesma coisa para outros caras que estavam na sala de estar. Com todos os inimigos mortos fui até a porta da frente para verificar se havia mais alguém por perto, mas para a nossa sorte... Estava tudo limpo.

Então com tudo pronto, Ellie passou do meu lado cabisbaixa e só assim todos nós subimos em nossos cavalos. Tommy até ofereceu ajuda a ela, mas ela recusou com uma voz muito baixa, quase inaudível. Então seguimos para a rodovia principal. Eu não conseguia deixar de pensar na Ellie, nas coisas que ela me falou, realmente não me parecia certo abandona-lá.

Quando chegamos nas redondezas da cidade do Tommy, paramos em uma colina com um lindo pôr-do-sol, ele até comentou que hoje era dia de cinema. Todos nós estávamos apreciando aquela bela vista em silêncio.

- Onde fica o laboratório deles? - Quebrei o gelo.
- É lá fora, Universidade do leste do Colorado.
- Vamos carneiros selvagens - Expressei com um sorriso no rosto - Ellie, desça do cavalo, devolva para o Tommy, vou ficar com o amigo aqui, se estiver tudo bem com você - Ela ficou me encarando espantada - Vamos, não me faça repetir tudo.

Ao olhar para o rosto de Ellie e Tommy, consegui enxergar um olhar de surpreso no rosto dos dois, mas no rostinho dela, notei uma enorme felicidade.

- O que você está fazendo? - Perguntou Tommy.
- Sua mulher me assusta - Soltei uma risadinha - Não quero ela atrás de mim.
- Desculpa por roubar seu cavalo - Ellie devolveu o cavalo a Tommy.
- Olha, volte pra cidade, vamos conversar pelo menos.
- Ah, você me conhece - Ajudei a Ellie subir no cavalo - Já me decidi. "Universidade do leste do Colorado", como encontro esse laboratório?
- Fica no prédio de ciências, parece um espelho gigante, não dá para errar.
- Cuide da sua mulher.
- Tem lugar para você aqui, você sabe.
- Você tá bem? - Perguntei a Ellie.
- Tô bem.
- Adiós irmãozinho.

Me despedi brevemente, e fui em direção ao leste. Até eu mesmo fiquei surpreso com a minha decisão, mas não importa, contanto que eu proteja a Ellie tudo ficará bem. Mas, quando tudo isso acabar, acho que irei voltar a morar com o Tommy.


Capítulo 7

Junto com o cavalo que Tommy nos deu, começamos a andar por várias horas, sempre em direção a leste, felizmente, esse tempo que passamos não foram nem um pouco tediosas graças a Ellie. Nossa, nós ficamos conversando a todo momento sobre diversos assuntos, indo até de experiências que passamos, alguns ensinamentos, e até mesmo comentários sobre o nosso passado.

Neste exato momento, estávamos conversando sobre futebol americano.

- Deixa ver se eu entendi. Se você estragar o quarto touch down, tem que dar a bola para o outro time? - Perguntou ela.
- Isso se chama: "reviravolta".
- E se você passa pelas dez jardas volta para... o primeiro touch down?
- Primeiro touch down, tá certo.
- Cara, que confuso.
- Vai fazer mais sentido quando você jogar.

Finalmente chegamos na faculdade. O lugar era imenso, tão imenso que se parecia com uma cidade.

- Cara, quantos prédios... se continuar assim, nunca iremos encontrar o edifício com forma espelhada - comentou Ellie.
-  Bom, vamos para o centro, provavelmente encontraremos algo por lá.

Ao andarmos pelo campus, dava para se ver inúmeros cartazes de antigos times que pertenciam ao próprio instituto, arames farpados e carros no meio do caminho. Outro belo lugar destruído por causa desta pandemia monstruosa. Enfim, quando estávamos no meio da rua, Ellie me chamou a atenção.

- Ali, tá vendo? - Ela  apontou para o  horizonte, e lá no fundo, dava-se para enxergar o enorme prédio espelhado.
- É... Realmente parece com um espelho gigante.
- Vem cá, quantas pessoas estão ali? Quero dizer Vaga-lumes.
- Precisa de muita gente para as coisas funcionarem.
- Você acha que tem outras pessoas da minha idade?
- Ah... Não sei.

Como o caminho pela rua estava interditada, tivemos de atravessar por meio de um prédio, e adivinha... Havia uma porta que estava impedindo nossa passagem, quando fui abri-la. O cavalo ficou um pouco histérico e, pelo seu comportamento, dava para notar que havia corredores por perto. Pedi a Ellie para que cuidasse dele enquanto ia checar aos arredores. 

Ao atravessar a porta, encontrei outro portão, mas este estava emperrado pois necessitava de energia elétrica. Ao investigar um pouco do local acabei encontrando um lança chamas, eliminei alguns estaladores, e finalmente liguei o gerador. Ao descer algumas escadas, Ellie começou a puxar um outro tipo de assunto.

- Ei, estava pensando... Eu gostaria de ser uma astronauta.
- De verdade? - Subi no cavalo.
- É. Você pode imaginar estar lá em cima sozinho? Não seria legal? Só estou dizendo.

Fiquei em silêncio por alguns instantes, e ela curiosa me perguntou:

- E você? O que gostaria de ser?
- Ah... Bom, quando eu era criança, eu queria ser... cantor.

Ela soltou uma pequena risada.

- Cala boca.
- Tô falando sério.
- Tá, canta alguma coisa.
- Ah, não.
- Vai, canta alguma coisa, prometo que não vou rir.
- Acho que não.
- Joel... Por favor.

Decidi ignorar o seu pedido. Ao voltarmos para a rua principal do campus, encontramos um edifício muito enfeitado que deixava transparecer que pertencia ao "diretor" ou algo assim, e em seu quintal, havia alguns macacos por perto.

- Ah... São macacos? - Disse Ellie demonstrando surpresa em sua voz.
- É uma bagunça.

Enquanto prosseguia, os macacos fugiam assustados.

- Isso foi muito legal - Comentou Ellie contente.
- É a primeira vez que vê um macaco?
- Sim

Ao andarmos mais um pouco, Ellie e eu estranhamos o silêncio presente no lugar, como se estivessem todos mortos.

- Já deveríamos ter visto alguém? - Perguntou Ellie.
- Uh... Talvez esses caras sejam discretos.
- É, talvez - Deu-se uma breve pausa - Ei, olha... Vaga-lumes - Ellie apontou para uma pintura do símbolo dos vaga-lumes na parede.
- Estamos chegando perto.

E enfim, encontramos outro portão, que também precisava de eletricidade para abrir, mas desta vez o gerador se encontrava no outro lado da porta. Fiz a mesma estratégia do portão anterior, deixei a Ellie com o cavalo, e fui procurar uma maneira de abrir a porta.

Vi que não me restava alternativa de prosseguir, então fui pelos dormitórios dos antigos alunos. Enxerguei vários quartos abandonados, e alguns alimentos espalhados, peguei o crucial e segui em frente. Ao avançar, adentrei em uma área coberta de esporos, além de estar lotado de estaladores, então, continuei de maneira discreta, sempre eliminando o necessário. Ao ultrapassá-los, empurrei um enorme armário pesado e tranquei a passagem, só por precaução mesmo.


Então, desci algumas escadas, subi outras, e finalmente estava do lado de fora. E como esperado, Ellie estava muito preocupado comigo.

- Joel, você tá bem? O que aconteceu lá?
- Mais infectados, tô bem - Me aproximei do portão, e comecei a ligar o gerador.

O enorme portão se levantou, e a Ellie aproveitou e deu uma pequena comemorada. Então subi no cavalo, e continuamos nossa jornada.

- Esses estaladores que você encontrou, você acha que eles eram vaga-lumes? - Perguntou Ellie.
- Não... Não, acho que não.
- Por que eles teriam infectados tão perto do laboratório?
- Bill os usava como defesa, talvez eles tenham feito alguma coisa.
- Faz sentido.

Andamos por mais um pouco no campus e finalmente ficamos cara a cara com o prédio espelhado. Ao explorarmos um pouco a sua volta, notamos que o local estava com um silêncio absoluto, como se o lugar estivesse abandonado por muito tempo. Isso nos deixava ainda mais ansiosos.

- Sem guardas. Sem nada - Comentou Ellie sobre aquela quietude.
- É... Eu esperava ver alguém a essa altura. 

Nas proximidades do prédio, havia inúmeras barracas improvisadas para tratar as pessoas infectadas, então começamos a explora-lás em busca de suprimentos. Eu estava vasculhando algumas bolsas, e até mesmo alguns armários, quando a Ellie começou a puxar assunto.

- Você já foi a uma dessas? - Perguntou Ellie enquanto cuidava do cavalo.
- Do quê? Uma Universidade?
- Sim.
- Não, pelo menos não como um aluno.
- Por quê não?
- Uhh... Eu tive a Sarah quando era muito jovem.
- Ah, você foi casado?
- Por um tempo.
- O que aconteceu?
- OK.
- Demais?
- Demais.

Realmente não gosto de falar sobre meu passado, reviver aquelas lembranças tenebrosas é demais para mim. Conforme eu terminava de vasculhar essas barracas, Ellie veio me perguntar sobre outra coisa.

- Será que iremos encontrar algum vaga-lume vivo?
- Espero que sim.

Finalmente terminei de explorar todo o local, então me reagrupei com a Ellie, e prosseguimos até a entrada dos fundos daquele prédio. Ela me apontou uma abertura na janela, e depois de ajeitar um latão de lixo para subir, até que enfim conseguirmos entrar no local. A situação daqui de dentro não está tão boa quanto fora. Nós imediatamente nos deparamos com algumas salas destruídas, e outras totalmente reviradas, parecendo como se ladrões tivessem saqueado completamente o lugar. E o silêncio estava ainda mais presente.

- Onde eles estão? - Perguntou Ellie.
- Estou com um mal pressentimento sobre isso.

Depois de passar vários corredores, e inúmeras salas parecidas, mais ainda parecia que não havia ninguém por perto, mas... algo me dizia que existia alguma pista que indicava o paradeiro dos Vaga-lumes. 

Conforme explorávamos o interior do prédio, encontramos uma área totalmente aberta e em seu centro havia uma árvore próximo a alguns destroços (antigas carteiras e outras coisas que pertenciam à faculdade), junto a um parapeito de vidro. Então procuramos uma maneira de subir os andares, Ellie começou a gritar.

- Uhhuuu! Vaga-lumes? Cura da humanidade aqui! Alguém?
- Shh, vamos fazer silêncio até descobrir o que está acontecendo.
- Ok... O que é isso? - Ellie saiu correndo para um amontoado de coisas, dentre elas havia informações vitais sobre antigos pacientes.
- Não tem nada aqui, além de um monte de porcaria de médico - Dizia enquanto verificava os papéis.
- Não entendo.
- Parece que todo mundo fez as malas e saiu às pressas.

Algo metálico caiu no andar de cima, fazendo um enorme barulho.

- Talvez nem todos - Comentou Ellie.
- Fique atrás de mim.

Ao irmos atrás daquele barulho, não encontramos nada além de silêncio e um corredor vazio. Entramos em sala a sala na procura de alguma alma viva, mas ninguém. Comecei a esperar pelo pior, então comecei a recarregar as minhas armas.

- Não tem corpos, isso é bom né?
- Só se descobrirmos onde eles foram.

Um pequeno armário caiu atrás de nós e acabou nos assustando.

- Humm... Provavelmente são estaladores... certo? - Perguntou Ellie com medo.
- Não, os estaladores não se escondem. 

Ao explorarmos mais um pouco do lugar, abri uma porta, e finalmente descobrimos a fonte do barulho. Não passava de um bando de macacos esfomeados em busca de comida.

- Bom, pelo menos não são estaladores - Disse Ellie debochando.
- É... Mas não tem vaga-lumes.
- Bom, talvez de tanta pesquisa, eles tenham se transformado em macacos.
- Continue procurando, daqui a pouco nós iremos encontrar alguma coisa.

Ao explorar mais um pouco, nós inevitavelmente fomos parar em uma antiga sala de segurança, ela continha uma enorme visão para a entrada do prédio, e lá acabamos de encontrar o nosso primeiro cadáver, mas este estava totalmente em ossos e continha em uma de suas mãos um tocador de fitas, com um áudio gravado. Apanhei este objeto e o liguei.

- "Se você estiver procurando os vaga-lumes, foram todos embora...
- É, não brinca - Comentou Ellie.
- ... Estou morto. Ou estarei em breve - A voz deu uma boa respirada e continuou - Tive um tempo para refletir. Houve anos em que eu senti que conseguiríamos alguma coisa... - Avancei a gravação, em busca de alguma pista que nos indique onde eles tenham ido - ... Foi tudo uma grande perda de tem... - Avancei de novo - ... Não vou fazer mais isso... 
- Vamos - Apertei novamente o botão de avançar.
- ... Se estiver procurando pelos outros, eles voltaram para o hospital Saint Mary's em Salt Lake City. Você vai encontrá-los lá, ainda tentando salvar o mundo... Boa sorte com isso" - Finalmente acabou.
- Você sabe onde fica isso?
- Conheço a cidade.
- É longe?
- Não é perto... Se formos de cavalo... - Algo brilhante me chamou a atenção no andar de baixo.
- O que foi? - Ellie olhou pra lá - Vaga-lumes?

Era uma lanterna, e olhou imediatamente em nossa direção. Até pedi para a Ellie se abaixar, mas era tarde demais, os caçadores estavam vindo em nossa direção.

- Quem são esses caras? - Perguntou Ellie.
- Não importa. Sabemos aonde ir. Vamos dar o fora daqui.

Ellie e eu começamos a correr em direção a saída. Ao encontrarmos os caçadores, trocamos alguns tiros e voltamos a acelerar. Conseguimos manter o ritmo até voltamos para o primeiro andar do prédio. Conforme passamos por corredores estreitos e sem fim, eventualmente encontramos o lugar com a árvore no centro, estamos perto da saída, pensei. E ao abrir uma porta, fomos totalmente surpreendidos por um caçador.

- Agora te peguei imbecil! - Gritou o caçador enquanto me empurrava para o parapeito, com as suas mãos em meu pescoço.

Resisti o máximo que pude, forcei uma de minhas mãos contra seu rosto, e finalmente consegui me libertar. Quando eu ia socá-lo, o parapeito cedeu e fez com que nós dois caísse no meio dos escombros. O inimigo morreu direto quebrando o pescoço, enquanto eu caí em cima de um pedaço de ferro, e o mesmo atravessou meu abdômen.

Gritei de dor. Fiquei tão desesperado ao ver aquele pedaço de ferro, que nem me dei conta que a Ellie desceu preocupada do andar de cima. 

- O que você quer que eu faça? - Perguntou Ellie olhando para a região perfurada.

Olhei ao meu redor procurando algo que me ajudasse a tirar essa porra de ferro de mim, e notei que havia alguém batendo na porta ao lado. Então empurrei a Ellie, e matei os dois desgraçados que passaram. Ao matá-los, novamente caí no chão.

- Joel? - Ellie se aproximou novamente.
- Ah... Preciso que você me puxe.
- Tá - Ellie se ajeitou, e pegou a minha mão - Então, tá pronto?
- Sim - Respirei fundo.
- Então lá vai. Um... Dois... TRÊS! - Ellie me puxou com toda a força que tinha.

Senti uma puta de uma dor, mas finalmente conseguir ficar de pé. 

- Joel! - Ellie não sabia o que fazer.
- Vai até a porra do cavalo.
- Tá.

Conforme andava, não larguei de maneira nenhuma o meu abdômen perfurado, fiquei ainda mais desesperado quando notei que não parava de sangrar. Mas não havia muita coisa que podia fazer sobre isso, tudo o que podemos realizar agora é cair fora daqui, pois este lugar está lotado de caçadores, e agora a presa deles está ferida. 

Graças ao meu vacilo, isso custará a vida de Ellie, acho que nunca poderei me perdoar por isso. Ela até foi me guiando em direção ao cavalo, sempre com a arma empunhada, pronta para qualquer coisa. E eu... nem conseguia andar direito, mas mesmo assim fiz o melhor que pude.

Entramos em uma das salas, e a Ellie limpou a janela para pularmos.

- Joel, você consegue cuidar da janela?
- Eu tô bem, eu consigo.

Então Ellie pulou primeiro, e quando foi a minha vez, eu caí de cara no chão. E isso acabou alertando inimigos próximos. Ellie veio correndo em minha direção e me ajudou a ficar em cobertura, e foi tentar cercar uns dois caras que haviam entrado na sala. Eu estava de costas para eles, mas mesmo assim esses caras consegui ouvi-los;

- As pessoas que você matou, eram meus amigos, caralho - Comentou um deles.
- Você quer fazer de difícil? Tá bom, então apareça porra - Comentou o outro.

Consegui escutar um dos caras se aproximando de mim, e eu iria até apontar a mira para um deles, mas a Ellie apareceu e o eliminou, então aproveitei a oportunidade e a ajudei. Esse meu movimento fez com que eu perdesse mais sangue, e consequentemente uma tontura imensa.

- Nossa, temos que tirar você daqui - Disse Ellie enquanto via minha situação.
- Tô bem. Tô bem.
- VOCÊ NÃO TÁ BEM - Ellie fez um esforço ao me ajudar a levantar.

Estava começando a perder a minha visão, tudo a minha volta está começando a ficar escuro. Então tentei resistir o máximo que podia da dor, e continuei mancando. Ellie ficou na minha frente, sempre me guiando. E finalmente estávamos no corredor que dava diretamente a entrada.

- Droga! - Cai de joelhos no chão.
- Você tá indo bem, vamos, se apoie em mim.
- Não.
- Então você consegue andar?
- Sim.
- Então ande, droga.

Quanto mais eu ando, mais a minha visão fica turva, e mais eu penso que não existe saída nessa porra.

- Vamos, Joel, só mais um pouco, vamos.

Agora piorou de vez, não consigo enxergar mais nada além da palma da mão, estou sentindo muito sono. Minha mão está coberta de sangue, fora que nem consigo controlar direito minhas pernas... Será que é o meu fim?

- EI, EI JOEL!
- Atrás.... de você - Não sei como, mas enxerguei dois vultos na escada atrás de Ellie, tentei apanhar a minha pistola, mas sem sucesso.

Estava deitado no chão. Tentei com todas as minhas forças para ficar acordado para apoiar a Ellie, mas tudo o que conseguia ver era ela matando alguns caçadores a tiros, e em seguida me levantando.

- Isso Joel, me abrace, agora vamos, falta muito pouco - Ellie estava me carregando até a porta, com toda a força que ela tinha - Eu juro que quando tirar você dessa, você vai cantar pra mim.
- Bem que você queria.

Ellie me deixou apoiado em uma caçamba e foi abrir a porta, e quando ela conseguiu, tentei acompanha-lá e em seguida caí novamente no chão. Ela mais uma vez me ajudou a levantar, e no momento em que fui abrir a porta, tombei novamente. Ao abrir meus olhos, a enxerguei matando um ladrão que estava tentando roubar o nosso cavalo. 

Ao matá-lo, Ellie me ajudou a subir no cavalo e assim começamos a correr. Depois de alguns quilômetros, começou a nevar, e a Ellie se certificou que estávamos seguros, e isso me deu a deixa para finalmente dormir em paz.


Capítulo 8


Está começando a nevar, acho que o inverno já chegou. Andamos alguns quilômetros a cavalo. Decidi olhar para trás e ver se alguém tinha nos seguido. Por sorte estávamos seguros. Fui checar o estado de Joel, como ele não falou nada por tanto tempo acabei ficando preocupada, mas ao chamar sua atenção, ele caiu no chão de olhos fechados.

Desci rapidamente do cavalo e fui tentar acordá-lo. Como ele não reagia fui checar sua respiração para ver se ainda estava vivo, graças a Deus ele ainda está, mas com um fôlego muito fraco, então, o agitei novamente para despertá-lo.... E nada, nem um pio. Bom, não posso ficar parada, tenho de fazer alguma coisa para lhe carregar. Como não tenho forças para deixar Joel em cima do cavalo, comecei a buscar por algo firme e alguma coisa para amarrar ele.

Como a rua estava lotado de lixo, não foi difícil de encontrar as coisas que preciso. De começo, eu achei uma fita e junto a ela apanhei um pedaço de pano e estanquei a ferida de Joel, e depois peguei uma tábua de plástico (bom, acho que é plástico) e o amarrei. Com tudo pronto, subi no cavalo, e assim prossegui em busca de um abrigo.

Depois de muita procura, consegui achar um antigo shopping, então entrei em uma das lojas, verifiquei as suas entradas e as tranquei, todo cuidado é pouco. Então deixei o cavalo descansar em um canto, e permiti que Joel se sinta confortável ao lado de uma fogueira. Comecei a retirar sua camisa para verificar sua ferida e... credo! Tinha literalmente um enorme buraco em seu abdômen, então peguei um tecido úmido e limpei o local da ferida e o fechei com um outro pano, sempre passando uma fita adesiva para manter bem firme. 

Bom... Melhor eu começar a procurar por suprimentos (principalmente médicos), se não fizer nada pelo Joel, ele definitivamente morrerá. Quando eu saí da loja, tranquei a porta com um pequeno cadeado que achei, e assim comecei a procurar pelo shopping alguma outra loja que estivesse aberta, e a primeira que encontrei foi uma farmácia. Ela estava com a porta meio aberta e seu interior estava um breu, que encantador.

Ao entrar, liguei a lanterna, e notei imediatamente que o lugar estava um caos. Não havia nada de útil para se obter, nada além de latas e frascos vazios. Droga! Tem que ter alguma coisa aqui que eu possa usar. Quando fui até os fundos, consegui enxergar uma porta com uma pequena janela no centro, fui tentar ver o que estava na outra sala e notei uma enorme caixa de primeiro socorros. Ótimo, com isso poderei salvar o Joel. Mas quando fui abri-la percebi que estava trancada, e não muito longe deu-se para enxergar um bilhete que continha uma senha e a localização do farmacêutico, e provavelmente ele tem a chave em seu bolso, mas ele estava preso em uma loja ao lado chamado de "American Princess".

Ao chegar lá, vi que o lugar estava trancado com um cadeado de senha, então decidi utilizar a combinação descrito no bilhete. Depois de aberto, notei que o ambiente estava lotado de esporos e mergulhado em um profundo breu. Se vai me atacar, vai logo... Esperei um pouco para ver se algum infectado aparecia, felizmente estava deserto. Ao andar por aquele local escuro, consegui encontrar o corpo do farmacêutico, infelizmente ele estava todo petrificado e tive de fazer muita força para retirar a chave de seu bolso. 

Então voltei correndo para a farmácia. Tive que tomar cuidado com alguns estaladores que estavam por perto, e assim consegui chegar aonde queria. Ao abrir a caixa de primeiros socorros... Nada, não tinha nada dentro da caixa, então a chutei para tentar acalmar a minha angústia.

Conforme a caixa se arrastava pela sala, consegui enxergar uma janela, que dava uma visão do interior do shopping com um enorme helicóptero atravessado no teto. Deve ter alguma coisa lá, então comecei a andar em direção a ele. Conforme avançava, consegui ouvir inúmeros estaladores, e isso me fez com que andasse mais rápido. Ao chegar lá, minha passagem estava impedida por uma porta elétrica e ao seu lado havia um painel junto a uns fios expostos. Ao seguir estes fios, eles me levaram até o estacionamento interno do lugar, mas estava todo inundado. Ao prosseguir um pouco, levei um pequeno susto com um gato e finalmente consegui encontrar um gerador sem combustível.

Depois de vasculhar um pouco as proximidades, encontrei uma vasilha junto a uma mangueira. Como não havia combustível no gerador, comecei a conferir os tanques dos carros da área, e surpreendentemente, alguns continham gasolina, e logo depois de arranjar o suficiente, voltei a correr até o gerador para assim ligá-lo.

Depois de ligar a energia, alguns infectados apareceram, mas quando fui empunhar a minha arma todos foram eletrocutados, graças a um fio exposto naquele pequeno rio. Tá.... Tenho que tomar cuidado com a água. Como não é muito seguro voltar por onde vim, decidi escalar um caminhão, e fazer meu caminho pelos dutos de ar. Tomei o máximo de cuidado para não olhar para baixo e segui adiante.

Depois de me arrastar bastante, desci do outro lado do estacionamento, e me encontrava em um pequeno mercado lotado de estaladores. Continuei prosseguindo de maneira sorrateira, e finalmente voltei para o helicóptero militar. Ao conseguir abrir a porta elétrica, ela fez um barulhão que atraiu inúmeros infectados próximos, então eu a atravessei, e tranquei, deixando assim os inimigos do outro lado.

Quando comecei a escalar o helicóptero, tomei o máximo de cuidado possível onde pisava, pois estava em cima de vidro, então com cuidadosos passos, finalmente consegui subir no veículo, mas ao colocar o pé em seu interior, ele começou a se movimentar, não como se tivesse funcionando sozinho, nada disso, ele estava prestes a cair. Então agarrei um dos bancos e me preparei para a queda, que por sorte não aconteceu.

Ótimo, comecei a procurar por qualquer coisa que me ajude a fechar aquela ferida de Joel. A primeira coisa que enxerguei foi uma caixa de primeiros socorros, cheio de suturas e todo o equipamento necessário para ajudar o Joel. Não solto isso por nada, acabei abraçando muito forte o equipamento de maneira muito agradecida e depois de alguns minutos, acabei adormecendo.

Acordei a base de tiros e de vários barulhos de estaladores do local, nem tive tempo de prestar a atenção que havia uma lágrima em meu olho, acho que sonhei com ela de novo... Não sei porque, mas este shopping e tudo mais que está acontecendo me lembra muito da última vez em que vi a Riley... Esqueça isso Ellie, Joel precisa de sua ajuda. Enfim, guardei rapidamente o kit, e me apressei para descer deste helicóptero.

Ao sair, comecei a correr em direção onde deixei Joel, e assim encontrei três caçadores; Um deles estava sendo morto por um estalador, e outros dois tentando salvar o amigo. Apesar de conseguirem salvá-lo, eles nem pensaram duas vezes antes de o matarem.

Não me importei tanto com a cena que presenciei, mas a conversa deles, sugeriam que estavam caçando eu e Joel, droga! Temos que sair daqui e já. Então, agarrei o arco e flecha do cara morto, e matei os outros dois furtivamente. Temendo pelo pior, comecei a correr, e novamente encontrei alguns outros caçadores em uma antiga loja de sapato, para a minha sorte, havia infectados no local, que facilitaram e muito a minha passagem. Quando finalmente cheguei nos arredores da loja onde deixei o Joel, encontrei vários caçadores no local, e isso fez com que eu me escondesse rapidamente. Ouvi um deles dizendo que tinha escutado o cavalo, e outro confirmando que havia seguido as pegadas. Credo! Parece que eles realmente estão caçando a gente, bom, tenho que fazer algo.

Respirei fundo, e acabei improvisando uma granada de fumaça com alguns itens que encontrei pelo caminho, então o joguei em direção a porta, assim cegando aqueles que estavam por perto. Apesar de ter conseguido afastar os caçadores da porta, eles ficaram totalmente enfurecidos e começaram a atirar em minha direção.

Me escondi imediatamente, e só senti vários tiros voando pela minha cabeça. Continuei o tiroteio, até consegui matar alguns, mas eles estão em maior número. Eu estava quase desistindo, até que alguns estaladores apareceram e fazerem a limpa no local. Aproveitei a oportunidade e entrei na loja. E assim esperei o local estar todo tranquilo para que finalmente pudesse dar os pontos em Joel.

Depois de cuidar do Joel, liberei a saída dos fundos e o amarrei novamente na tábua, mas antes de sairmos o cobri com vários cobertores, não queria que ele sinta frio enquanto estivermos lá fora. Enfim, comecei a cavalgar sem parar em busca de algum lugar que possamos ficar tranquilos. 


Capítulo 9


Após várias horas cavalgando, finalmente encontrei um pequeno bairro que parecia ser seguro, então, entrei dentro de uma casa e comecei a fechar as portas e janelas. Fiz outra fogueira para manter o Joel aquecido, e mais uma vez saí em busca de suprimentos, mas neste momento eu fui caçar, pois estava morta de fome.

Consegui matar alguns coelhos, mas confesso que não é o suficiente para saciar a fome. Acho que fiquei caçando por umas duas horas, até que encontrei um cervo. Ao atirar três flechas nele, somente uma foi eficaz e as outras duas passou raspando em seus pelos. Não desisti e comecei a ir atrás dele, segui o rastro de sangue que ele deixou, passei por uma antiga cabana de madeira, e quando eu finalmente o encontrei, ele já estava morto.

Quando consegui chegar perto o suficiente do cervo, escutei um pequeno galho se quebrando atrás de mim. Então apontei rapidamente o meu arco em direção do barulho.

- Quem tá aí? - Esperei um pouco - Apareça!
- Oi... Só queremos conversar - Um homem de barba bem feita com um cabelo penteado e um rifle em suas costas, surgiu de trás da árvore e mais um outro junto a ele.
- Se fizerem algum movimento repentino, eu acerto uma flecha em suas cabeças - Eles se entreolharam - O que querem?
- Meu nome é David, e este aqui é o meu amigo, James. Estamos em um grupo maior, mulheres, crianças, temos muita fome - Mentiroso.
- É aqui também, mulheres, crianças, todos famintos.
- Bom, talvez possamos fazer uma trocar algo por essa carne aí. Do que você precisa? Armas, munição, roupas...? - David começou a se aproximar de mim, e acabei me afastando lentamente também.
- Vocês tem antibióticos?
- Temos... No acampamento - David olhou para o seu parceiro - Bom, você pode nos seguir...
- Não vou seguir ninguém... O garotão ali pode buscar - Apontei para o rapaz ao lado de David - Ele volta com que eu preciso, e o veado é de vocês. Se alguém mais aparecer eu...
- Você vai atirar na minha testa.
- Isso mesmo.

Os dois ficaram se entreolhando, pensando em seu próximo passo, até que demorou um pouquinho para que eles dessem uma resposta.

- Certo... Dois vidros de penicilina e uma seringa. Seja rápido - Disse David para o rapaz.

Ótimo, agora vai ser mais fácil cuidar do Joel. Mas, tinha só mais uma coisa que preciso fazer.

- Agora... Me passe o seu rifle.
- É claro - Ele se aproximou de mim, e deixou o rifle no meu pé.
- Se afaste - Continuei apontando o meu arco nele enquanto se afastava.

Apanhei o rifle e verifiquei a sua munição bem rápido, e apontei para o David.

- Olha, meu acampamento é um pouco longe, então ele pode demorar - Apontou com a cabeça para a antiga cabana de madeira - Ali é um bom lugar para nos abrigarmos do frio.
- Tá bom, então você leva o cervo conosco.

Ele se aproximou do cervo, o arrastou até a pequena cabana, e enquanto ele fazia isso, continuei a apontar o rifle a ele. Quando chegamos na cabana, eu fiquei perto da janela a procura de inimigos, enquanto David começou a fazer uma fogueira.

- Pronto - Disse David após completar a fogueira - Sabe, você não deveria estar por aqui sozinha.
- Não gosto de companhia.
- Entendi. Qual o seu nome?
- Por quê?
- Olhe, eu sei que não é fácil confiar em dois estranhos. Está claro que você se importa com quem está machucado. Mas tenho certeza que tudo ficará bem.
- É o que vamos ver.

Nem deu tempo de David falar alguma coisa, até que alguns estaladores invadiram à cabana e ele sacou uma pistola escondida e eliminou o invasor.

- O quê? Você tinha outra arma?! - Não consegui conter a minha surpresa.
- Desculpe - David começou a ver um bando de estaladores chegando - Olha, eu agradeceria se você devolvesse o meu rifle.
- Não! Você tem a sua pistola.
- Aff, espero que você saiba usar essa coisa - Parece que deixei o David irritado.

Enfim, David correu para trancar a porta com a mobília e pediu para que eu ficasse vigiando as janelas. Ao aguardarmos um pouco, uma horda enorme de estaladores surgiu e começaram a invadir a cabana. Faça os tiros valerem a pena.

Conforme os matávamos, mais e mais vinham surgindo, fomos tapando as janelas com o que achamos dentro da cabana, mas nada disso os deteve. Graças a isso, fomos obrigados a escapar pelos fundos. Nós começamos a correr até um lugar que se parecia com uma antiga fábrica.

- Você sabe aonde está indo? - Perguntei ao David.
- Para falar a verdade, nunca entrei neste lugar.

Que ótimo, se eu morrer primeiro, irei puxar seu pé de meu túmulo. Sério, não consigo nem um pouco confiar nele, mas fazer o que né. Conforme avançávamos na antiga fábrica, nossos caminhos acabaram se separados, graças a uma plataforma que caiu e me derrubou junto.

- EI GAROTA VOCÊ ESTÁ BEM?! - Perguntou David.
- Tô bem... 
- MAIS ESTALADORES, SAIA DAÍ - Vários estaladores começaram a perseguir o David e o mesmo começou a correr.

Comecei a correr também, eliminando os estaladores necessários e eventualmente reencontrei com o David. Começamos a correr juntos, fomos parar em uma enorme sala no segundo andar, e de lá verificamos se havia alguma saída e nada... Estamos confinados em uma sala esperando a morte certa, assim começamos uma busca na sala a procura de qualquer coisa que nos ajudasse a se livrar destes malditos estaladores.

- Deve ter um jeito de sairmos daqui - Suplicou David.

Ao explorar um pouco a sala, encontramos algumas camas e cadáveres cheio de mordidas e órgãos expostos e espalhados. Parece que alguém já lutou com essas coisas e perdeu... Fiquei encarando o corpo temendo pelo pior, e David o fitou com uma enorme tristeza. 

- Meu deus... Eu estava procurando esses caras - David parou e deu um suspiro - Não importa, pegue o equipamento deles, vou procurar uma saída.

Apanhei algumas coisas desses cadáveres, dividi a munição com o David, e peguei pra mim dois coquetéis molotov deles. Não é muita coisa, mas vai ajudar a sobrevivermos... Eu não posso morrer enquanto não ajudar o Joel e os Vaga-lumes. Aproveitei e improvisei algumas granadas de pregos também.

- Ei, David, encontrou alguma saída?
- Não tem saída, é como se eles tiveram utilizado essa sala para confinamento.
- Então o que podemos fazer?
- Manteremos a nossa posição.
- Temos outra opção?
- Morremos.
- Que animador.
- Menina se prepare - David apontou para uma janela, e nela havia inúmeros infectados se aproximando de nós.

Nós não estávamos preparados para os infectados. Vários deles começaram a atravessar a porta, joguei um molotov em direção a eles, e alguns outros começaram a escalar o telhado. Foi uma batalha muito difícil, não só tínhamos de se preocupar com a frente, mas com a parte de cima também. Enfim, fui matando eles o mais rápido que podia com o rifle, David compartilhou um pouco de sua munição comigo, joguei minhas granadas na direção deles, gastei toda a munição de pistola e não acabava, parecia que não tinha fim, até um verme veio os acompanhando.

Para a minha sorte, o David estava lá me apoiando sempre me ajudando quando estava em situações de quase morte, e é claro que o ajudei também, mas mesmo assim... Tenho que lembrar daqueles caras do shopping e da faculdade, que estavam caçando a gente. Mesmo que seja improvável que ele faça parte desse grupo, ainda não posso acreditar nele.

Depois de uma hora enfrentando os infectados e o maldito verme, acho que finalmente conseguimos eliminar todos os adversários.

- Ei garota, escuta - David me fez parar por um minuto - Ouviu alguma coisa?
- Nada.
- Então, conseguimos, acho que conseguimos.
- Tipo, matamos todos?
- Ha ha ha, não fique decepcionada garota.
- É que é meio difícil de acreditar.

David me acompanhou até uma janela.

- Tá vendo algo?
- Nada de infectado.
- Nada de infectado - Soltou uma pequena risada - Pronto, vamos ver aquele seu animal.

Depois de conferirmos o quanto a área está tranquila, nós voltamos a velha cabana, e ao chegar lá, David veio me parabenizar.

- Você foi muito bem lá atrás garotinha. Ah, já disse que formamos uma ótima equipe?
- Psshh. Tivemos sorte.
- Sorte? Não, não não... Sorte não existe. Sabe, eu acho que tudo acontece por um motivo.
- Claro.
- Eu acho, posso provar. Olha, esse inverno foi extremamente cruel. Há algumas semanas, eu... Mandei um grupo de homens para a cidade e procurar comida. Poucos voltaram, eles disseram que os outros hã... Tinham sido assassinados por um cara louco... E veja só, disseram que esse cara louco estava acompanhado de uma garotinha.

NÃO NÃO NÃO NÃO, somos nós, ele realmente está caçando a gente, calma Ellie, ele ainda não sabe quem você é, então tenho um pouco de vantagem. Não sabia muito como reagir ao que o David disse, sei que lutei e muito para manter a calma e a compostura.

- Tá vendo? - Começou novamente o David - Tudo acontece por um motivo.

Peguei o rifle novamente e o apontei para David.

- Calma, não é sua culpa, você é só uma criança - Notei malícia em seus olhos, cadê aquele cara com os remédios? 

Estava começando a sair devagarzinho da cabana, até que...

- James, abaixa a arma - Disse David.

O quê?! Quando que esse cara chegou aqui sem eu perceber? James estava apontando sua pistola pra mim e me olhando firmemente.

- Não David... Não vou deixar ela escapar! - Disse James.
- Abaixa a arma - David falou com toda a calma.

Eu permaneci apontando o rifle, mas estava meio que confusa em qual pessoa que tinha de mirar. David pensou um pouco, e finalmente disse:

- Dê o remédio a ela.

James jogou uma pequena bolsa para mim, conferi seu conteúdo e notei que ele cumpriu sua parte do acordo. Então, para cumprir com o trato, o cedi o cervo que cacei.

- Os outros não vão gostar disso - Concluiu James.
- Bom, isso não é problema seu - Falou David.

Caminhei até a porta, com a arma empunhada em direção a eles, James impediu minha passagem.

- Sai da frente droga!

E assim James me deixou partir com muita amargura. Antes de sair definitivamente, David disse mais uma coisa antes.

- Você não vai durar muito lá fora... Posso proteger você.
- Não, obrigada.

Comecei a correr o mais depressa possível para alcançar o cavalo e assim o Joel. Tomei o máximo de cuidado possível para que não fosse seguida por aqueles loucos. Então, entrei na casa e tranquei a porta da frente, fui rapidamente fazer outra fogueira para Joel, em seguida o dei uma injeção de penicilina direto na ferida. Agora você vai ficar bem. Depois de deixar ele confortável, assei os coelhos que cacei, e comecei a comê-los. Não era a melhor comida que já provei, mas é melhor do que passar fome. De barriga cheia, fui dormir ao lado de Joel, torcendo que ele fique melhor pela manhã.

Depois de uma boa noite de sono, eu acordei graças a alguns barulhos vindo do lado de fora da casa. Ao verificar o motivo, descobri que eram os capangas de David que tinham vindo caçar a gente. Porra, eles me seguiram! Então comecei a bolar um plano, como o Joel não pode lutar, tenho que afastar eles daqui. Então abri o portão e o fechei levemente em seguida, e após tudo pronto, subi no cavalo e comecei a gritar para os caras em uma tentativa de chamar o máximo de atenção possível. Funcionou por um tempo, mas um dos soldados abateu o meu cavalo e assim me fez cair em um pequeno morro que fica ao lado do rio.

Enquanto via o cavalo morto diante de mim, não conseguia conter meu ódio por eles. Esses desgraçados! Tive de continuar descendo o morro, para que só assim eu consiga dar a volta neles e voltar para o Joel. Enfim, segui o meu caminho, e encontrei um pequeno lugar onde pescadores se reuniam para pegar peixes ao lado do lago, mas agora estava cheio de caçadores atrás de mim. Até consegui matar alguns furtivamente, mas ao mesmo tempo fiquei perdida, então passei ao meio de algumas rochas e um pequeno cano de esgoto, e finalmente encontrei o meu caminho.

Enquanto explorava ainda mais as casas na beira do rio, tive de empurrar uma caixa - bem pesada por sinal - e assim conseguir entrar em uma outra casa para só assim conseguir chegar na avenida principal. E adivinha... Esta área também está lotada de caçadores, o que será que o David dá pra eles? Meu... É muita gente para seguir apenas duas pessoas, será que conseguimos fazer um estrago bem grande? Calma Ellie, só atravessar essa casa, e você finalmente vai conseguir chegar até o Joel.

Ao eliminar o necessário, pude finalmente chegar até os fundos da casa. Ao avançar pelo porão, e explorar um pouco o estabelecimento, consegui notar que este lugar não era uma casa qualquer, é um antigo restaurante. Enfim, fui pegando os suprimentos necessários e eventualmente fui surpreendida por caçadores espiando pela janela e que imediatamente deram tiros em minha direção. Consegui desviar por muito pouco, e fui avançando até a porta principal. Como ela estava emperrada, tive de utilizar muita força para conseguir abri-la, e ao concluir minha ação, David chegou por trás e agarrou o meu pescoço. Peguei rapidamente a minha faca, e fui esfaqueá-lo, ele segurou a minha mão e me fez perder a consciência. A última coisa que ouvi antes de desmaiar era:

- Calma, garotinha, estou te mantendo viva... Agora, tenha bons sonhos - Disse David.

Capítulo 10


Acordei. A primeira coisa que fiz foi esfregar meus olhos. Quando fui levantar, consegui ver que estava enjaulada por um cadeado, e um açougueiro cortando uma carne em minha frente, quando forcei os meus olhos para ver o que o cara estava cortando, só vi um braço humano cair no chão, fiquei imediatamente desequilibrada e caí no chão.

O açougueiro olhou para mim, e foi andando em direção a saída. Aproveitei a oportunidade e forcei a porta na minha frente, mas sem sucesso, precisava de uma chave para sair daqui. 

- Como você está? - Perguntou David se aproximando com uma bandeja de comida junto de um copo enquanto me via tentando fugir desesperadamente.
- Ótima.
- Toma - David ficou na frente do portão e passou o prato comida por baixo - Você precisa comer.

Fiquei encarando o prato de comida, ele tinha uma cor bem alaranjado junto de alguns pilotas pretos, não sei identificar que tipo de alimento que é esse.

- Eu sei que está com fome - Começou David - Faz algum tempo que não venho.

Fiquei o encarando, não sabia como reagir. Será que esses pilotes não são carne humana? Sei que estou com fome, mas nunca vou agir como um animal. 

- O quê é isso? - Perguntei a ele.
- É veado.
- Com um pouco de humano para acompanhar?
- Não. Não, eu juro, é só carne de veado.
- Você é um animal - Fui imediatamente comer a comida, por incrível que pareça, estava gostoso demais.
- Você está julgando muito rápido - David se agachou para ficar na minha altura - Considerando que você e seu amigo mataram, quantos homens?
- Não tivemos escolha.
- E você acha que tivemos escolha? É isso? - David soou bem indignado. Ele ficou me encarando enquanto comia - Vocês matam para sobreviver... E nós também. Temos que cuidar dos nossos. Seja de qualquer maneira.
- E então? Você vai me cortar em pedacinhos?
- Espero que não - David soltou uma pequena risada - Me diga o seu nome.

O encarei por alguns segundos, e joguei a merda do prato de comida em seu pé.

- Você está mentindo - Me levantei.
- Pelo contrário - David começou a juntar a bagunça que fiz - Eu estou sendo hã... Muito honesto com você - Se levantou também - Agora é a sua vez. Só assim poderei convencer os outros - Fez um pequeno gesto apontando para a porta.
- Convencer eles de quê?
- De que pode se arrepender. Você é corajosa, leal, e especial - David se aproximou da porta e ficou cara a cara comigo.

David até colocou sua mão em uma de minhas palmas. Então comecei a aproximar minha mão direita de seu braço e desloquei um de seus dedos. Ele deu um belo grito de agonia, acho que é a primeira vez que sinto prazer de escutar um grito de dor de alguém que detesto. Enquanto eu segurava o seu braço, fui rapidamente tentar apanhar a chave de seu cinto, mas ele agarrou a minha mão e me puxou fazendo minha cabeça bater na porta, assim me fazendo cair no chão.

Enquanto estava desnorteada, David se afastou de mim muito irritado e disse: 

- Sua garotinha idiota. Assim vai ser muito difícil te manter viva. O que vou dizer aos outros agora? - David começou a ir embora.
- Ellie.
- Quê?
- Diz isso pra eles... "Ellie é a garotinha, que quebrou a PORRA do seu dedo".

David ficou me encarando, agora não sabia o que ele ia fazer, mas devia estar muito irritado.

- Como disse? Humm? - Fez uma breve pausa de propósito - Pedacinhos? - Ele deu um sorriso malicioso - Te vejo amanhã, Ellie - Finalmente foi embora.

Infelizmente não tenho escolha, realmente tenho que esperar até o amanhecer para conseguir escapar...


...

Acordei, me senti estranho ao me levantar, senti uma baita dor em meu abdômen e consegui lembrar o que aconteceu, uma enorme barra de ferro estava presa em meu corpo graças a minha queda. Mas como vim parar neste porão escuro? Cadê o cavalo? Ellie? Droga, estou me sentindo uma merda agora. Tentei me levantar, mas tive dificuldades por causa da dor que estava sentindo. Quando coloquei minha mão no ferimento, percebi que não estava sangrando, isso é bom, significa que Ellie estava cuidando de mim enquanto delirava.

- Ellie? - Chamei por ela, mas tudo o que recebi em troca, foi um eco frio de minha voz.

Vi minha mochila e as minhas coisas espalhadas pelo chão, depois de apanha-lás, fui andando em direção à saída, mas quando andava, senti uma pequena tontura e me apoiei na mobília. Chamei de novo pela Ellie, mas sem resposta... Onde foi que essa menina se meteu?

Conforme tentava explorar aquele pequeno bairro nebuloso, consegui enxergar duas pessoas abrindo a porta, matei um e o outro começou a fugir.

- ONDE ELA ESTÁ?!
- Rápido, não deixa ele pegar você - Disse um dos caçadores - Então existem outros inimigos atrás da cerca, interessante... Vou fazer um desses filhos da puta me dizerem onde a Ellie está.

Comecei a correr em direção a cerca, lá de dentro dei um tiro muito preciso em um caçador e alguns outros começaram a atirar em minha direção.

- Continua correndo! - Disse um deles.
- DE UM JEITO OU DE OUTRO, VOCÊ VAI FALAR!

Eu senti muita raiva no momento, se aqueles caras estavam aqui atrás de mim, significa que também foram buscar a Ellie. Conforme avançava, via que o caminho atrás da cerca dava para o quintal de uma das casas, e mais caçadores apareciam, mas sempre que me aproximava, sempre tinha um fugindo.

Quando estava seguindo esse fujão, um outro caçador me surpreendeu pelas costas e me agarrou.

- Te peguei o imbecil - Disse o caçador me segurando - Vai, acaba com ele!

Pelo canto de meus olhos, consegui enxergar o cara que estava fugindo se aproximando de mim com uma faca. Lutei como se não houvesse amanhã, e com muito ódio, chutei a pélvis do cara com a faca, e dei uma caebeçada no cara que estava me segurando.

- Filho da puta - Peguei o rosto do cara que estava atrás de mim, e o soquei com força na parede, o nocauteando de uma vez, e chutei a cara do outro. Com os dois inconscientes, os levei para uma casa (aparentemente vazia), amarrei um dos dois em uma cadeira, e comecei a socar o outro.

- O quê vocês querem? Mas que droga - Disse o cara da cadeira.

Vendo que fiz nada com o cara amarrado, deixei o outro no chão, e fui em direção dele. Peguei uma faca, e aproximei uma cadeira para me sentar.

- Agora... - Sentei na frente do cara amarrado, vi que seu rosto estava tremendo de medo, não parava de se mexer na cadeira, tentando se afastar o máximo de mim... Isso é bom - A garota, ela tá viva?
- Que garota? Não conheço nenhuma garota. 

Antes dele continuar falando bobagens, enfiei a faca diretamente em seu joelho, e ele gritou de volta em agonia.

- Meeeerdaaa! 
- Presta atenção aqui - Dei um tapinha em seu queixo - Agora vou arrancar a merda do seu joelho. A garota.
- Ela tá viva - O cara estava de olhos fechados, tentando suportar o máximo possível da sua dor - Ela é a nova mascote do David.
- Onde - Não parei de segurar a faca nem por um minuto, estava bem firme, comecei a girar para ele sentir mais dor.
- Na cidade, na cidade.

Tirei a faca de seu joelho, e enfiei o cabo na sua boca. 

- Agora, você vai marcar a localização da cidade no mapa. E é melhor que seja onde o seu amigo ali vai apontar.

O cara desenhou um circulo no meio do mapa e cuspiu a faca.

- É bem aí. Pode verificar. Pergunte a ele, vamos. Ele vai te falar. Não tô mentindo, não tô mentindo.... - Ele foi interrompido por mim, pois o enforquei e acabei quebrando o seu pescoço.

Fui me aproximando bem devagarzinho do cara que deixei no chão, ele estava com um rosto misturado entre desespero e espanto, acho que ele não estava esperando que eu matasse o seu amigo.

- Vai a merda, cara. Ele te disse o que queria. NÃO VOU TE FALAR NADA! - Gritou se afastando de mim.
- Isso mesmo - Peguei um pedaço de cano que encontrei no chão - Eu acredito nele.
- ESPERA, ESPERA...! - O matei com um golpe certeiro no meio de seu crânio.

Apesar de não precisar de toda essa violência, eu finalmente consegui descobrir onde Ellie estava, espere por mim garotinha, já estou chegando.


...



Acordei na base do susto com um cara me agarrando.

- Hora de acordar! - Disse um dos capangas de David enquanto me arrastava.
- Me solta! - Tentei resistir, mas sem sucesso - PAAARAAA! - Quando o cara parou e me entregou ao David dei uma mordida na mão dele.

David gritou, e ajudou o seu amigo a me deixar em cima de uma mesa. O cara continuou me segurando, enquanto David pegava a faca, ele estava prestes a me matar até que:

- Eu estou infectada, estou infectada! - Eu disse a eles.
- Ah é? - David duvidou de mim.
- ... E você também - David se aproximou de mim, tentando ver se estava mentindo - Bem aí, arregace a manga - Apontei para o meu braço - Olha só! 

David fez um movimento repentino com a faca, e me deu um susto quando esfaqueou a mesa. Ele puxou a manga de minha blusa e expôs a cicatriz da mordida que levei quando estava com a Riley. 

David ficou encarando sem parar, ele nem sabia o que fazer... Nem seu companheiro.

- O que você acha? Tudo acontece por um motivo não é? - O provoquei um pouco.
- O que diabos foi isso? - Perguntou o companheiro de David, enquanto apontava para minha cicatriz.
- Ela já teria se transformado. Não pode ser real - David está ficando histérico.
- Parece bem real para mim!

Aproveitei a oportunidade e agarrei a faca do meu lado, e enfiei no capanga de David, ele até tentou atirar em mim, mas foi sem sucesso, e graças ao seu fracasso, fui correndo pegar a minha faca que estava em um balcão próximo, e me apressei para pular uma janela. Finalmente estava livre.

Para ajudar ainda mais a situação, estava ocorrendo uma nevasca, que me impedia de enxergar o que estava a minha frente. Enquanto corria a rumo ao desconhecido, eu não conseguia me parar de perguntar: qual é o problema dessas pessoas? 

Enquanto corria, percebi que estava presa em um beco, e quando avançava ainda mais, dava-se para escutar os gritos de David vindo de trás de mim. Entrei rapidamente nos fundos de um lugar parecido com um mercadinho, e finalmente estava na avenida principal. Tive de tomar muito cuidado com alguns seguranças que rondavam pela área, então matei um furtivamente e apanhei a sua arma, assim teria como me defender em longas distâncias.

Ao avançar ainda mais pela nevasca, consegui escutar algumas conversas em relação ao David, alguns de seus capangas acham que ele vai morrer pois pensam que ele está infectado, e outros dizem que devem começar a me caçar. Querendo ou não, as coisas estavam começando a ficar ainda mais complicadas. 

Conforme avançava, um sino muito barulhento começou a ecoar pela cidade, e isso complicou ainda mais a minha passagem, já que todos os soldados de David começaram a me procurar. Tudo isso me fez apertar ainda mais o passo, e a medida que procurava algum tipo de saída, encontrei uma janela aberta. Comecei a subir em um latão de lixo e finalmente consegui me abrigar da nevasca.

Quando consegui adaptar o meu olho a escuridão que o lugar se encontrava, consegui enxergar que o local não passava de um restaurante espalhado com pratos quebrados no chão, e alguns latões com fogo em seu interior para iluminar a área. Explorei um pouco do lugar para ver se havia algum tipo de suprimento, e quando fui sair para prosseguir em meu caminho, David me surpreendeu e me foi me agarrar, mas no momento em que fez isso, acabou derrubando uma lamparina e o fogo começou a se alastrar.

- É fácil achar você - Disse ele enquanto retirava a pistola de minha mão.

Eu tentei resistir, quando ele foi olhar para o seu lado esquerdo - onde a lamparina estava - ele percebeu que um incêndio estava começando, mas não ligou, pois graças a este incêndio, a saída estava bloqueada, então aproveitei essa deixa e me escondi atrás de uns bancos neste restaurante escuro.

- Como você fez isso? - Perguntou David com a pistola empunhada - Tá tudo bem, agora você não tem para onde ir.

Comecei a me afastar da porta principal, tudo o que me restava era se esconder desse idiota, e atacá-lo por trás. Isso não vai ser uma tarefa fácil.

- Se você quiser sair, vai ter que pegar as minhas chaves - Ele balançou as chaves - Sei que você não está infectada. Nenhum infectado luta tanto para ficar vivo.

Para a minha sorte, era que ele estava de pé e fazendo muito barulho, como eu estava agachada, consegui esgueirar por trás dele e esfaqueá-lo pelas costas. Mas quando fiz isso, ele me contra-atacou e tentou atirar em mim, e por pouco não tive buracos em meu peito. Fui apressadamente me distanciando dele novamente.

- Essa foi boa garota - Disse David - Vai ficar tudo bem - Consegui escutar o David sacando o seu facão, agora a luta ficou séria. 

Ele foi se apressando imediatamente onde estava, então para fugir dele, comecei a correr na direção oposta. Por sorte, consegui me esconder rapidamente e assim fui capaz de evitar o seu olhar malicioso. Estava escondida entre as cadeiras do restaurante, quando David passou na minha frente sem saber onde estava, meu coração bateu muito rápido. Quando ele desapareceu de minha vista, eu concentrei em ouvir os meus arredores e no fundo, pude escutar alguns cacos de prato se quebrando bem baixinho atrás de mim. 

Aproveitei e dei uma espiada sobre a mesa, e assim consegui enxergar o David de costas para mim, não vai ser muito fácil chegar até ele, pois ele passou por inúmeros cacos, tinha que esperar uma oportunidade, anda logo Ellie, ele está só ali, se você sair correndo você se aproximará dele mais rapidamente. Não! Não posso fazer isso, bom... Tem uma maneira dele se aproximar de mim sem que me perceba.

Então, peguei uma garrafa vazia e o joguei próximo de mim. David foi atraído pelo barulho e como mantive escondida, aproveitei a oportunidade e o ataquei pela segunda vez. Depois de esfaqueá-lo saí correndo novamente de sua ira e me escondi em seguida.

- Corre coelhinho, corre! - David ficou ainda mais furioso, por que que esse cara não MORRE?!

Depois de desviar dos tiros de David, me escondi rapidamente e infelizmente, ele fez o mesmo. Ele dificultou e muito para eu detectar a sua presença, dei algumas espiadas e não enxerguei nada. Confesso que conforme procurava por ele, senti que alguém estava me observando, talvez ele saiba onde é que estou. 

Continuei procurando por ele, às vezes conseguia escutar certos passos apressados em minha volta. Então, decidi ir na cozinha, e de lá, ir para um antigo escritório onde conseguia ver duas portas simultaneamente que davam direto para o salão principal. Depois de esperar um certo tempo, vi David se aproximando da cozinha e ficando em uma esquina para vigiar o salão principal, agora é a hora de atacar.

Pulei em suas costas e enfiei a faca em seu peito, David gritou em agonia e me jogou imediatamente no chão e graças a dor que sentia, deitou-se também.



...


Depois de entrar na cidade, a primeira coisa que escutei foi um sino bem barulhento, e alguns caras dizendo que uma garota infectada escapou, deve ser a Ellie. Graças a nevasca, pude passar e matar silenciosamente os guardas, mas sempre tomando cuidado com o desconhecido. Tive de explorar e muito o lugar só para encontrar uma porta aberta que levava a um pequeno armazém que continha a mochila dela. O que é isso? Por que as coisas da Ellie estão aqui? Depois de pegar a mochila, ao explorar mais um pouco do lugar, descobri que não passava de um açougue, mas lá não continha carne comum, eles penduraram cadáveres humanos. Então eles vão devorar a Ellie? Era uma cena muito cruel de se presenciar. Preciso encontrar ela, preciso encontrar ela.

Depois de sair do açougue, dei de frente com uma casa pegando fogo, não consegui conter a minha preocupação, então saí correndo em sua direção.



...


Ainda estava deitada enquanto via o restaurante pegar fogo, acho que inalei muita fumaça, e isso me deixou muito fraca. Quando olhei para o meu lado, vi que o David também estava caído. Ao tentar me levantar para fugir, vi o seu facão não muito longe, então me arrastei para pega-ló. Conforme eu prosseguia, David viu que estava indo em direção de sua arma e veio correndo em minha direção e deu um chute em meu estômago. Gritei em agonia.

- Eu sabia que você tinha coragem. Olha, não tem problema em desistir. Não há nenhuma vergonha nisso - Disse David enquanto me via em seus pés.

Apesar de David ter toda a vantagem, ainda assim continuei seguindo em direção a faca.

- Acho que não, não é seu estilo né? - Dizia David enquanto me via se arrastando.

Ele me deu outro chute, me agarrou pelo meu cabelo, e se aproximou de minha orelha.

- Pode tentar implorar.
- Vai à merda!

David me virou para que pudesse ver meu rosto, e começou a apertar o meu pescoço.

- Acha que me conhece? Hein? Deixa eu te dizer uma coisa. Você não tem ideia do que eu sou capaz - David apertou ainda mais o meu pescoço.

Senti meu ar esvaziando lentamente de meu pulmão, então de maneira desesperada, estiquei a minha mão e comecei a bater ela no chão procurando pela faca e quando a encontrei, cortei o David com ela, ele caiu no chão de tanta dor, mas mesmo assim, fiquei em cima de seu peito, e comecei a socá-lo sem parar, sem parar mesmo.

 Morra, morra, morra, morraaaaaaa! Não conseguia parar de bater nele, de jeito nenhum me sentia satisfeita, ele queria me comer, me enganou, quase matou o Joel... E ver aquele seu rosto desfigurado não me deixava satisfeita, então continuei batendo.

- ELLIE! PARA! - Alguém me agarrou pelas costas e me afastou do cadáver de David.
- NÃO TOCA EM MIM!
- Shhh, shhh. Tudo bem.
- NÃO!
- Calma sou eu - O homem me virou para que pudesse me ver, esse homem era o Joel. Ele colocou sua mão em meu rosto.
- Ele tentou... Ele tentou...! - Não consegui conter minhas lágrimas, é a primeira vez que quase viro comida de canibais.
- Ah, menininha - Joel me abraçou bem forte, e retribui com a mesma intensidade. Nunca senti tanto alívio por o ver bem - Tá tudo bem Ellie, tá tudo bem - Ele me afastou, mas não soltou as suas mãos de meu rosto.
- Tá tudo bem?
- Sim.
- Ótimo, agora temos que sair daqui.

Enquanto saímos do restaurante, Joel continuou me abraçando e ficamos assim até escaparmos da cidade, tomamos o maior cuidado possível com os guardas remanescentes. E assim voltamos aos eixos, infelizmente, essa expêriencia ficará marcada para o resto de minha vida, não quero passar por isso de novo, de jeito nenhum.


Capítulo 11

Já é primavera. Após termos caminhado bastante, eventualmente adentramos na cidade onde os vaga-lumes residem. Fiquei preocupado com a Ellie, ela ficou quieta quase a jornada inteira e muito distraída no caminho. Se eu não tivesse prestado atenção, eu a teria deixado para trás por causa de um mural de zoológico.

- Ellie! - Gritei para ela.
- Oi - Respondeu ela com a cabeça nas nuvens.
- Você me ouviu?
- Não, o quê?
- Olha - Apontei para o hospital - É para lá que vamos.

Ao prosseguirmos pela a rodovia principal, senti uma gostosa brisa.

- Tá sentindo essa brisa? Em um dia assim, eu sentaria na varanda para tocar violão. É, quando terminarmos com isso, vou ensinar você a tocar violão - Olhei para a Ellie e percebi que ela ainda estava meio avoada - É, acho que você gostaria - Tentei chamar a atenção dela mais uma vez - O que acha hein? - Sem resposta.

Aff, o que aconteceu com ela? Sei que ela passou por uma experiência traumática, mas ficar calada por tanto tempo não é saudável, bom depois eu vejo isso. Agora tenho de focar em encontrar esse raio dos vaga-lumes. Enquanto prosseguia, fui chamar novamente a atenção de Ellie, pois ela novamente ficou totalmente estática no meio da rua, mas quando me aproximei, ela começou a falar.

- Sonhei que estava voando um outro dia.
- Ah, é?
- É.
- Vamos, me conte.
- Eu... Tava em um avião cheio de gente. E todos gritavam e berravam porque o avião estava caindo. Então fui até a cabine, abri a porta e não tinha piloto. Eu até tentei usar os controles mas... Obviamente, eu não sei pilotar um avião. E logo antes de cair, eu acordei - Ela deu uma suspirada - Eu nunca entrei em um avião. Não é estranho?
- Bom, os sonhos são estranhos.

Ao seguirmos a rodovia, eventualmente encontramos nosso caminho bloqueado por um ônibus, e uma enorme placa de "zona de quarentena" junto.

- Olha só isso, uma nova cidade outra zona de quarentena - Ellie me ignorou, mas quando consegui subir o ônibus, gritei novamente para ela - Lá está o hospital que o Vaga-lume falou, vamos garota.

Ao pularmos para o outro lado da barreira, nós acabamos adentrando em um antigo zoológico, mas como não tinha nenhum tipo de entrada para prosseguirmos, pedi a Ellie que pegasse uma escada que estava em uma plataforma superior, assim eu a ajudei a subir. Mas quando ela foi me passar, ela o jogou em cima de minha cabeça e saiu correndo para um outro cômodo.

- O que foi isso? Ellie? - Arrumei a escada rapidinho e comecei a subir.
- Você tem que ver isso - Ellie continuou a correr.
- O que foi? - Enxerguei uma sombra com um formato estranho em minha frente - Mas que merda...?

Ellie continuou a correr, e quanto mais corria, mais entusiasmada ela ficava. Tive de lutar para acompanhá-la, mas depois de passarmos por alguns cômodos, finalmente descobri o motivo dela estar tão animada de repente: era uma girafa se alimentando de folhas próximas . Ao me aproximar deste animal bem devagarzinho, acabei acariciando a sua cabeça.

- O que você está fazendo? - Perguntou Ellie.
- Tudo bem. Venha cá. Rápido vamos.

Ellie se apressou e também acariciou a girafa, mas depois de um certo tempo, ela foi embora.

- Ah, para onde ela foi? Ah, aqui vamos - Ellie saiu correndo para procurar onde a girafa tinha ido.
- Devagar menina.

Depois de subir alguns lances de escada, eu e Ellie subimos nos telhados do zoológico, e de lá vimos várias girafas indo embora, junto de algumas vegetações além do horizonte e nós ficamos admirando aquela bela vista encostados no parapeito do prédio.

- Então... Era como você esperava? - Tentei quebrar o gelo.
- Tem os seus defeitos. Mas... Não pode negar que a vista é boa.

Continuamos a encarar aquela vista por mais alguns minutos, até que finalmente decidi ir embora, mas ao abrir a porta da saída, acabei hesitando. Respirei fundo, e disse a Ellie:

- Não temos de fazer isso. Sabe disso né?
- Qual é a outra opção?
- Voltar pro Tommy e... Esquecer toda essa droga.
- Depois de tudo que passamos. De tudo que eu fiz. Não pode ser em vão - Ellie estava bem determinada e continuou na frente.

Ainda estava parado enquanto a via descendo as escadas, meio desanimado, mas se ela quer continuar... Que seja. No momento em que comecei a descer as escadas também acho que a Ellie me viu um pouco desanimado e tentou me confortar.

- Olha, eu sei que você tem boas intenções... Mas não tem meio termo aqui. Quando terminarmos, vamos para onde você quiser tá?
- Bom, eu não vou sair sem você, então vamos acabar logo com isso.

Ao sairmos para a avenida principal, nós encontramos outra área de triagem junto com alguns leitos improvisadas para cuidar dos infectados durante a epidemia.

- Nossa, esse lugar me trás lembranças.
- De quê? - Perguntou Ellie curiosa.
- Foi logo depois que as coisas se descontrolaram. Eu terminei em uma triagem como essa. Nossa, em toda parte... Havia famílias destruídas. Parecia que o mundo tinha virado do avesso de um dia para o outro.
- Isso foi depois que você perdeu a Sarah?
- Sim, foi...
- Eu não sei como é perder alguém que você ama tanto. Perder tudo que você conhece. Sinto muito, Joel...
- Tudo bem, Ellie. 

Antes de prosseguirmos, Ellie me chamou a atenção.

- Ei, Joel, tenho algo para você - Ela começou a revirar o bolso - Toma, a Maria me mostrou isso e eu hã... Roubei. Espero que você não se importe - Ellie me apresentou a foto que tirei com a Sarah, a mesma foto que recusei quando o Tommy me mostrou. Apanhei a foto e guardei em minha mochila.
- Bom, não importa o quanto você tenta, mas acho que não dá para fugir do passado. Obrigado.

Depois de agradecer a Ellie pela foto, nós atravessamos o campo de triagem, e em seguida fomos parar em um túnel.

- Dessa vez vai ser diferente, eu sei - Começou Ellie.
- Como assim?
- Eles estarão lá... Os vaga-lumes, tenho certeza.
- Certo.

Ao entrarmos dentro do túnel, nosso caminho estava impedido por inúmeros carros e um caminhão bloqueando a entrada. Ao ultrapassa-lós, encontramos inúmeros estaladores espalhados, juntos a um verme. Ao eliminarmos o necessário de maneira furtiva, tivemos de subir outro caminhão e assim adentramos em uma área completamente inundada. Ajudei a Ellie a prosseguir com um palete e uma escada para subir alguns destroços.

Quando nós avançamos ainda mais naquele túnel, tivemos de passar por um portão fechado, e que ao ajudar a Ellie pular a abertura de cima, tive também de a assistir matar um estalador por perto. Nós avançamos em uma outra área bem inundada, tive de auxiliar a Ellie ultrapassar utilizando um palete, depois ele desceu uma escada mas acabou quebrando a parede sem querer, e após tudo isso finalmente conseguimos sair dessa droga de lugar.


Mas antes de continuarmos avançando, encontramos outro segmento de túnel, mas este era o mais difícil de prosseguir, graças a forte correnteza que devia pertencer a uma usina hidrelétrica próxima. A única maneira de continuarmos era por meio de caminhões e ônibus espalhados pela área, pedi para a Ellie que ficasse atrás de mim, e assim progredimos.

Com muito cuidado, nós pulávamos de veículo em veículo, sem pressa, pois estávamos com medo que eles seguissem correnteza abaixo. Eventualmente tivermos de pular em um duto de ar. Após o meu pulo, me virei para ajudar a Ellie.

- Ok, vai pula!
- Você vai me pegar? - Ellie olhou aquela forte correnteza e teve medo de pular.
- Vou sim.

Então, depois de pegar um certo impulso, Ellie pulou e consegui agarrar a sua mão.

- Viu só? Você nem precisava de mim.
- Vamos sair dessa merda.

Ok né. Depois de descermos dos dutos, nós tivemos de prosseguir em cima de um ônibus, então a Ellie pulou primeiro, e depois que eu saltei, este veículo começou a tremer.

- Ah merda - Começou Ellie.
- Ellie, sai daí.

Então Ellie correu até uma plataforma, mas quando fui subir, os eixos deste palco cederam, e caí novamente no ônibus, mas desta vez ele começou a seguir a correnteza. Ellie até tentou me ajudar a levantar, mas foi em vão. Graças ao enorme tremor que o veículo causou, ele me desequilibrou e acabei caindo em seu interior.

Filho da puta! Tentei me agarrar em um de seus apoios, mas graças a forte correnteza que estava presente dentro do ônibus eu acabei sendo puxado para o fundo. Até consegui me agarrar em uma das barras de ferro, mas fui arrastado ainda mais ao seu interior.

Quando estava procurando uma maneira de contornar esse problema, Ellie pulou em uma porta que estava acima de minha cabeça, e assim começamos a forçar a sua abertura, mas quando tivemos sucesso, o ônibus começou a se virar. Até me esforcei para pegar a mão dela, mas foi tarde demais, o veículo acabou tombando e isso fez com que a ela fosse levada pela correnteza. Então, saí do ônibus e comecei a busca-lá naquele rio.

Tive de nadar bastante para encontrar a Ellie, e quando a encontrei, a carreguei para onde tinha terra firme. Ao finalmente sair desta merda de lugar, tive de fazer muita força para conseguir carrega-lá, e então quando fui verificar se ainda estava respirando, ela não deu sinal de vida, assim comecei a fazer uma massagem cardíaca, comecei a pressionar seu peito, rezando para que ela recobre a consciência. Fiquei tão focado na tarefa, que nem vi dois soldados se aproximando de mim.

- Mãos pro alto! - Disse uns dos soldados que se aproximavam de mim.
- Ela não está respirando - Olhei rapidamente para a minha frente, e percebi que estavam apontando suas armas para mim. Foda-se eles.
- Mãos pra cima agora!

Ignorei o pedido desses soldados, e continuei a fazer a massagem cardíaca, estava tão concentrado, que nem percebi que eles se aproximaram o suficiente e me deram um golpe em minha cabeça, fazendo eu perder a consciência.


Capítulo 12

Acordei, achei até estranho o cenário em minha volta, parecia que estava em um quarto de hospital, será que cheguei até o local dos vaga-lumes? Minha pergunta foi respondida de imediato quando olhei para a Marlene me encarando enquanto estava sentada ao meu lado.

- Bem vindo aos Vaga-lumes - Disse Marlene - Desculpe pelo... - Apontou para a região do rosto onde levei o golpe - Eles não sabiam quem eram vocês.
- E a Ellie?
- Ela tá bem. Eles levaram ela de volta.

Ufa, agora aproveitei e relaxei um pouco na cama de hospital, mas ainda não acabou, Marlene voltou a falar.

- Você veio até aqui... Como conseguiu?
- Foi ela. Ela lutou como louca para chegar aqui - Comecei a me levantar - Talvez fosse o destino.
- Perdi a maior parte da minha equipe cruzando o país. Praticamente perdi tudo. Então você aparece e encontramos vocês bem a tempo de salvá-la - Marlene soltou um sorriso - Talvez seja o destino.
- Me leve até ela - Comecei a descer da cama com calma.
- Você não precisa mais se preocupar com ela. Vamos cuidar de...
- Eu me preocupo. Só me deixa ver ela, por favor.
- Você não pode. Ela está sendo preparada para a cirurgia - Marlene ficou com uma cara séria. 
- Como assim cirurgia?
- Os médicos me disseram que o Cordyceps que cresceu nela sofreu algum tipo de mutação. Por isso ela é imune. Quando ele for removido, eles poderão fazer uma engenharia reversa e criar uma vacina - Ela fez uma pausa proposital. Ela estava tão contente que até seus olhos brilharam - Uma vacina.
- Mas ele cresce no cérebro.
- Sim.

Não consigo acreditar, se fizerem essa cirurgia na Ellie, ela morrerá. Não posso permitir isso.

- Ache outra pessoa.
- Não tem mais ninguém.
- Olha aqui - Comecei a me aproximar de Marlene - Você vai me mostrar onde...

Os soldados de Marlene chutaram a minha perna, fazendo com que eu caísse de joelhos no chão.

- Pare - Disse a Marlene para o seu soldado - Eu já sei, mas isso que você está sentindo agora, nem se compara com que eu já passei. Eu conheço ela desde quando nasceu, e prometi a sua mãe que cuidaria dela.
- Então por que vai deixar isso acontecer?
- Por que não sou eu que importo, nem mesmo ela. NÃO EXISTE OUTRA OPÇÃO!

Comecei a sentir muita raiva dela, dessa merda de vaga-lumes, eles não prestam. Sentei com as pernas cruzadas no chão, e a disse em seguida:

- Ah... Tá, continue dizendo essa mentira para você mesma.

Marlene ficou parada me encarando de maneira muito fria. Demorou um pouco para que ela tomasse alguma atitude.

- Tirem ele daqui. Se ele tentar alguma coisa, atirem - Marlene ficou me fitando como se estivesse decepcionada comigo - Não desperdice esse presente, Joel.

E assim Marlene sai do quarto. Eu que devia estar decepcionado, ela devia ter protegido a Ellie como o último desejo de sua mãe...  Acho que não tem jeito, já que ela permitirá que a minha menininha morra, eu não vou deixar. Então, fiquei sentado no chão por mais um tempinho, e deixei o guarda se aproximar de mim.

- Levanta - Disse ele levantando a sua pistola em minha direção - Mandei levantar.

Então eu levantei lentamente, e fui andando em direção a porta bem devagarzinho. Quando o guarda foi me empurrar retirei a pistola de suas mãos bem rapidamente e o utilizei para dar dois golpes em sua cabeça, ao imobilizá-lo na parede, coloquei a arma no meio de sua coxa e perguntei a ele:

- Onde fica a sala de operações? - Ele ficou quieto - Não tenho tempo para isso - Dei dois tiros, que o fez se contorcer de dor - Onde? - E novamente permaneceu em silêncio, como estava sem paciência, acabei dando outro tiro - ONDE? 
- No... último... andar... fim do.... corredor - Ele se esforçou e muito para falar.
- Obrigado - Dei o tiro de misericórdia.
- Tiros! Vasculhem esse andar - Parece que alertei outros vaga-lumes.

Ao sair do quarto, fui em direção a uma bancada e recuperei a minha mochila com os meus equipamentos. Com tudo pronto comecei a fazer o meu caminho em direção a Ellie, e para a minha sorte é que os Vaga-lumes não estão utilizando toda a energia no prédio, então, só em alguns pontos específicos que havia algum tipo de iluminação. Mas como estava em um quartel-general dos vaga-lumes, é quase que óbvio que haveria vários deles me perseguindo. Contanto que eu consiga salvar a Ellie, não me importo de matar alguns deles.

Tive de usar tudo que tinha a minha disposição para prosseguir. Então comecei a eliminar alguns furtivamente para subir um andar, depois utilizei o lança-chamas para incinerar outros, e quando a minha munição estava acabando, roubei uma metralhadora de um cara, e utilizei contra eles mesmos. Quando conseguia capturar algum soldado furtivamente, o eliminava com muita brutalidade possível, também utilizei algumas granadas de pregos para acabar com um grupo de uma vez. 

Ao chegar no último andar, vi que eles tinham fortificado o máximo possível da sala de operações, mas isso não me deteve, só me deixou com mais raiva ainda, eles podiam já ter a matado neste instante. Então peguei um rifle e comecei a eliminá-los a distância, e depois de descobrirem a minha localização, criei uma granada de fumaça e o joguei em direção deles. Depois de cegá-los corri em direção a cada soldado, e os eliminei com alguns golpes. Ao finalmente atravessar a porta e chegar no objetivo, peguei um pedaço de cano que tinha encontrado no caminho e o utilizei para obstruir a passagem e impedir que qualquer soldado me atrapalhe.

Quando me virei, enxerguei três pessoas: um cirurgião e outros dois enfermeiros, com algumas ferramentas em suas mãos, prestes a abrir a cabeça de Ellie.

- O que você está fazendo aqui? - Perguntou o cirurgião.
- PARADO! - Apontei a minha pistola para ele.

O cirurgião correu para uma pequena mesa que estava atrás de si, mas quando foi apontar a sua pistola pra mim, eu atirei nele, assim o eliminando. Os outros dois enfermeiros, me xingaram, mas mesmo assim, não me impediram de resgatar a Ellie.

Comecei a retirar todos os aparelhos que estavam conectados no corpo dela, e assim a peguei em meus braços. Depois de pronto, vi inúmeras lanternas na porta por onde passei, e isso fez com que eu buscasse apressadamente algum tipo de saída.

Com a Ellie em meus braços, corri em direção a porta que estava atrás dos enfermeiros, e assim comecei a procurar algum tipo de saída. Percorri por vastas salas, desviei de tiros, e evitei vários guardas. A cada segundo que passava parecia ser uma eternidade, e antes de ser pego pelos soldados, eu finalmente consegui encontrar um elevador. Ao entrar nele, apertei o botão que me levava ao subsolo, e assim que as portas fecharam, senti um enorme alívio por estar inteiro, mas comecei a preparar a minha pistola, e a deixei escondida debaixo das pernas de Ellie, pois se alguém estiver lá embaixo irei morrer lutando.

Quando as portas do elevador se abriram, vi que estava dentro de um estacionamento, então apertei o botão para que deixasse o elevador parado no andar, e comecei a procurar algum tipo de veículo que funcionasse. Mas depois de um tempo, fui surpreendido pela Marlene que me pegou no flagra.

- Não pode salvá-la - Disse Marlene me apontando uma pistola - Mesmo que tire ela daqui, e depois? Quanto tempo até que ela seja despedaçada por um bando de estaladores? Isso se ela não for estuprada e assassinada antes.
- A decisão não é sua.
- É o que ela gostaria. E você sabe disso.

Fiquei em silêncio... Sim, é o que ela gostaria, mas não vou perder outra filha!

- Olha - Marlene começou a erguer a pistola, demonstrando que ela não quer me matar - Você pode fazer a coisa certa aqui. Ela não vai sentir nada. 

Marlene começou a se aproximar devagarzinho de mim, e depois de chegar um pouco mais perto, dei um tiro em seu quadril. Isso fez com que ela perdesse o equilíbrio e caísse no chão. Então comecei a procurar algum carro funcional, e depois de encontrar, coloquei a Ellie deitada no banco de trás e fechei a porta.

Ao me aproximar do corpo rastejante de Marlene, ela tentou fazer um apelo.

- Espera! - Esticou seu braço a mim - Me deixe ir... Por favor.
- Não... Você iria atrás dela - E assim, dei o tiro de misericórdia em Marlene.

Me despedi do corpo de Marlene, entrei no carro, e com a Ellie adormecida no banco de trás, dirigi em direção à Jackson City. Nós viajamos por várias horas, estávamos praticamente na metade do caminho quando ela finalmente acordou. Consegui ver ela se remexendo e finalmente percebeu onde estava.

- Que porra é essa que estou usando? - Perguntou Ellie confusa.
- Vai com calma... Os efeitos das drogas estão passando.
- O que aconteceu?

Respirei fundo, e finalmente consegui falar o que houve.

- Encontramos os Vaga-lumes... Na verdade, tem vários outros que nem você, Ellie. Pessoas que são imunes, dezenas, na verdade. Também não fizeram nada de bom... Na verdade... Eles pararam de buscar uma cura. Vou levar a gente para casa. Me desculpe...

Ao olhar pelo retrovisor, só consegui enxergar a Ellie bem decepcionada, ela virou-se e depois de um certo tempo, só escutei alguns soluços, que provavelmente deveriam ser de choro... Depois de um certo tempo de viagem, paramos em uma loja de conveniência e busquei algumas roupas que ela podia usar, aproveitamos também para caçar algo que possamos comer.

Epílogo 


Depois de mais algumas horas de viagem, finalmente chegamos em Jackson City. Aproveitei também e escondi o carro com alguns galhos bem grossos para fingir que fazia parte da vegetação local e começamos a subir uma montanha que tinha um caminho direto para a casa de Tommy. Ellie estava lá, quieta, passando os dedos em sua cicatriz. Ela só se moveu porque eu tinha chamado a sua atenção, e finalmente começamos a fazer uma trilha.



- Deve ser um tiro direto por aqui - Comentei.

- Tá bom.
- O lugar é bem bonito não acha?
- É.

Fiz uma abertura em um arame farpado do lugar para que a Ellie pudesse passar, e depois que prossegui também, fui guiando ela em direção a cidade.

- Já estou sentindo a idade bater agora. Acho que nunca contei, mas Sarah e eu fazíamos caminhadas assim, ela era boa, e eu tinha de correr para acompanhá-la. Acho que hã... Vocês duas teriam sido belas amigas. Acho que você gostaria dela, eu sei que ela teria gostado de você.

Após subirmos um pouco da montanha, dava para se ter uma boa visão do lar de Tommy. Ao prosseguirmos um pouco, Ellie ficou parada.

- Peraí, espera só um pouquinho - Ela começou a massagear os dedos, e ficou também a andar um pouquinho impaciente, como se estivesse tomando coragem para dizer algo - Lá em Boston... Quando eu fui mordida, eu não estava sozinha... Minha melhor amiga estava lá, e ela também foi mordida. Não sabíamos o que fazer, daí... Então... Ela disse: "Vamos esperar acabar. Na real, podemos ser poéticas e enlouquecer juntas". Ainda estou esperando a minha vez.
- Ellie...
- O nome dela era Riley, e ela foi a primeira a morrer. E depois foi a Tess... E depois foi o Sam...
- Nada disso foi culpa sua.
- Não, você não entende - Ellie começou a remexer a cabeça em estado de negação.
- Tive de lutar e muito para sobreviver. E você - Comecei a tatear o meu relógio - Não importa o que aconteça, você sempre está lutando por algo. Sei que você não quer ouvir isso agora, mas é...
- Promete para mim... Prometa para mim que tudo que você disse sobre os vaga-lumes é verdade - Vi uma lágrima escorrer de seus olhos.
- Eu juro.
- Tá.

Não posso contar a verdade para ela... Nunca...

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